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Médicos pelo Brasil - uma vitória corporativa em benefício da sociedade

Médicos pelo Brasil - uma vitória corporativa em benefício da sociedade
Fernando Carbonieri
ago. 2 - 8 min de leitura
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*a charge acima demonstra que mesmo com a união de muitas pessoas que pensam no bem comum, sempre há a possibilidade de envolvermos lobos em pele de cordeiro nas nossas conquistas


6 anos

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Uma geração inteira de novos médicos foi formada nesse período. Era julho de 2013 quando o principal golpe eleitoreiro do Governo Dilma foi desferido. Mês da minha formatura, mês em que entrava para a vida profissional.

A Lei 12.871 de 2013 surgiu como um raio em resposta aos levantes populares sem partido iniciados um ano antes. 20 centavos que custaram muito mais que o envio de quase 6 bilhões a Cuba pela compra de sua principal commoditie. 

A Lei dos Mais Médicos era dotada de uma cortina de fumaça humanitária que conclamava a interiorização de alguém de jaleco branco para atender nos "rincões do país" (jargão político da época para áreas hostis/adversas para pessoas que desejam desenvolver intelectualmente, socialmente, civilizadamente a si e aos seus amados familiares), como a presença do populismo estadista tapa buracos, distribuidor de dentaduras, característico da cultura política brasileira.

Obviamente que levar um médico para o interior em um país do tamanho do Brasil, com as diferenças sociais e culturais, é uma tarefa difícil. Eu quase respeito o PT e o Alexandre Padilha por encarar o tema e por tentar resolver a questão. Quase. 

Quem viveu a discussão a fundo nessa época lembra exatamente como foi o rolo compressor que achatou toda a discussão que envolvia o tema. Vale lembrar que a PEC 454/2009 de Ronaldo Caiado, visava a criação da carreira do médico de estado aos moldes do judiciário. Desde então isso virou um sonho da classe médica.

A Carreira de Estado transformou-se em um dos únicos meios aceitos por profissionais médicos brasileiros para abster-se da vida nas grandes cidades por alguns anos e ter a possibilidade de fixar-se na região longínqua ou poder ser transferido para outra unidade com mais "estrutura" para o crescimento pessoal/familiar. 

Esse caminho foi deturpado pela resposta de Dilma e Padilha ao levante popular de 2012. 20 centavos os fizeram rasgar a cidadania dos profissionais brasileiros que acabaram por serem julgados pela população (com o aval público da Presidente da República) como desumanos. A mesma parte da população que enaltecia a falta de humanismo dos médicos era a que também se comportava como fanática defensora do tráfico pessoas em regime de semi escravidão, sem direitos a liberdade, constituição de família, ou ainda, produto de chantagem e retenção de familiares no cativeiro tropical da família castro. Muitos dos defensores simplesmente desconhecem esse fato ou o apagam de suas razões.

Saindo um pouco da esfera de tráfico de pessoas, vale lembrar as negociatas que multiplicaram o número de escolas de medicina no Brasil. A Lei dos Mais Médicos proporcionou a abertura de instituições sem a mínima capacidade de ensinar medicina aos seus ingressantes. Sem hospital, muitas sem nem estrutura adequada para as cadeiras básicas, sem corpo docente, ou sem a complexidade necessária para dar a vivência prática ao aluno. Mais ainda, levou a criação de inúmeras escolas nos países de fronteira com o Brasil, pois criou no imaginário de muitos que bastaria ir para fora, fazer medicina a 1/6 do preço e voltar sem a necessidade de validação de diplomas para ganhar os 10 mil reais prometidos pelo programa exercendo a tão sonhada profissão.

Resumindo: médicos brasileiros atordoados, aspirantes a médicos no Brasil iludidos; pessoas importadas tendo que voltar ao país de origem, 2000 pessoas foragidas de Cuba pedindo asilo aqui no país; inchaço para 33 mil vagas de 1º ano nos cursos de medicina brasileiros; mais de 120 mil brasileiros fazendo medicina no exterior; demissão de médicos em pequenas cidades para o aceite do "médico federal"; 18 mil contratos para trabalhar nos rincões com o status de especialização e bolsa formação; uma política de governo criada para manipular a opinião pública e ganhar eleições.

Mas um excelente ponto que os idealizadores jamais imaginavam. O Programa Mais Médicos foi fundamental para o estabelecimento de uma grande força para a classe médica brasileira.

Sim, éramos alienados politicamente, não exercíamos nosso civismo, estávamos extremamente seguros da potencia financeira que era ser formado em medicina. Junto com o vil ataque dos governos anteriores à medicina nacional, também experimentamos uma mudança de cultura, a tecnologia mudou a forma que consumíamos o mundo, como falamos e nos conectamos com as pessoas, pacientes e com o conhecimento. Mudou como os pacientes entendem o mundo e os seus desejos e expectativas frente ao médico ou qualquer outro profissional antes com conhecimento inatingível. O mundo está presente no bolso de todos, a todo tempo, em qualquer rede social, navegador ou veículo que rode em seu smartphone.

O Mais Médicos em conjunto com a mudança dos tempos para um mundo 4.0 contribuiu significativamente para a criação de uma possível unidade da medicina. Ficamos mais unidos. Fomos golpeados, nos levantamos, nos rearranjamos, resistimos aos colegas médicos que se comportam como lobos da classe, no unimos para começar a pensar a medicina como uma Política de Estado novamente, que respeita a constituição que versa que Saúde é um direito de todos e um DEVER do Estado.

Estou na Comissão de integração do médico jovem do CFM desde dezembro de 2014. De lá pude ver os trabalhos para que a conquista do dia 01/08/2019 pudesse acontecer. 

CFM, AMB, Sindicatos Médicos, ANMR e diversas outras entidades vieram trabalhando por muito tempo, em apoio à voz da medicina no legislativo. Precisávamos criar um caminho estruturador de uma carreira médica federal. Com CLT, 13º salário, férias e progressão de carreira. Se era sabido que um sistema público só funciona com a formação de médicos de família e a garantia de segurança para o exercício da profissão.

Uma vitória corporativa, sim. Causada pelo vil ataque a uma, então desunida, classe profissional que se manteve tomando golpes por anos (algo que não deverá mudar porque o tempo muda as pessoas), mas que pode, com paciência, resiliência e muita estratégia, buscar o caminho da negociação para que o programa "Médicos pelo Brasil" fosse uma realidade. Ainda temos duros caminhos pela frente. Até virar uma política de Estado, tal programa sera atacado das mais diversas formas (nem sabemos ainda se ele passará pelo legislativo).

Depois de muitos anos, uma bela vitória. Parabéns aos Conselheiros Federais de Medicina Carlos Vital Tavares Correa,  Mauro Luiz de Britto, José Hiran Gallo, Leonardo Sérvio Luz, Donizetti Giamberardino e Rosilane Rocha, conselheiros que convivi esse tempo no CFM e que realmente trabalharam para esse feito. Cumprimento também a todos os outros conselheiros federais, principalmente o saudoso José Vinagre, ex corregedor da autarquia, que infelizmente já não está entre nós para ver esse sonho transformado em realidade. Agradeço ao Ministro e colega Médico Luis Henrique Mandetta que liderou todo esse caminho para poder apresentar esse projeto. Parabenizo também o amigo Hélio Angotti Neto, oftalmologista e bioeticista, que encarou o desafio e foi compor o ministério da saúde junto com tantos outros colegas escalados para esse feito.

Vamos em frente. As mudanças na medicina serão muitas ainda. Os interesses na profissão são os mais variados e a medicina com certeza irá mudar pelos novos tempos. Só espero que as mudanças não sejam politiqueiras ou populistas como no passado. De forma unida e, com o consideração ao civismo e direitos individuais, vamos vencer outras pautas como classe, pautada na ética e na defesa da saúde da população brasileira. 

 


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