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O médico também tem necessidades biopsicossociais. Chega de pensar o contrário.

O médico também tem necessidades biopsicossociais. Chega de pensar o contrário.
Fernando Carbonieri
jun. 8 - 5 min de leitura
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Nota do editor: texto publicado originalmente em: 14 de maio de 2019.

O sacerdócio sempre foi visto como motor do médico. Ter a capacidade de ajudar as pessoas nos seus momentos de maior desespero, incertezas e miséria pessoal, sempre foi e sempre será a atividade do médico. O alarde da visão de que o médico deve se doar integralmente para a profissão, entretanto, pode gerar uma péssima qualidade de vida ao profissional que sabe muito bem promover uma melhor qualidade de vida para as pessoas. 

A saúde dos profissionais do cuidado é um problema sério no mundo inteiro, não apenas aqui no Brasil. Os níveis de burnout nos profissionais que assistem os doentes é altíssimo. Na medicina é ainda pior (médicos têm índice de suicídio até 4x maiores que os restantes dos profissionais) e isso tem que ser mudado. Não se pode esperar que um profissional doente, desenvolva o melhor de sua capacidade junto ao seu cliente. 

Pensando nisso, a Comissão de Integração do Médico Jovem do Conselho Federal de Medicina, da qual fiz parte, montou o 4º Fórum do CFM no intuito de apresentar os problemas que os médicos jovens (10 anos de formado ou até 40 anos de idade) enfrentam no estabelecimento de suas carreiras e da construção de sua realização profissional e pessoal. 

O fórum foi inovador como discutiu os seguintes temas:

  • A saúde mental do médico jovem
  • O médico como empreendedor 
  • A relação do médico com as novas tecnologias 
  • A carreira médica 

A metodologia utilizada foi mista. Pela manhã do primeiro dia foram dadas as palestras de médicos especialistas nos temas propostos. Representantes de todo o Brasil assistiram as palestras que embasaram a prototipação de serviços que podem facilitar a vida do médico. A metodologia do design de serviço foi utilizada para que os participantes co-criassem suas soluções embasadas no que foi exposto.

Ao incluir todos os participantes na criação de novas soluções para a vida do profissional médico, pudemos notar um engajamento bastante grande dos mais de 300 participantes do Fórum.

Ao término, redigimos a Carta de Teresina, um marco para o médico brasileiro, que deve ser visto como um profissional, dotado de direitos civis, sociais e trabalhista e que tem necessidades de realização pessoal, científicas, biológicas, que influenciam diretamente na sua saúde.

Confira na íntegra a Carta de Teresina 

CARTA DE TERESINA

O IV Fórum de Integração do médico Jovem, realizado em Teresina, no estado do Piauí, nos dias 8 e 9 de maio de 2019, reuniu mais de 300 pessoas, entre elas médicos e futuros médicos de todo o país, que buscam discutir os caminhos e desafios na jornada de integração e vivência do médico jovem.

Considerando o crescente número de egressos das faculdades de medicina; a expectativa de acrescentar anualmente 35 mil novos médicos aos mais de 450 mil já atuantes no país; a negligência e omissão governamental sobre padrões mínimos formativos; e a percepção distorcida da sociedade civil que muitas vezes não reconhece o médico como dotado de  mínimos direitos civis e trabalhistas, acarretam em adoecimento de muitos colegas médicos.

A epidemiologia dos problemas decorrentes desse cenário demonstra uma maior taxa de adoecimento do médico quanto a transtornos mentais/depressivos maior que os demais trabalhadores. Frente a isso, é fundamental que o médico tenha condições para buscar uma vida plena, com vigilância e autocuidado frente à qualidade vida, atividade física, interação social, alimentação e sono saudável, manuseio do estresse e uma rede de apoio. Vale lembrar que em situação de vulnerabilidade, qualquer profissional limita a sua capacidade de exercer a sua função social.

Durante o fórum também foi discutida a necessidade de ter o médico como um empreendedor, capaz de criar tecnologia e ferramentas que influenciam o exercício da medicina e proporcionam melhores condições de acesso à saúde, prevenção, qualidade de vida individual e coletiva. Para tanto, devem ser estimuladas as iniciativas que levem conhecimentos complementares, como: gestão de pessoas, contratos, finanças, gerenciamento e produtividade, que permitirão ao médico condições de ter maior realização de vida profissional, científica e pessoal.

O IV Fórum do Médico Jovem reitera a necessidade de criação de Comissões de Integração dos médicos jovens em todos os 27 Conselhos Regionais Medicina do País, para que estas questões sejam também discutidas e resolvidas em âmbito regional.

Teresina, 9 de maio de 2019



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