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Temra: um marcador do Alzheimer?

Temra: um marcador do Alzheimer?
Gabriel Couto
jan. 21 - 4 min de leitura
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Um artigo publicado na renomada Nature por Gate et al. intitulado "Células T CD8 expandidas clonalmente patrulham o líquido cefalorraquidiano na doença de Alzheimer" adicionou mais um capítulo no estudo desta doença, que ainda possui muitas lacunas a serem respondidas.

Em linhas gerais, amigo(a) leitor(a), é como se existisse uma célula imune marcadora da doença. 

Mas o que Gate e sua equipe fizeram?

Basicamente eles coletaram, isolaram e analisaram células imunes retiradas do sangue de pessoas saudáveis, de pacientes comprometidos pelo Alzheimer e de indivíduos que possuíam o que denominaram de "Comprometimento Cognitivo Leve" ou MCI (sigla do inglês Mild Cognitive Impairment).

Gate e seus auxiliares descobriram uma célula, pertencente ao grupo TCD8+, que denominaram de CD45RA+ ou Temra, para os íntimos. Segundo a conclusão dos pesquisadores, as células Temra estão ligadas tanto à memória imunológica, quanto ao fato de secretarem moléculas inflamatórias e citotóxicas, ou seja, estão diretamente ligadas com o processo de neurodegeneração.

O pesquisador e sua equipe, inclusive, fizeram um estudo coorte com pessoas que possuíam o Alzheimer e constataram, de fato, a degeneração neural causada pelas Temra. Além disso, todo esse dano cognitivo também pode gerar resposta inflamatória das Temra no sangue, como já se não bastassem os danos causados aos pacientes em nível neural.

Com isso em mãos, a pergunta mestre que os cientistas fizeram foi se seria possível usar as células Temra (com a ajuda de outros marcadores, é claro) como células de diagnóstico para o Alzheimer, bem como seu uso para analisar em que estágio de degeneração o paciente se encontra. A resposta, para alívio deles e da ciência, foi positiva. 

 

O que se sabe é que muitos processos imunológicos se alteram durante o envelhecimento dos seres humanos, mas no caso das Temra, a idade não influenciou o nível de células, ou seja, pode ser usada como ponto de análise diagnóstica independentemente da idade. A necessidade de mais estudos para ratificar esse dado ainda é de grande importância.

Um outro teste vital que foi desenvolvido foi a pesquisa em um grupo de pessoas que foi submetido a uma análise do Líquido Cefalorraquidiano (é um líquido que banha nosso sistema nervoso central) para analisar a quantidade das células Temra. O que se notou é que os portadores do Alzheimer possuíam níveis elevados da célula em comparação às outras pessoas. 

Na continuidade da investigação, algo chamou a atenção: as pessoas acometidas pelo Alzheimer possuíam uma população maior de Temras na área do hipocampo, a qual é uma região cerebral com importância essencial para o processo de memória. Nesta região, as Temra expressavam genes citotóxicos, o que contribui grandemente pela degeneração da área responsável pelas memórias. 

A conclusão que podemos obter a partir dessa leitura é que, apesar da medicina estar avançando cada dia mais, ainda necessitamos compreender muitos detalhes acerca de nós mesmos, e o cérebro, amigo(a) leitor(a), está longe de ser completamente desvendado, apesar das milhares de páginas já lidas e das descobertas já publicadas.

O que fica de lição para nós é que podemos começar a olhar para as doenças neurodegenerativas, não só o caso do Alzheimer, com novos pontos de vista a cada descoberta encontrada. Dessa forma, com este e outros achados, poderemos oferecer aos pacientes o que há de melhor não apenas em diagnóstico, mas em tratamento e o que mais eles querem: qualidade de vida.

 

Para ler a íntegra do artigo*, acesse:
https://www.nature.com/articles/s41586-019-1895-7

*Nota: infelizmente, esse artigo ainda não é de domínio público

Até breve!

 


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