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A neurociência como aliada ao ensino médico

A neurociência como aliada ao ensino médico
Roberta Fittipaldi
jun. 12 - 5 min de leitura
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Dra. Roberta Fittipaldi é médica pneumologista, pesquisadora em ventilação mecânica, que trabalha nas principais UTIs da cidade de São Paulo e é professora da curso Ventilação Mecânica Online na Academia Médica.

Este post é o primeiro de uma série que gostaria de compartilhar com vocês sobre uma das áreas que venho estudando atualmente: o ensino médico. Trazer aqui informações sobre a neurofisiologia do aprendizado, a maneira como se forma e retemos informações e como a ciência pode contribuir para mudanças e inovações no ensino e aprendizado desde a formação até a educação continuada do profissional médico serão o assuntos abordados em nossas próximas discussões.

E, pra começar, quero desafiar você leitor com uma pergunta:

Você consegue lembrar exatamente os conceitos que aprendeu na sua primeira aula de fisiologia?

Se respondeu não, ok. É assim mesmo... Mas por que isso acontece?

Hoje, a neurociência, mais basicamente a neurofisiologia do aprendizado, é uma área que está em constante crescimento com pesquisas voltadas para responder essas e outras perguntas que envolvem o processo de aprendizado, memória e retenção da informação. 

A grande função do processo educacional está em melhorar, aumentar e estimular o aprendizado. Há alguns anos, achava-se que este processo era meramente dependente do meio no qual o aluno estava inserido e como essa informação era transferida para ele. Porém, com a neurociência foi visto que o processo de aprendizado e memorização depende em grande parte de fatores biológicos, biomarcadores cerebrais que estimulariam a formação e manutenção de novas conexões neuronais, em que o resultado final é a incorporação de capacidades cognitivas novas. E o nosso cérebro faz isso desde que nascemos. 

Voltando ao nosso exemplo do início deste post, o que acontece com os circuitos cerebrais que permitem que uma informação adquirida tempos atrás seja esquecida, é simplesmente o desuso dessas conexões neuronais que foram formadas. Em outras palavras, neurônios que "pegam fogo junto, estão ligados juntos". Ou seja, quando uma informação nova é aprendida, milhares de conexões são formadas, e estas conexões juntas comunicam-se e multiplicam-se. Logo, aprender é basicamente formar conexões. Porém caso as conexões não permaneçam "pegando fogo", juntas elas desaparecem. 

Em pesquisa recente realizada pela Harvard University, avaliando a prática de médicos jovens (até 14 anos de formado) e comparando com a prática médica de médicos com mais de 14 anos de formação, foi visto que os mais jovens tinham melhores desempenhos nos diagnósticos e cuidados com seus pacientes do que os médicos mais experientes. Além disso, a experiência do paciente era mais favorável e empática com aqueles mais novos. A conclusão do estudo é que, possivelmente os médicos mais "velhos" tinham maior dificuldade em manter-se atualizados e em estudo constante do que os médicos mais jovens. Logo, as conexões dos mais jovens eram mantidas, enquanto as dos demais, entravam em desuso. 

Dessa forma, muita coisa é explicada quando falamos no aprendizado médico. O grande volume de informações que o estudante de medicina é submetido, ao longo da faculdade, não são mantidas "pegando fogo", em partes pelo ensino médico da forma que é estruturado atualmente, e em parte pelo próprio estudante, que ao se deparar com uma estrutura desinteressante não se mantém motivado para a manutenção e retenção do conhecimento.

Portanto, leitor, aquela frase que nós estamos em constante aprendizado, e que o médico é um eterno estudante, deve ser aplicada para todos os profissionais, de uma forma estruturada e irrestrita. Manter as nossas conexões cerebrais em constate atividade, aprendizado e estimulação para memorização é um desafio não só individua,l mas para nós educadores e formadores de opinião.

Manter o nosso interlocutor curioso, motivado e atento é parte fundamental para construirmos um conhecimento sólido e de longo prazo. Além de que essa motivação levaria ao aluno a busca de mais conhecimento, logo, mais conhecimento, mais conexões. 

A forma como podemos melhorar o processo de aprendizagem e retenção da informação será assunto das nossas próximas discussões.

Até lá.

 

Leia também os outros artigos da série sobre Ensino Médico, publicado pela Dra. Roberta Fittipaldi.

Gostou desse artigo? Conta para a gente o que te motiva!

 


Curso de Ventilação Mecânica Online com Dra. Roberta Fittipaldi

Roberta Fittipaldi é colaboradora da Academia Médica e professora do curso Ventilação Mecânica Online, uma um curso para se manter atualizado e ainda aprender de vez Ventilação Mecânica, com o intuito de melhorar a qualidade e segurança do paciente, intensivo ou não, que necessita de suporte ventilatório. 
É também doutora em Ventilação Mecânica pela FMUSP, especialista em Educação Medica pela Harvard TH Chan e médica das UTIs respiratórias do HIAE e Incor.

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