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A Telemedicina no Infarto Agudo. A comunicação que acelera o acesso à saúde e prolonga a vida.

A Telemedicina no Infarto Agudo. A comunicação que acelera o acesso à saúde e prolonga a vida.
Jamil Cade
abr. 21 - 5 min de leitura
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M.S.J., 65 anos, "freelancer" na construção civil como ajudante de pedreiro, portador de diabetes mellitus e hipertensão arterial não controlada. Desconhecia ser dislipidêmico e era tabagista 30 anos/maço, acordou às 05h da manhã com uma dor torácica em aperto, com irradiação para a mandíbula. Pensou que sua última refeição não tivesse feito adequadamente a digestão, tomou um antiácido efervescente e foi dormir. Mas não conseguiu tamanha a dor. Procurou um serviço de  pronto atendimento (UPA) próximo da sua casa e, ao relatar tais sintomas, estranhou por não ter esperados horas para ser atendido. Em menos de 10 minutos conseguiu fazer um eletrocardiograma (ECG) e então sua vida mudou definitivamente... 

Desde 2014 o programa de Telemedicina no Infarto Agudo do Miocárdio, o Programa LATIN, foi implementado na Zona Leste de São Paulo. O Hospital Santa Marcelina foi o primeiro a ser escolhido para o início dessas atividades em todo o Brasil, após as visitas do Dr Sameer Mehta (Lumen Foundation) e Dr Roberto Botelho (ITMS). Sucintamente, trata-se de um sistema que permite a comunicação do ECG através da rede web entre lugares remotos, muitas vezes sem um médico especializado no atendimento do infarto, para um centro com cardiologistas 24/7 que geram os laudos dos mais de 150.000 traçados até o momento.

Após em média 3,5 minutos, o paciente e o profissional de saúde que atenderam o paciente recebem o resultado e, no caso do infarto agudo com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCST), o paciente é transferido diretamente para o Serviço de Cardiologia Intervencionista, em ambulância UTI com médico e um alerta a equipe de hemodinâmica é realizado. É nesse momento que mais de 75% dos pacientes neste programa recebem a angioplastia primária, que sem dúvidas e extensamente documentado na literatura médica, é o melhor atendimento para o IAMCST, onde a artéria coronária está completamente ocluída. Atualmente cerca de 8 locais (ou SPOKES) da rede pública de saúde, sendo 5 unidades primárias e 3 hospitais terciários sem laboratório de hemodinâmica fazem parte e, juntamente com o Hospital Santa Marcelina (ou Hub) trabalham diuturnamente para levar o melhor atendimento ao paciente da Zona Leste de São Paulo.

A análise preliminar dos primeiros 607 pacientes deste programa mostrou que a telemedicina trouxe um grande benefício à população e também aos gestores do SUS.  Além de aumentar em 48% as internações comparando as AIHs por infarto agudo no triênio antes e após o implante do programa, houve uma maior rapidez no diagnóstico e transferência do paciente, com redução do "tempo porta-balão" de 92 para 58 minutos, pois ao sabermos que há um paciente com IAMCST num Spoke, a equipe de hemodinâmica já se desloca e fica a postos para o procedimento de cinecoronariografia e angioplastia. O impacto não fica apenas neste tempo porta-balão, mas numa redução da mortalidade histórica hospitalar por infarto agudo da zona leste de 40,8% (11,4% para 6,8%, p=0,001). Além disso, considerando que 76% dos pacientes foram para angioplastia primária e, portanto não receberam o tenecteplase (TNK) com um custo de US$ 1.500,00, houve uma economia de U$ 640.000,00 (ou R$ 2.432.000,00) somente em trombolíticos para os primeiros 607 pacientes analisados.

A telemedicina no suporte à decisão médica, na contribuição ao diagnóstico para locais remotos, muitas vezes com dificuldades para a realização de exames, permite o melhor atendimento ao paciente. O impacto em doenças que necessitam de agilidade, assertividade e tratamento rápido, sem dúvidas irá reduzir a mortalidade, principalmente em locais que mais necessitam desse serviço. No caso da Telemedicina no Infarto Agudo no Hospital Santa Marcelina, graças ao apoio constante dos gestores hospitalares, com visão nos avanços tecnológicos e, da equipe multidisciplinar no laboratório de hemodinâmica, com as habilidades técnicas neste tipo de paciente, os resultados são muito satisfatórios e recompensadores, levando o hospital ao "status de benchmark" global do LATIN, pois o mesmo programa também ocorre no México, Colômbia, Venezuela, Argentina e Índia. 

E para a nossa alegria e gratidão, o nosso paciente acima foi um dos 850 pacientes tratados e salvos por esse programa!

Não deixe de conferir algumas das publicações do grupo envolvido:

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Crédito da imagem Jamil Cade em www.jamilcadephotos.com


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