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Como a epidemiologia moldou a pandemia da COVID-19

Como a epidemiologia moldou a pandemia da COVID-19
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jan. 29 - 6 min de leitura
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A epidemiologia é essencial para o combate a qualquer doença. O estudo de como as doenças se propagam, e porquê, tem se destacado na luta para compreender, conter e responder à COVID-19. Análises de dados sobre infecções e mortes, e projeções de estudos que modelam a disseminação do vírus, têm conduzido decisões políticas em todo o mundo. Muitos deles, como o lockdown de países, a imposição de quarentenas e o distanciamento social obrigatório e o uso de máscaras, são agora comuns.

O papel inicial da Epidemiologia

Já faz mais de um ano desde que começaram a surgir relatórios de um coronavírus até então desconhecido causando sintomas semelhantes aos da pneumonia. Em 5 de janeiro de 2020, foi relatado que o vírus infectou 59 pessoas na cidade de Wuhan, na província chinesa de Hubei; 7 estavam em estado crítico. Em 20 de janeiro, as autoridades chinesas haviam relatado mais de 200 infecções e 3 mortes.

Inicialmente, pouco se sabia sobre a transmissibilidade do vírus, mas isso mudou rapidamente. Em meados de janeiro, os epidemiologistas começaram a relatar os resultados dos estudos de modelagem, que indicavam que o número de casos provavelmente seria muito maior do que o inicialmente documentado.

Nessas primeiras semanas, os pesquisadores trabalharam com dados limitados dos pacientes. No entanto, à medida que mais dados se tornavam disponíveis, os epidemiologistas puderam confirmar que o vírus poderia ser transmitido por pessoas sem sintomas e que tinha alto potencial pandêmico.

Tomados em conjunto, esses estudos ajudaram a alertar muitos governos para o fato de que a situação poderia ser muito mais grave do que eles haviam previsto. Os resultados sugeriam que os hospitais em todo o mundo precisam se preparar para um alto número de internações em terapia intensiva.

No final de janeiro, a Organização Mundial da Saúde declarou uma Emergência de Saúde Pública, que incluía aconselhamento aos países sobre a implementação de medidas de saúde pública, incluindo testes e isolamento de pessoas infectadas e rastreamento e quarentena de seus contatos. Esses movimentos foram baseados, em parte, em pesquisas feitas por epidemiologistas após surtos anteriores de doenças infecciosas. Mas poucos países seguiram esse conselho.

Lockdowns e máscaras

À medida que o número de casos começou a disparar, as opções dos países para reduzir infecções e mortes eram muito limitadas. Era difícil saber quais regimes de medicamentos poderiam ajudar a combater a doença e não havia vacinas. Na ausência de tais ferramentas, os pesquisadores começaram a modelar a eficácia das chamadas intervenções não farmacêuticas. Seus modelos sugeriram que infecções e mortes poderiam ser reduzidas se as pessoas usassem máscaras e mantivessem um certo grau de distância umas das outras, e se mais pessoas ficassem em casa.

Embora o uso de máscara seja conhecido por ajudar a combater a disseminação de muitas doenças respiratórias infecciosas, a falta de testes controlados e dados diretos significava que mais tempo seria necessário antes que os pesquisadores pudessem estabelecer a eficácia da medida contra o novo coronavírus. Mas, no verão de 2020, uma série de estudos descobriram que as máscaras contribuem para desacelerar a disseminação do novo coronavírus.

Novas incertezas

Como o vírus continua a aumentar em grande parte do mundo, novas variantes surgiram e estão gerando novas questões para os epidemiologistas. Os pesquisadores dizem que essas variantes mais recentes, como B.1.1.7 (também conhecido como VOC 202012/01), identificado pela primeira vez no Reino Unido, são mais transmissíveis e potencialmente mais graves do que as linhagens anteriores do vírus. Essas descobertas têm implicações para as intervenções políticas baseadas em dados anteriores sobre transmissão. Os epidemiologistas precisarão reavaliar, com base em dados mais recentes, se as diretrizes sobre intervenções como o distanciamento social precisam ser revistas e tornadas mais rigorosas para dar conta das diferentes maneiras como as novas variantes se comportam.

Outro novo desafio para os epidemiologistas é medir como as vacinas que estão sendo lançadas em todo o mundo afetam a propagação do vírus. Os países onde as implementações já começaram podem em breve estar procurando relaxar as restrições, especialmente se os casos e mortes caírem para os níveis vistos antes do início da segunda onda. Mas eles não devem fazer isso antes que os epidemiologistas tenham estabelecido até que ponto as vacinas estão contribuindo para o aumento da imunidade e até que ponto a queda nos casos é resultado dos efeitos das restrições.

Epidemiologia está mudando

A pandemia mudou a epidemiologia. Tal como acontece com muitas áreas que estão diretamente envolvidas no estudo da COVID-19, os epidemiologistas estão colaborando além das fronteiras e fusos horários. Eles estão compartilhando seus dados usando plataformas online - os servidores de preprints estão dando aos cientistas acesso antecipado aos resultados - e os periódicos estão publicando em um ritmo mais rápido.

A própria epidemiologia está se expandindo, com o envolvimento de pesquisadores de outras áreas, como física, matemática, informática e ciências de dados, que vêm contribuindo com suas ideias e conhecimentos. O governo dos Estados Unidos anunciou que estabelecerá um Centro Nacional de Previsão de Epidemias e Análise de Surtos. Esperamos que este seja o equivalente epidemiológico de um escritório meteorológico central, um órgão independente que fornece previsões usando poder computacional avançado e os melhores dados disponíveis. Outros países devem considerar fazer o mesmo.

Com muito mais pesquisadores ingressando no campo de diferentes disciplinas - e mais pessoas usando dados epidemiológicos, incluindo o público, os legisladores e a mídia - os pesquisadores devem encontrar maneiras de garantir que seus dados e descobertas sejam comunicados de forma transparente e para garantir os mais altos padrões de pesquisa e ética de dados.

 


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Texto elaborado e traduzido por Diego Arthur Castro Cabral.


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