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Uma proposta para a educação médica brasileira

Uma proposta para a educação médica brasileira
João Carlos Simões
jan. 27 - 5 min de leitura
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Texto publicado pela primeira vez na Academia Médica em 2012.

 

(...) quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto – alguma coisa – e um objeto indireto – a alguém."
– Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia

As diretrizes curriculares nacionais para o curso de Medicina dizem no seu preâmbulo que a formação do egresso deve ser crítica e reflexiva. A palavra reflexão vem do latim reflectere, que quer dizer "voltar atrás"; ou seja, refletir significa rever, retomar, repensar, reexaminar de maneira crítica o que já foi feito.

As reformas curriculares pelas quais ainda estão passando as escolas médicas motivam a comunidade acadêmica a reflexões diversas sobre: metodologias de ensino, cenários de ensino e aprendizagem, conteúdos abordados, humanização da relação médico-paciente, modelos de avaliação, perfil do médico a ser formado e tantos outros aspectos relacionados à formação médica.

Todavia o que se observa na grande maioria dos cursos de Medicina pelo País são passos muito tímidos em relação a educação médica e ao cumprimento das diretrizes curriculares.

A transformação político-pedagógica até então inserida ainda é pouco relevante e muito pouco apropriada para este início de século XXI, época que o estudante tem um acesso e domínio da informação de um modo diferenciado – e não mais restrito às salas de aulas e bibliotecas.

É óbvio que ainda, a transmissão de conteúdo presencial tem uma força importante para o discente. Principalmente se este conteúdo é preparado de forma moderna e trazendo  principalmente, a experiência daquele profissional sobre o assunto. Se ele for só copiar o que já está escrito – tem pouco valor – acrescentará muito pouco.

Outro aspecto fundamental é a inserção do estudante no treinamento em serviço sob a supervisão de um docente capacitado. Ainda se vê no internato – aulinhas incansáveis para os estudantes do internato – quando deveríamos prepará-los para cumprir as competências necessárias para a formação do egresso que estão relacionadas nas diretrizes curriculares

O que se precisa é a motivação e a participação discente cada vez mais ativa nos órgãos colegiados e nos debates acadêmicos que sempre foi marcado por uma postura propositiva.

Sempre se procurou a esquiva de discursos e posturas cuja crítica se encerrasse em si mesma. As críticas, na maioria das vezes, devem ser  acompanhadas de propostas afirmativas para a melhoria da qualidade do fundamento das reflexões sobre o ensino que os estudantes recebem.

Outro aspecto relevante é em relação a observação sobre a falta de preparo do docente de Medicina para o magistério considerando que nas escolas médicas não existe preparo específico no terreno pedagógico. A competência na área técnica de atuação médica é o critério fundamental para a escolha dos profissionais que irão passar de médico a professor, prevalecendo uma concepção de ensino tradicional, baseada na transmissão do conhecimento e na experiência do professor, com supervalorização dos conteúdos disciplinares e reprodução desses conteúdos pelos alunos.

É mister instituir um novo modelo pedagógico para a educação médica, visando a:

a) centralizar o processo ensino-aprendizagem no aluno, destacando seu papel ativo neste processo;

b) uma capacitação docente voltada para a competência técnico-científica e didático-pedagógica, bem como para maior participação e compromisso com o sistema público de saúde;

c) maior ênfase na saúde do que na doença;

d) que o ensino da prática ocorra no sistema de saúde existente em graus crescentes de complexidade;

e) o acompanhamento da dinâmica do mercado de trabalho por meio da reflexão e discussão crítica dos aspectos econômicos e humanos da prestação de serviços de saúde e de suas implicações éticas.

Assim, esperamos que este chamamento à reflexão crítica  sirva de entusiasmo a todos os estudantes – que somos – graduados ou não – para uma proposta de  reforma curricular a altura do que todos merecem.

João Carlos Simões


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