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O Vírus

O Vírus
Crônicas de Anestesia
abr. 7 - 5 min de leitura
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O que é um vírus afinal? É um ser vivo? Onde ele fica na grande escala da vida e da matéria. O vírus é milhares de vezes menor que uma célula. De onde vieram os vírus? Em que momento na história deste planeta ele se fez presente? Um vírus quase sempre levanta mais dúvidas do que certezas. O vírus é um ponto de interrogação! O vírus nos faz refletir. De tempos em tempos surge um vírus que bagunça tudo. Que mete medo. O vírus e sua ubiquidade perturbadora.

Foi assim com a gripe espanhola. Varíola. Sarampo. HIV. SARS. Agora é a vez do Covid-19. 

Quem é você Coronavírus?

Onde você se enquadra nesta grande entropia? Uma entidade composta basicamente de material genético(RNA) e uma cápsula. Pronto, aí está! Nada mais simples e elementar, porém perigoso. O vírus não se multiplica sozinho. Ele se utiliza do aparato da célula para poder replicar. Replicar o quê? Mais vírus! Com isso a célula morre. Ele nasce da morte. O vírus é um zumbi.

Essa ânsia de replicação existe em todas as escalas da vida desde que ela surgiu naquela sopa proteica lá do começo, milhões de anos atrás. Essa ânsia existe no vírus. Esse manifesto rebelde e destruidor. Essa sanha devastadora que avança bastando uma célula indefesa. Depois outra e outra e outra e a guerra se instala. Agora já são milhares de vírus, milhares de cápsulas envolvendo um RNA primitivo. Um minicérebro sem comando e sem controle. Um exército varrendo a costa, pondo fogo em tudo.

O vírus não se satisfaz. O vírus pula de um indivíduo para outro da espécie que ele está parasitando, na velocidade de um espirro. Pequenas condições o fazem avançar sobre mucosas desprotegidas. Atchim! Saúde! 

Saúde? Sistemas imunológicos em polvorosa. Inflamação, descamação, disfunção de órgãos e a morte. A morte seria a grande vitória do vírus mas não é o caso na verdade. Células mortas não lhe servem e ele morre também. Será que morre? O vírus é um kamikaze. Ele não tem nada a perder. O vírus é o Coringa caótico que explode o hospital e sai correndo. Ele não faz o que faz por dinheiro. Ele faz por entropia(essa palavra de novo). Ele é uma singularidade irritante. Ele muda também. Ele sofre mutação, uns mais do que outros. Então parece que há uma inteligência aí, enroscada nesses nucleotídeos sinistros. Um sorriso malévolo sem face.

Ele é sensível. Todo vilão é. Há um ponto fraco ali. O álcool, o sabão e a água. Isso acaba com o vírus. As superfícies inertes sem células o levam também ao colapso. As barreiras, as máscaras e os aventais protegendo as portas de entrada. Nariz e boca e olhos. O vírus não as alcança mais. Ele fica ali retido, inerte. Ele não se move, ele espera. Alguns vírus na natureza estão sob a forma de cristais. Ele não morre então ele não vive? Mais perguntas. Ele é o elo perdido. Ele deve estar em bilhões de lugares no universo. Iluminado por bilhões de sóis ele apenas espera.

Neste grande ciclo da vida o vírus não pode ser ignorado. Ele é o não manifestado como ensina o Taoísmo. O inverso da vida. Como se as células possuíssem um lado avesso. É lá que ele está esperando.

A ciência sempre lutou contra os vírus. As vacinas são uma arma certeira. As vacinas não são a cura, elas são os treinadores. Elas preparam o sistema imune para não entrar em parafuso. As vacinas despertam o nosso melhor, literalmente. Elas não dão o peixe, elas ensinam a pescar. A palavra vacina vem de “vaca”, para os vírus “vaca profana”. (Rindo) As vacinas atrapalham tudo. São a bomba de nêutrons que devasta a cidadela dos vírus. Sem misericórdia. 

Nosso sistema planetário neste momento chacoalhado por uma entidade quase molecular. Caos, quarentena, bolsas derretendo. Os interesses, a política, o dinheiro, as pessoas. Ventiladores mecânicos, drogas, tubos, máscaras e capuzes. O vírus já viu tudo isso. Mortes e medo. Dor e ansiedade. Essa sopa caótica quase como aquela sopa primordial da infância da Terra. Aquela energia que estava lá está aqui agora também. É o que move o vírus, de novo e de novo. 

Nossa escala evolutiva sempre foi assim. O desconforto é o móvel da evolução. Ficaremos mais fortes do jamais fomos.

A calmaria retornará. 

Até que tudo se repita e recomece.

Assim é a vida e o vírus assim sempre foi.

 


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