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Alergia às proteínas do leite de vaca associada a asma brônquica

Bárbara Figueiredo
mar. 17 - 7 min de leitura
020

A asma é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por hiperresponsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo aéreo, reversível espontaneamente ou com tratamento, enquanto a atopia é a resposta positiva a alérgenos ambientais comuns, medida por meio de testes alérgicos cutâneos, ou por níveis séricos de imunoglobulina E (IgE) específico a alérgenos [3,5].

Recentemente, fatores dietéticos foram associados ao aumento da prevalência de asma e atopia. Dentre estes, destacam-se o impacto do aleitamento materno, a dieta, e o estado nutricional. No entanto, para muitas das associações entre diferentes aspectos de dieta, com asma e atopia, a compreensão é ainda limitada pela carência de evidências de uma relação causa-efeito. Isto ocorre pela dificuldade em se determinar o efeito longitudinal da dieta, especialmente quanto a seu impacto na incidência e na severidade da doença [2, 3, 5].

Diversos fatores de risco têm sido apontados na tentativa de justificar os diferentes níveis de prevalências de asma e de doenças alérgicas entre diferentes países e em um mesmo país. Fatores ambientais como a sensibilização a alérgenos na infância, assim como agressões virais, bacterianas e parasitárias parecem ter forte influência na fisiopatogenia da asma e da atopia16-19. Um dos fatores que vem despertando interesse como possível variável de risco para asma e enfermidades alérgicas é o que está relacionado a aspectos de nutrição, especialmente nos primeiros anos de vida. [4].

Sintomas de alergia a laticínios

Uma alergia a laticínios pode causar reações respiratórias, estomacais e cutâneas. Alguns destes são semelhantes aos sintomas da asma e incluem:

  • chiado
  • tosse
  • falta de ar
  • inchaço dos lábios, língua ou garganta
  • comichão ou formigamento nos lábios ou na boca
  • coriza
  • olhos marejados

Leite e muco

Uma razão pela qual os laticínios podem estar ligados à asma é porque acredita-se que causa mais muco no seu corpo. Pessoas com asma podem ter muito muco nos pulmões. O Conselho Nacional de Asma da Austrália destaca que o leite e os laticínios não fazem com que isso aconteça. Em algumas pessoas com alergia ou sensibilidade a laticínios, o leite pode engrossar a saliva na boca.

Quais são as evidências?

Alguns estudos das últimas décadas constataram que crianças que consumiram leite de vaca antes dos 4 meses de vida, portanto, rompendo o ciclo da amamentação materna exclusiva, apresentavam três vezes mais chance de ter asma aos 4 anos, independentemente de outros fatores de risco reconhecidamente associados à asma. No Brasil, existem evidências de que a alimentação nos 2 primeiros anos de vida da criança tem predominância láctea, com leite de vaca em pó ou líquido, acrescida de farináceos e açúcar, e que a oferta desse alimento acontece com frequência antes dos 6 meses de vida [1, 2, 5].

Podemos concluir, baseados nos resultados encontrados, que um maior grau de sensibilização alergênica ao leite, traduzido por reatividade cutânea às três fracções proteicas, poderá fazer prever uma alergia a proteína do leite de vaca (APLV) de remissão mais tardia. A APLV com duração superior a 24 meses relaciona-se com um risco particularmente elevado de evolução para asma brônquica, podendo ser um fator de risco para asma independente da sensibilização a aeroalérgenos [5, 6].

Será necessário ampliar a amostra dos estudos para poder afirmar com maior segurança a existência ou não de diferenças entre os grupos, bem como em relação à população geral, no que diz respeito a outras doenças alérgicas. A APLV, de maior ou menor duração, entidade cada vez mais frequente na nossa prática clínica, associa-se a uma prevalência importante de asma e a uma elevada taxa de sensibilização a outros alérgenos [6]. 

Pelo fato da asma crônica dificilmente ser exclusivamente desencadeada pela alergia alimentar, deve-se evitar a restrição dietética em crianças com asma mal controlada, sem outros sintomas, ainda que haja testes positivos para IgE específica. É válido lembrar que, em especial nas crianças atópicas, a sensibilização a alimentos pode ser observada através da presença de pápulas nos testes cutâneos ou positividade dos testes séricos, sem que isso signifique necessariamente reatividade clínica [6]. 

Nos casos suspeitos, deve-se sempre prosseguir a investigação com testes de provocação oral, se possível duplo-cegos e controlados por placebo. Muitos pacientes associam a ingestão de leite de vaca ou seus derivados com o aumento na produção e espessamento das secreções nasais [1, 5]. 

Portanto, não está comprovado cientificamente que o leite de vaca desencadeie crises de asma. A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) explica que a alergia ao leite de vaca é uma doença de múltiplos espectros clínicos, mas não há evidências de que a asma, como sintoma isolado, seja uma das formas de manifestação.

“A exclusão de qualquer alimento como forma de prevenção é prática completamente contraindicada sob qualquer premissa, acarretando inclusive riscos de reações alérgicas graves no momento de sua reintrodução”, alerta Dra. Renata Cocco, Coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da ASBAI.

 

Referências:

[1] HORTA, Bernardo L. et al . Amamentação e padrões alimentares em crianças de duas coortes de base populacional no Sul do Brasil: tendências e diferenciais. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 12, supl. 1, p. S43-S48,  1996. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1996000500007&lng=en&nrm=iso>. access on  05  Mar.  2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X1996000500007.

[2] DEWEY, KG; HEINIG, MJ; NOMMSEN, LA & LÖNNERDAL, B., 1990. Padrões de crescimento de bebês amamentados durante o primeiro ano de vida: The DARLING study. In: Amamentação, Nutrição, Infecção e Crescimento Infantil em Países Desenvolvidos e Emergentes (SA Atkinson, LA Hanson & RK Chandra, eds.), Pp. 269-282, St. John's: ARTS.  

[3] SCHNEIDER, Aline Petter; STEIN, Renato Tetelbom; FRITSCHER, Carlos Cezar. O papel do aleitamento materno, da dieta e do estado nutricional no desenvolvimento de asma e atopia. J. bras. pneumol.,  São Paulo ,  v. 33, n. 4, p. 454-462,  Aug.  2007 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132007000400016&lng=en&nrm=iso>. access on  05  Mar.  2021.  https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000400016.

[4] STRASSBURGER, Simone Z. et al . Erro alimentar nos primeiros meses de vida e sua associação com asma e atopia em pré-escolares. J. Pediatr. (Rio J.),  Porto Alegre ,  v. 86, n. 5, p. 391-399,  Oct.  2010 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572010000500007&lng=en&nrm=iso>. access on  05  Mar.  2021.  https://doi.org/10.1590/S0021-75572010000500007.

[5] NEJAR, Fabíola Figueiredo et al . Padrões de aleitamento materno e adequação energética. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro ,  v. 20, n. 1, p. 64-71,  Feb.  2004 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2004000100020&lng=en&nrm=iso>. access on  05  Mar.  2021.  https://doi.org/10.1590/S0102-311X2004000100020.

[6] COCCO, Renata. Alimentos e asma. Gazeta Médica da Bahia, São Paulo, SP, v. 78, n. 2 p. 114-116, jul. 2008. 

 

 


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