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Por mais mulheres na ciência

Por mais mulheres na ciência
Elisa Brietzke
mar. 8 - 3 min de leitura
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As mulheres são maioria nas universidades brasileiras, produzem pesquisas importantes, mas ainda sofrem para ter seus trabalhos reconhecidos. A falta de modelos de mulheres em posições de liderança, de incentivo para a independência intelectual e mesmo as situações de abuso moral e sexual fazem com que elas se afastem do competitivo ambiente acadêmico. E, quando decidem permanecer, esses fatores forçam as cientistas a se conformarem com algumas situações com cargos de menor destaque e longe de posições de liderança.

Há também aquelas que optam por serem mães e enfrentam a falta de uma licença maternidade remunerada nas bolsas de mestrado e doutorado, a indiferença das agências de fomento à pesquisa a possíveis quedas de produtividade no período da gravidez e do pós-parto e a inegável falta de apoio das universidades e centros de pesquisa.

Não é difícil encontrar histórias quase surreais de cientistas tentando sobreviver e minimante cuidar da sua prole no ambiente espartano de laboratórios e bibliotecas. Pesquisadoras que amamentaram bebês nos cantos do laboratório, nos trabalhos de campo, nos banheiros das faculdades. Muitas trabalham fora das suas cidades ou países de origem, em busca de maior desenvolvimento intelectual, o que reduz a chance de contar com um suporte familiar. São pesquisadoras que aproveitam o soninho do bebê para responder e-mails ou escrever artigos, mas que são capazes de desmaiar de exaustão no intervalo entre experimentos pela privação do próprio sono.

Quando um projeto não vai bem, sentem-se culpadas (e são culpabilizadas) por não terem “empenho” suficiente. Quando um projeto vai bem, perguntam-lhes como conciliam marido, casa e filhos, com a carreira bem-sucedida na ciência – pergunta jamais feita a um cientista homem. Invariavelmente lutamos contra estereótipos. Se precisamos sair mais cedo para levar o filho ao pediatra, somos “a que decidiu ser mãe e desinvestiu da carreira”. Se somos assertivas, nos chamam de “a durona agressiva”. Se não seguimos o padrão estético socialmente imposto somos “a hippie desleixada”. O resumo de tudo isso é que, aparentemente, a ciência não é feminina, e faltam às mulheres em geral, as características necessárias para serem boas cientistas.

Para piorar, enfrentamos diariamente, e de forma muito concreta, o machismo na academia. As desigualdades de gênero na carreira científica nas universidades brasileiras são acompanhadas de diferenças nas oportunidades, no espaço físico, nos prêmios, nos recursos financeiros e nas respostas às ofertas que venham de fora da universidade para cientistas homens e mulheres.

Garantir e apoiar a participação feminina nas carreiras acadêmicas não é só uma questão de direitos das mulheres. A silenciosa invalidação do capital intelectual feminino tira da sociedade a chance de ter seus grandes desafios pensados e tratados de forma mais diversa. A ciência precisa das mulheres. Só falta a academia entender isso.

 


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