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A educação médica precisa parar de esgotar os alunos. Agora!

A educação médica precisa parar de esgotar os alunos. Agora!
Juliana Karpinski
jun. 3 - 4 min de leitura
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Assumir o desafio de cursar Medicina e voltar para os bancos da faculdade depois dos 30 anos, não é uma tarefa fácil! Minha decisão de mudança de carreira do jornalismo para a medicina levou essa dificuldade em consideração e, mesmo após 18 meses nessa rotina acadêmica, ainda considero minha escolha um acerto.

O que tem me assustado, no entanto, é perceber o quanto esse processo de formação médica é ainda mais difícil para os acadêmicos de 21, 20, 19, 18 ... , e até mesmo 15 anos, com os quais convivo diariamente nas salas de aula da faculdade.

Na busca de ler alguns textos sobre formação médica, encontrei o artigo do Reitor para Assuntos Médicos, da Cornell University, Agostinho MK Choi, sobre a necessidade de reformar o sistema de educação médica, com o objetivo de ajudar os alunos a desenvolver resiliência. Gostaria de trazer algumas informações retiradas desse texto nas próximas linhas.

Ao me referir a educação médica, estou falando de estudantes que passaram nos melhores e mais difíceis vestibulares para a faculdade de medicina e estão acostumados a serem os melhores desde o início da vida escolar. São jovens, filhos, alunos exemplares que, ao entrarem na faculdade, descobrem que estão cercados por colegas que são iguais, ou melhores. 

Não bastasse a decepção de não ser mais o único aluno destaque entre os colegas, a sobrecarga de grade horária do curso, juntamente com a pressão por notas (e principalmente a competição por essas notas) tem levado esses alunos a exaustão de uma forma que nem eles conseguem perceber o quão esgotados estão. Ou pior, há situações em que admitir isso, poderia passar a falsa sensação de inferioridade em relação aos pares. A vulnerabilidade se torna um motivo de vergonha.

Em um estudo de 2014 da Mayo Clinic e da Universidade Stanford, mais da metade de todos os estudantes de medicina dos EUA apresentaram sintomas de depressão e relataram estarem esgotados. O mesmo estudo constatou que os estudantes de medicina eram duas a cinco vezes mais propensos a ter depressão clinicamente significativa do que os graduados com idade semelhante que cursavam outras carreiras.

E como estamos nós, estudantes de medicina brasileiros?

A educação médica está, de alguma forma, transformando jovens inteligentes, talentosos e entusiasmados em estudantes exaustos e infelizes que se tornam médicos em risco pela depressão e esgotamento. É preciso modificar o ambiente de aprendizado para acompanhar o ritmo das novas gerações de estudantes.

 

Precisamos de ajuda - e isso é urgente!

Em seu artigo, Agostinho MK Choi destaca quatro desafios iniciais direcionados às escolas médica americanas, mas que podem servir de referência para as escolas médicas brasileiras:

  1. As escolas médicas devem integrar um amplo suporte de bem-estar e saúde mental ao ambiente de aprendizagem. 
  2. As escolas médicas devem se comprometer a documentar e relatar dados anônimos sobre sofrimento psíquico entre estudantes de medicina. Isso permitirá entender melhor suas causas e extensão e desenvolver novas soluções.
  3. As escolas médicas devem avaliar a mudança para um sistema de classificação de aprovação e reprovação. A pressão competitiva para obter as melhores notas contraria diretamente o estabelecimento de relacionamentos saudáveis ​​entre os pares. 
  4. Os pesquisadores devem realizar estudos para identificar as causas dos problemas de saúde mental entre os estudantes de medicina e traçar vínculos entre estudantes estressados ​​e médicos esgotados. 

Mesmo com os desafios que precisamos superar, Choi continua otimista e considera a geração agora matriculada nas faculdades de Medicina mais disposta do que as gerações anteriores a admitir que enfrentam estresse e buscar ajuda. São jovens mais propensos a ver o burnout como sistêmico do que a se culpar por uma incapacidade de lidar com isso. Por isso, ressalta a necessidade de se adicionar o autocuidado aos currículos formais e informais de educação médica. 

Tenho acompanhado a disposição dessa geração em buscar formas de enfrentar esses desafios, mas precisamos da ajuda daqueles que já passaram por isso e hoje têm a missão de nos guiar na formação médica. Somente se os estudantes de medicina aprenderem a cuidar de si mesmos, eles serão realmente excelentes em cuidar dos outros!

 

Colegas médicos, compartilhem conosco como foi a sua experiência de formação e de que forma podemos melhorar isso para os que estão no começo desse processo. Você pode responder esse texto nos comentários abaixo ou escrever um artigo clicando no botão NOVO POST, no alto da página.


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