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Mercado de trabalho do Médico de Família

Mercado de trabalho do Médico de Família
Fernando Carbonieri
nov. 5 - 8 min de leitura
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Por Suelen Nunes

Durante a Semana Acadêmica da Faculdade Evangélica do Paraná (FEPAR) ocorreu, também, o IX Encontro de Saúde Coletiva (ESC). A palestra de abertura abordou o tema: Mercado de trabalho em Medicina de Família - um panorama atual.

O primeiro palestrante, Dr. César Monte Serrat Titton, especialista em Medicina de Família e Comunidade (MFC), descreveu a Estratégia Saúde da Família (ESF) como o principal campo de atuação desta especialidade. Porém é possível observar uma contradição no Brasil uma vez que o país conta com 33.000 equipes de ESF e apenas 3.500 médicos de família e comunidade. Logo, segundo o especialista, é possível observar que a grande maioria das equipes, na verdade, conta com médicos que chegam de diversas formas para completar as equipes. Com este número de equipes a maior parte dos municípios brasileiros possui cobertura e mais da metade do número absoluto de brasileiros encontra-se cadastrado na ESF.

O docente afirmou que as grandes cidades possuem percentuais menores de cobertura, municípios com mais de 500.000 habitantes tem abrangência em torno de 25% da população, enquanto outros com até 5.000 habitantes chegam a 95%. E, em busca da continuação na expansão da Estratégia, os gestores têm buscado diferentes estratégias para atrair e fixar médicos. Entre elas o docente apontou a oferta de salários elevados como atrativo para o profissional médico, porém, fez uma ressalva: Embora o salário seja um dos atrativos para os médicos se apresentarem para contratação no programa, esta oferta não tem garantido a sua fixação. Alguns locais aumentam os salários como incentivo, mas ainda não oferecem condições próprias para o serviço.

“Salário atrai, mas não basta. Se vocês forem escolher que área de trabalho seguir e a escolha for apenas baseda em quanto irão ganhar é muito provável que vocês caiam em situações de insatisfação ou de risco ou acabem não ficando muito tempo naquele trabalho.

Para César Titton existem outras medidas adotadas com o objetivo de evitar a alta rotatividade do médico. Entre elas está a realização da residência em MFC, que asseguraria o aprimoramento técnico do profissional para encarar a prática clínica diária a qual exige que o profissional transite entre diferentes áreas. Além disso, sugeriu que, como ocorre em Curitiba, a contratação por concurso público e a garantia de um vínculo empregatício estável também é um forte estímulo. Já alguns locais, com intuito de valorizar a experiência e permanência de um profissional que realmente goste desta área de atuação, têm exigido como pré-requisito dois ou três anos de atuação prévia. Outros locais oferecem ainda adicionais pelo tempo de permanência ou pelo deslocamento diário que o médico tenha que realizar.


O docente sugeriu, ainda, outras possibilidades de atuação para aqueles que optarem pela especialização em MFC como a docência e a pesquisa uma vez que a Atenção Primária em Saúde (APS) venha sofrendo uma expansão bastante rápida essas são áreas que carecem de novos profissionais. Por sua vez, é possível observar esses especialistas em cargos de gestão, e até mesmo atuando em alguns convênios ou consultórios privados.

Aa MFC não é nenhuma novidade, há décadas é a principal solução para países que adotam a atenção primaria como a porta de entrada de seus sistemas de saúde. E, como exemplo, observamos o percentual de médicos que atuam nessa especialidade: Holanda (35%), Bélgica (53%), Espanha (37%), Alemanha (46%), Canadá (52%), Argentina (33%), Austrália (44%), Nova Zelândia (34%). Já os números do Brasil retratam a contradição em que apesar de 0,94% dos médicos serem especialistas em MFC, mais de 8% trabalham na ESF.

Até 2020, caso as vagas de residência se mantenham da mesma forma, e com base em padrões internacionais dos melhores de sistemas de saúde do mundo haverá grande déficit em especialidades como: Medicina de Família e Comunidade (maior déficit em números absolutos), Otorrinolaringologia, Endocrinologia, Dermatologia e Neurologia. (Pérez PB, López-Valcárcer BG, Vega RS. Oferta, demanda y necesidad de médicos especialistas en Brasil: proyecciones a 2020. Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, 2011)

Ressaltou que existe uma busca por um atendimento mais humanizado e personalizado que em que o paciente seja visto não apenas pela sua doença, mas observado e abordado em sua vida por completo.

“A sociedade sente falta de médicos que atuem junto à saúde com prevenção e promoção, além de profissionais que sejam atuantes em cuidados paliativos e reabilitação, por exemplo.”

Por fim, Dr. Cézar falou sobre características peculiares no trabalho do MFC. Como no caso das visitas domiciliares, que ocorrem em casos especiais que possuem indicações específicas e são fundamentais para o acompanhamento de alguns pacientes, ainda assim, ressaltou que o trabalho é predominantemente no consultório.


O segundo convidado foi o Dr. Marcelo Garcia Kolling, atual presidente da Associação Paranaense de Medicina de Família e Comunidade, que iniciou a palestra descrevendo a própria trajetória na graduação desde a vontade de ser cirurgião até a opção por uma especialidade clínica que suprisse suas expectativas enquanto profissional e se adaptasse aos projetos pessoais.

Afirmou que a escolha pela MFC trouxe-lhe uma prática desafiadora, assim como grande parte das especialidades clínicas. Como exemplo, citou uma das pesquisas realizadas por Barbara Starfield que apontou o médico de família e comunidade como um dos profissionais que tem de realizar o maior número de diagnósticos durante a prática clínica. Afirmou que é um desafio profissional lidar com quadros iniciais, muitas vezes repletos de sintomas inespecíficos.

“Ser médico de família é lidar com a incerteza. Isso é um desafio intelectual e emocional.”

Assim, é preciso conhecer um grande número de doenças diferentes e atender com agilidade e precisão. Ser capaz de identificar fatores que produzem e desencadeiam doenças. Entender as complexas relações humanas que interferem na saúde. E, sem dúvida, a residência prepara o profissional para trabalhar com estas situações complexas.

Segundo o especialista, uma vantagem é que a escolha pela MFC permite ter uma atuação profissional que não invade a vida pessoal. Alguns fatores determinantes são que o médico trabalha um número exato de horas por dia e por semana, realiza um único deslocamento, diferente de profissionais que trabalham em mais de dois locais diferentes, além de possuir um suporte bem estruturado que lhe dá respaldo em situações de emergência ou frente a agravos de qualquer paciente.

Outra vantagem, afirmou o docente, é que como o paciente não paga diretamente naquele momento por aquela consulta não se estabelece a sensação de uma relação comercial como, algumas vezes, pode ocorrer em consultórios privados. Para o profissional outro ponto importante é a liberdade e até mesmo o incentivo para a educação continuada, o que permite que o médico possa dedicar períodos ao estudo e aprimoramento sem que o vínculo de emprego seja desfeito. Assim o profissional que desejar poderá realizar seu mestrado ou doutorado e ainda terá seu local de trabalho assegurado. Para ele a especialidade garante maior estabilidade quando o profissional tira férias ou tem licença maternidade, bem como oferece, em alguns casos, plano de carreira e salários, diferente da prática privada.

O docente mencionou que a saúde suplementar tem mostrado interesse na inserção da MFC como organizadora dos modelos assistenciais, tendo este profissional como a linha de frente de atendimento. O docente reforçou que áreas como a docência compõem, também, boas áreas de atuação para os especialistas, e as preceptorias para a residência tem sido um espaço de absorção dos novos profissionais.



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