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Educação médica e a deterioração do ensino no Brasil

Educação médica e a deterioração do ensino no Brasil
ANA CAROLINA AZEVEDO SALEM
set. 9 - 5 min de leitura
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Educação médica e a deterioração do ensino no Brasil

Imediatismo: essa é a palavra de ordem para o atual governo; ao menos em relação às questões que tangem a saúde. Não é de hoje que o número de escolas médicas vem aumentando no país devido à abertura indiscriminada, há mais de dez anos que isso vem acontecendo. O governo federal tem ampliado a oferta de vagas e facilitado a criação de novos cursos, e mais uma vez o Brasil "quer tapar o sol com a peneira".

Atualmente, existem no Brasil 242 escolas de medicina para uma população de 200 milhões de habitantes , enquanto que em outros países como EUA, China e Alemanha, há 141 escolas para mais de 300 milhões de habitantes, 150 escolas para mais de 1 bilhão de habitantes, e 36 escolas para 86 milhões de habitantes, respectivamente.

A justificativa para abertura das novas escolas seria a de suprir a falta de profissionais para atender a população nas diversas regiões do país.  Mas, assim como o Programa Mais Médicos, não passa de uma medida imediatista e eleitoreira.

Analisando a realidade do Brasil, ao que parece, estamos passando em pleno século XXI, por um período semelhante ao que os EUA passou há mais de 100 anos atrás, em que eram criadas indiscriminadamente escolas médicas, sem condições de oferecer um ensino adequado ao que essa profissão requer.

Para que se tenha uma ideia, muitas escolas não eram vinculadas a universidades, e não tinham o ensino da prática (como o nosso internato de hoje, por exemplo), ou esse ensino era insuficiente. Eram escolas "comerciais", que visavam apenas o lucro, e que tinham o ensino fundamentado apenas na base teórica.

Percebendo a necessidade de uma reavaliação do ensino médico no país, a Associação Médica dos EUA criou um Conselho de Educação Médica (CME) para avaliar o nível das escolas médicas. Após dois anos de visita a todas as 155 escolas da época, e um cuidadoso estudo, foi elaborado o famoso Relatório Flexner. Nas palavras do próprio Flexner: estava sendo formado grande número de profissionais “não educados e mal treinados”.

Alguma semelhança com o Brasil de hoje?

Infelizmente sim, e ao invés de seguir os passos de quem sabe, o país mais uma vez segue na contramão.

Além da abertura indiscriminada de novas escolas, muitas não têm condições adequadas, ou seja, sem laboratórios adequados para o ensino prático das disciplinas básicas, como anatomia, fisiologia, patologia, sem uma biblioteca equipada e atualizada, e principalmente sem hospitais-escola.

Após a divulgação do Relatório, muitas mudanças que já estavam em curso, passaram a se consolidar nos Estados Unidos: mais da metade das faculdades inadequadas faliram ou simplesmente fecharam, e o ensino da medicina foi dividido em dois anos de educação pré-clínica, dedicados às disciplinas básicas, seguido de dois anos para educação clínica, com a participação ativa do estudante. Dessa forma, as recomendações de Flexner provocaram uma profunda mudança na estrutura dos cursos de medicina, refletindo por todo o mundo. 

Hoje, no Brasil, não precisamos de mais escolas, precisamos de um novo Flexner! Precisamos investir nas antigas e boas escolas, que estão cada vez mais se deteriorando, porque simplesmente não há o investimento necessário para a melhoria das instituições, cada vez mais sucateadas. Além disso, as péssimas condições dos serviços públicos, como hospitais, postos de saúde, e ambulatórios refletem também direta e negativamente na formação dos novos profissionais. E ainda somado a tudo isso, a falta de investimento na qualificação de docentes e o incentivo à docência nas universidades.

Precisamos desesperadamente de uma ampla reavaliação e reforma da educação médica no Brasil. Com escolas bem equipadas para uma boa formação teórica e prática, por meio de bons métodos pedagógicos e mais eficazes.

Por fim, para resolver o problema da carência de profissionais nas diversas áreas do país, precisamos de condições dignas de trabalho, com atrativos para os novos médicos de forma a favorecer uma melhor distribuição dos profissionais. E não de um Programa com medidas populistas que visam apenas a reeleição do atual governo. Precisamos de Melhores Médicos.

Fontes: http://www.escolasmedicas.com.br/art_det.php?cod=257

http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,cem-anos-atrasado-imp-,1147227

http://saudebusiness365.com.br/noticias/detalhe/41504/escolas-medicas-sao-criadas-indiscriminadamente-no-brasil

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,cfm-faz-campanha-contra-abertura-de-novas-faculdades-imp-,972356


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