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A inteligência artificial como uma nova disciplina em medicina

A inteligência artificial como uma nova disciplina em medicina
Jefferson Kleber Forti
jun. 14 - 6 min de leitura
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As ciências médicas têm evoluído a passos exponenciais nos últimos séculos. Esse desenvolvimento, sustentado em comparações, análises, evidências e números, trouxe para a humanidade recursos que favoreceram o seu progresso.

Há pouco mais de um século, inúmeras pessoas morriam de doenças que hoje são tranquilamente controladas com antibióticos e vacinas. Vieram guerras que dizimaram muitos. Em contra partida, toda a violência foi marco instrumental para as cirurgias aprimorarem-se.

No final da década de noventa, falar em cirurgia vídeo laparoscópica era algo quase surreal, os antigos cirurgiões chegavam a abominar a ideia. Hoje, no entanto, é inconcebível retirar uma vesícula biliar sem esse recurso, guardando evidentemente às exceções.

À beira de uma nova revolução tecnológica, as ciências em saúde, vislumbram novos horizontes que se formam. Isso não deveria ser encarado como a desumanização da medicina, muito pelo contrário. Os recursos que têm surgido, geram novos instrumentos de auxílio, aumentando a segurança e resolutividades frente aos problemas encarados.

A inteligência artificial vem sendo idealizada por inúmeros pensadores desde a antiguidade. Essa semente foi plantada no solo fértil da evolução, pelos filósofos clássicos que buscavam entender como funcionava o processo de aprendizado. Havia nos povos "um desejo antigo de forjar os deuses.", dando a eles poderes descomunais.

Leonardo da Vinci, reverenciado por sua engenhosidade tecnológica, inspirou muitos com seus projetos e ideações de automação. Muita literatura ficcional foi elaborada e em muitas delas vimos a crença negativa se formar. Apontando para um futuro devastado, dominados por máquinas capazes de viajar no tempo com a finalidade de destruir a humanidade. Stephen Hawking afirmou em uma entrevista que "O desenvolvimento da inteligência artificial total poderia significar o fim da raça humana", chegou mesmo a afirmar que essa inteligência superaria a humana em cem anos.

É necessário compreender a inteligência artificial dentro de um contexto evolutivo. Desde a década de cinquenta, vários cientistas vêm descrevendo e buscando algoritmos e modelos que se assemelhem a inteligência humana. Trata-se de uma luta árdua, dado a complexidade dos sistemas neurais, dos processos de aprendizagem, formação do pensamento, reconhecimento de imagens, entre outros. Contudo, essas dificuldades tendem a diminuir conforme novos recursos computacionais vão se aprimorando. Sem contar a imensidão de informações, atuação dos cientistas de dados, engenheiros de computação entre outros profissionais.

Não há dúvidas, de que esse processo é algo irreversível e inevitável.

Nenhuma inteligência artificial irá ser arquitetada, sem o exercício de algum ser humano. A GPT-3 um projeto revolucionário, traz à tona uma outra discussão sobre a inteligência artificial geral. Sem contar novos conceitos de autoprogramação que tomam forma. Algo que para alguns, demoraria ainda muito tempo para ser imaginado, quem dirá executado. Mas, o tempo não parece ser um empecilho para o desenvolvimento, principalmente quanto temos mentes brilhantes, recursos tecnológicos e vontade de superar barreiras. E quem está por trás disso tudo? Humanos, mentes que elaboram, pensam e constroem.

Quando vamos adiante, inúmeras questões surgem e implicações éticas tomam uma dimensão enorme nesse contexto. Sem contar questões legais e de segurança. A grande questão a ser debatida é quem está por trás da máquina. Quem analisa os dados, formata instruções e inicia o aprendizado da máquina. Essa sim é a grande questão.

Retornando a implicações dessa discussão em relação às ciências médicas, percebe-se quão grande é esse horizonte de possibilidades. Nos cursos de medicina a tecnologia vem sendo inserida de uma forma bastante notória.

O estudo digitalizou-se, afastando os alunos do odor do formol. Alguns dirão que isso é prejudicial para a formação, descontextualizando a relação com a morte. Afastando o aluno de uma relação mais próxima com a anatomia, histologia, patologia entre outras disciplinas. Provavelmente isso possa ter algum peso no final. Mas, para uma geração que nasceu empunhando um celular, talvez isso não se configure como uma verdade.

A formação médica é muito mais complexa que tudo isso, existem os fatores humanos que jamais poderão ser esquecidos. O paciente muitas vezes teme entrar em uma ressonância magnética fria e barulhenta. Mas rende-se ao toque de um enfermeiro ou médico, sentindo-se mais seguro.

Essa mesma máquina fria, recebendo modelos de interpretação de imagens, dará ao médico e ao paciente diagnósticos mais precisos. Oferecendo a ambos uma segurança maior. Assim como a análise de lâminas ao microscópio, vídeo cirurgias, nano robôs manipulando proteínas e alterado genes defeituosos. Todas essas imagens, não fazem parte de um filme de ficção científica. Muitas delas são fatos, demandando algum tempo para fazerem parte do cotidiano.

A inteligência artificial aplicada a medicina, deve ser encarada como mais um tomo na vasta biblioteca das ciências humanas. Durante muito tempo acreditou-se que a medicina não é uma ciência exata. De fato, isso pode ter alguma veracidade, afinal o ser humano guarda em si uma complexidade ainda distante de ser compreendida. Contudo, quando entendemos a medicina como uma ciência que é alimentada por dados e observações, compreendemos que ela pode ser mais exata do que se imaginava.

Como nova disciplina, a inteligência artificial, guarda em si uma serie de construções que não podem ser legadas a um segundo plano. Para entender e administrar todo o processo envolvido, é fundamental o envolvimento parcimonioso. Trazendo à tona a compreensão da importância da matemática, da análise de informações, da programação, da engenharia por trás dos dados. Ter consciência ética desses passos, é imprescindível para alicerçar a compreensão de que o médico continuará em seu lugar, usando a máquina com inteligência ampliada, como uma extensão do seu bisturi.

Jefferson Kleber Forti

Cirurgião Vascular

 


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Bibliografia e links úteis

1. McCorduck, Pamela (2004), Machines Who Think, ISBN 1-56881-205-1 2nd ed. , Natick, MA: A. K. Peters, Ltd., OCLC 52197627.

2. https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_da_Vinci

3. https://www.tinbot.com.br/2019/07/historia-da-inteligencia-artificial/

4. https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141202_hawking_inteligencia_pai

5. https://towardsdatascience.com/gpt-3-the-first-artificial-general-intelligence-b8d9b38557a1

6. https://br.blastingnews.com/tecnologia/2017/03/voce-conhece-a-deepcoder-a-inteligencia-artificial-que-se-auto-programa-001546631.html


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