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Médicos, até onde estamos dispostos a ir?

Médicos, até onde estamos dispostos a ir?
Fernando Carbonieri
dez. 9 - 5 min de leitura
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Escrito por Alexandre Gustavo Bley *

“Seja você próprio a mudança que quer ver realizada no mundo.” -Gandhi 

A Medicina, como arte milenar, é baseada em princípios que, de regra, são imutáveis. Justiça, responsabilidade, autonomia, igualdade, beneficência e não maleficência são elementos que devem estar presentes no cotidiano de nossas ações. Este conjunto compõe a dignidade de nossa profissão.

A Medicina se distingue de outras profissões, pois trabalha calçada em parâmetros de moralidade, confiança, sigilo e bom senso, por isso a ética profissional deve ser o valor intrínseco a nortear o seu exercício.

Acredito que a grande missão que temos nesta vida é a busca da felicidade e a harmonia com o meio em que estamos inseridos. Nossa profissão, pela capacidade de modificar rumos, inspirar e acalmar os aflitos, levando promoção à saúde, é fonte inesgotável de felicidade.

Mas, é difícil imaginar como atingir esta meta justamente se o lado profissional nos aflige. Vivemos um tempo de baixa valorização do nosso trabalho, bem como um descaso para com a assistência à saúde da população.

Nossa profissão está em risco e em xeque está nossa ética, pois como um elástico está sendo esticada aos limites determinados pela conveniência individual e muitas vezes mercantilista.

A Medicina nos deu e dá tanto e o mínimo que podemos oferecer em troca é a defesa de seus princípios.

Temos que ter responsabilidade com o nosso presente e com o que vamos deixar como legado às futuras gerações de médicos.

Estamos vivenciando uma modificação da sociedade. A discussão de dilemas morais está cada vez mais presente na agenda das pessoas. A Medicina, como a profissão que mais carrega esse tipo de discussão, também está mudando.

A ideia hipocrática sacerdotal da arte médica está sendo substituída, ao longo dos tempos, pela clareza de ser uma profissão reconhecida dentro da sociedade, onde o pagamento pelos serviços prestados tem caminhado dos honorários para remuneração ou salários, com a tendência de lhe ser aplicada a mesma legislação trabalhista que de outras profissões.

Dessa forma, o médico espera o reconhecimento de seus direitos como qualquer outro profissional, especialmente em uma lógica de mercado que explora o seu conhecimento, suor e saúde em prol de um lucro financeiro e político desmedido. Urge a consciência da necessidade de uma remuneração justa e proporcional ao nível de complexidade e responsabilidade que o médico pratica, para que a qualidade de seus atos e sua autonomia não sejam atacados, impondo riscos a terceiros. Eticamente essa remuneração deve ser obtida exclusivamente por meio do nosso trabalho, sem nenhum tipo de artifício, sob pena de prejudicar nosso juízo.

Uma das evidências de uma vida plena é a presença da capacidade de sonhar e de manter a esperança diante das adversidades. Este é o primeiro passo: não perdermos a esperança, até porque outras pessoas dependem desta, como nossos familiares, pacientes, colegas de profissão ou amigos. Não podemos nos esquecer que somos modelos, exemplos para os que nos rodeiam.

A vida sem esperança se torna vazia, sem sentido, sem prazer, como se fosse ligada no “piloto automático”. O grande problema é que, quando estamos angustiados, perdemos o sentido de direção, tendendo ao desespero e desânimo. Inicialmente procuramos um culpado, alimentando nossa mágoa e piorando a situação, nos prendendo a certos conceitos que estão no passado, dificultando enxergar os raios do futuro.

Ficamos inconformados, mas sem poder objetivo de reação. Queremos mudar o coletivo, mas não trabalhamos o básico, o individual, que somos nós mesmos.

Esse é o meu diagnóstico, ao qual cabe questionamento, mas que com certeza tem uma terapêutica já bem comprovada ao longo da história da humanidade: UNIÃO e SOLIDARIEDADE.

Se conseguirmos resgatar o espírito de corpo, sem o corporativismo desmedido e tendencioso, mas onde cada um desenvolve o seu papel em prol de uma coletividade, com certeza as angústias serão muito menores.

Se cada um tentar resolver seus problemas individualmente, buscando atalhos, sobretudo com mecanismos que passam ao largo da ética, aumentaremos ainda mais o desânimo e a distância. Ao final, todos estaremos do mesmo lado, com uma profissão desacreditada.

Devemos lembrar que o respeito que queremos vem, inicialmente, de dentro de cada um de nós. Somos uma classe heterogênea, talvez com interesses distintos, mas em comum temos a missão de salvaguardar a saúde das pessoas que nos procuram.

Neste começo de ano, façamos uma reflexão de nossas vidas, do quanto temos lutado e do grau de comprometimento com a nossa profissão. Não existe vitória sem sacrifício. Portanto, até onde estamos dispostos a ir?

Que, sob as luzes da serenidade, possamos guiar e escolher qual tipo de ano queremos para nós e para os que compartilham nossas vidas.

 

* Alexandre Gustavo Bley é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) e Cirurgião Vascular.

Fonte: CFM


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