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"Pós" X "Residência" uma nova briga de uma antiga questão

"Pós" X "Residência" uma nova briga de uma antiga questão
Henri Hajime Sato
jul. 2 - 9 min de leitura
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Um dos assuntos mais espinhosos da educação médica atual é a briga entre pós e residência médica. 

Para inicio de conversa não irei discutir qual é a melhor e qual é a pior. No meu ponto de vista em educação não existe "boa ou má educação" e sim uma educação adequada ou não às necessidades da população e de quem a faz.

O médico John Bowlby e o Senhor Miyagi de karate kid ja diziam isso.

O conceito de residência médica surgiu com a necessidade do médico de se especializar à medida em que o conhecimento médico geral da faculdade tornou-se insuficiente para o mercado de trabalho.

Junto disso a educação médica começou a ser massificada para atender demandas populacionais e políticas.

E como as faculdades não evoluíram a ponto de oferecer médicos adequados para a população e houve uma certa falha de nossos representantes, a sociedade médica começou a focar na especialização/residência.

Tanto que o Brasil tem muitas faculdades de medicina e existe relação candidato/vaga de especialidade em concurso de residência que é mais concorrido que vestibular de medicina da USP(que até a unificação do ENEM era um dos vestibulares mais concorridos do país).

Para entender a diferença de pós e residência temos que entender os conceitos.

Residência médica pela lei é uma modalidade de pós-graduação geralmente com tempo maior exigido pelo MEC para uma pós e  tem reconhecimento direto do conselho federal de medicina e das sociedades de especialidades.

Ou seja, ao término o residente tem uma segurança jurídica com endosso de autarquia(no caso o CFM/CRM e Sociedade de Especialidades) de que o mesmo domina alguns conhecimentos e procedimentos específicos e que você pode se apresentar como um especialista. 

A sociedade demanda atendimento mais especializado, os médicos queriam ser valorizados e é natural do ser humano buscar se aprofundar por assuntos que tem facilidade. 

É um jogo que em teoria todo mundo sairia ganhando.

Porém, como disse acima, havia muito mais médicos que vagas de residência. 

Tal fato é verdade que não é difícil ver cursinhos preparatórios para concurso residência vendendo a residência médica como o sonho do santo graal do conhecimento.

No meio dessa historia, grupos de ensino, médicos e educadores  acharam uma solução na própria lei da pós-graduação em que eles poderiam ganhar dinheiro vendendo o conhecimento de especialista e o médico em teoria teria o conhecimento que a faculdade não ensinou. 

Em resumo toda residência é uma pós, mas nem toda pós é uma residência

Pelo CFM, o ato médico é livre e irrestrito desde que respeitado um bom senso, ou seja você pode e deve fazer um parto de emergência se você estiver no meio da floresta amazônica sem um obstetra, mas deve evitar fazer uma neurocirurgia eletiva na cidade de São Paulo.

E como a residência segue uma norma de pós-graduação, esses grupos começaram a oferecer pós-graduação "não residência" em teoria com credenciamento pelo MEC.

E não é incomum ver pessoas que fizeram pós-graduação em algumas especialidades entrarem na justiça para fazer a prova de título e ganhar o registro de especialidade.

E por ai começou uma briga que não vai acabar tão cedo. 

Quem defende a residência diz que é um método padrão ouro para aprendizado médico, maior contato com a especialidade, maior acompanhamento do médico aluno e o tão sonhado titulo de especialista para o mercado de trabalho e aumentar a chance de ter um trabalho mais confortável.

Quem defende a pós-graduação diz que o aluno tem tempo para estudar, ganhar honorários de serviços dignos para trabalho, que o aluno é tratado como aluno e a logica capitalista de "se eu estou pagando posso exigir qualidade, caso contrário ninguém compra e a empresa entra em falência".

Nessa historia, muitas vezes pessoas arranjam mais acusações que fatos, temos algumas situações reais que levam mais uma vez àquela velha historia que eu digo sobre a falência do ensino médico atual.

É fácil dizer que residência às vezes é mão de obra médica barata, levado na tolerância do abuso moral, uma bolsa que não paga um livro para ganhar RQE.

E é fácil dizer que existe pós de final de semana que ensina nada ou ensina conceitos errados e perigosos para os médicos como verdades científicas.

Em minha opinião,  que presenciei como aluno residência e pós-graduação em lugares conceituados e conhece pessoas de diferentes formações prefiro colocar  o que eu acho adequado e inadequado e o leitor tirar a conclusão.

E de bônus dou uma previsão segundo este que vos fala.

Não importa se é uma residência, pós-graduação ou estágio, os seguintes preceitos devem ser considerados.

-Adequado: 
   -Formar um médico que tenha domínio dos instrumentos de trabalho seja procura ou informação.
  - Especialização com condições dignas de aprendizado, saúde financeira e social.
  - Condições de que estimulem a criatividade, a intuição e o prazer em aprender.
  - Professores preparados e acompanhando o aluno em tempo proporcional a obrigatoriedade presencial do serviço e extra horário se necessário.

 

-Inadequado:
    - Formar um especialista por formar
    - Professores despreparados
    - Utilização do médico-aluno como "mão de obra barata"
    - Negligenciar as necessidades de aprendizado
    - Ambiente ruim de aprendizado 

 

No meu ponto de vista tive sorte/azar de presenciar uma pós de uma qualidade boa ao que eu queria e uma residência inadequada as minhas necessidades de aprendizado.

Logicamente nenhum serviço é perfeito e eu acredito que realmente exista lugares que aplique monstruosidades como "plantão de punição", "ser preceptor e fazer esquema horário(ou seja, estar de plantão e não trabalhar)" e até boicote de colegas e superiores.

Mas como nunca presenciei isso(presenciei fatos ruins, mas os acima só o boicote), somente ouvi boatos que não posso garantir que sejam verdade.

E também ouvi boatos de pós-graduações ruins que o aluno não aprende nada e fica no "pagou-passou", paga uma fortuna nisso e em um advogado para fazer prova de título sob judice.

Coloco em previsão dois futuros possíveis nas condições que o ensino médico pós/residência se encontra agora.

Primeiro: O nosso já sucateado ensino médico vai continuar represando médicos generalistas de qualidade duvidosa no mercado aumentando a procura de residência. Por sua vez tratando o residente como mão de obra barata e desvalorizando dessa vez o especialista e cada vez mais "pós de final de semana" vão surgir porque infelizmente muitos serviços de saúde no Brasil estão mais preocupados com quantidade que qualidade.

Segundo: O sistema de residência vai invariavelmente sofrer grandes mudanças para se adaptar a concorrência de pós-graduação. Porque o sistema de pós poderá encontrar métodos de ensino que poderão ser tão quão ou mais eficientes que a residência além de pelo visto o valor de ganho, pedagogia e a qualidade da vida do especialista com RQE diminuirá. O que vai acontecer de existirem pós-graduações com concurso e mais concorridas que residências.

Isso se o governo e as autarquias de uma hora para outra não resolverem igualar a pós-graduação e a residência para a obtenção do RQE.

O que algumas associações de médicos com pós tentam e do jeito mais errado possível, ganhar no famoso tapetão um título que não corresponde com um conhecimento adequado.

Porém tudo isso é especulação.

 

Existem centenas de médicos defendendo e atacando pós, existem centenas de médicos defendendo e atacando residências, mas não vejo uma alma vivente questionando a pedagogia de ambos sendo a que defende ou a que critica.

E como passamos por transformação social, foi como disse acima, para ganhar 3 mil reais, tendo que pagar aluguel, livro, congresso, plano de saúde, ficar de segunda a sexta 60h semanais, fazer plantão e ainda ser tratado menos que nada.

Haverá a tendência de somente gente com dinheiro e influência e que não tem mais o que fazer da vida passar por isso e mesmo assim esse tipo de pessoa tem o hábito de que se não gostou, cair fora do nada e resolver ter o mais o que fazer e se um residente desistir o hospital perde um médico, o Estado perde um bolsista, dinheiro público é desperdiçado e uma vaga que faz falta só vai ser reposta depois de um ano.

Agora como a sociedade, o governo e os médicos vão reagir a isso? Eu não sei.

Aguardo os próximos capítulos. Por enquanto descobriram a pós em medicina quântica, mas não descobriram como um aluno motivado pode mudar a sociedade.

 


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