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CinePsiquiatria #4: Uma Mente Brilhante

CinePsiquiatria #4: Uma Mente Brilhante
Eduardo Alcantara
set. 24 - 8 min de leitura
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Caros leitores, com muita honra anunciamos aqui a 4ª edição desse projeto ao qual nos dedicamos com muito carinho. Novamente queremos agradecer a boa aceitação, incentivo e apoio dos leitores ao #CinePsiquiatria, da Academia Médica. Esse projeto é uma coluna periódica, com recomendação e análise de filmes para os amantes de cinema e psiquiatria. 

O primeiro artigo do projeto foi sobre o clássico, de 1999: Clube da Luta. Se você ainda não leu a análise desse filme, clique aqui. 

Confira as outras edições do projeto:

Agradecemos a cada leitor pelo apoio!

No CinePsiquiatria #4 tentarei, na visão da psiquiatria, analisar uma das grandes obras do cinema ocidental, o filme de 2002, do diretor Ron Howard – o mesmo de Han Solo: Uma História Star Wars– UMA MENTE BRILHANTE.

Pegue sua pipoca e vamos lá!

AVISO DE SPOILER! SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU AO FILME, É RECOMENDADO VOLTAR APÓS O TÉRMINO DA PELÍCULA!

"-Qual o tamanho do universo?
-Infinito.
-Como você sabe?
-Porque os dados indicam.
-Mas não foi provado. Você não viu. Como pode ter certeza?
-Não tenho, apenas acredito.
-É a mesma coisa com o amor."

Diálogo entre John Nash e sua esposa no filme =D

Uma Mente Brilhante – em inglês A Beautiful Mind – é um filme de 2002, dirigido por Ron Howard, sobre a vida do matemático John Forbes Nash, ganhador do prêmio Nobel, e é uma adaptação do livro homônimo de Sylvia Nasar. 

O filme foi sucesso, contando no elenco Russel Crowe e Ed Harris. Tendo orçamento inicial de 60 milhões de dólares, arrecadou mais de 300 milhões de dólares, além de ser aclamado pela crítica e ganhador do Oscar!

Foi premiado com o Oscar nas categorias: melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante. Também foi vencedor do Globo de Ouro nas categorias: melhor filme (drama), melhor atuação de um ator em cinema para Russell Crowe (drama), melhor atuação de uma atriz em papel coadjuvante em cinema (Jennifer Connelly) e melhor roteiro.

Tanto no filme quanto na vida real, o matemático John Nash foi diagnosticado com esquizofrenia. O diagnóstico de esquizofrenia envolveu o reconhecimento de um conjunto de sinais e sintomas que fazem parte da síndrome associados a um funcionamento social, profissional e da organização da vida diária prejudicados.

No filme, o personagem apresenta várias alucinações visuais, o que é menos comum no quadro da doença, em que normalmente predominam as alucinações auditivas, além dos delírios típicos da síndrome. Na vida real John apresentava, além dos delírios paranóides, alucinações auditivas, o que foi adaptado para visual no filme pelos responsáveis da película.

John Forbes Nash recebeu o Prêmio de Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel no ano de 1994, como resultado de seu trabalho em Princeton com a teoria dos jogos. O matemático morreu em 2015, aos 86 anos, em um acidente de carro em Nova Jersey, nos Estados Unidos.  Sua esposa, Alicia Nash, de 82 anos, também morreu no acidente.

Segundo a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-V, a Esquizofrenia é uma doença. Fazendo parte dos transtornos do "Espectro da Esquizofrenia e outros Transtornos Psicóticos", é uma síndrome clínica heterogênea, seus sintomas característicos envolvem uma série de disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais. Lembrando que não existe nenhum sintoma patognomônico do transtorno.

A esquizofrenia tem prevalência ao longo da vida, segundo o DSM-V, de 0,3 a 0,7% da população atual. Os sintomas psicóticos que compõe a clínica dessa síndrome, chamada atualmente de transtorno, costumam surgir entre o fim da adolescência e meados dos 30 anos, lembrando que raramente inicia antes da adolescência, o que notamos na história do filme e na vida do matemático, pois ele já estava na universidade na época do primeiro surto. Lembrando que o pródromo do transtorno pode iniciar muitos anos antes. 

Segue os critérios diagnósticos do DSM-V para Esquizofrenia:

A. Dois (ou mais) dos itens a seguir, cada um presente por uma quantidade significativa de tempo durante um período de um mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um deles deve ser (1), (2) ou (3):

  1. Delírios.
  2. Alucinações.
  3. Discurso desorganizado.
  4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico.
  5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída ou avolia).

B. Por período significativo de tempo desde o aparecimento da perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas importantes do funcionamento, como trabalho, relações interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou profissional).

C. Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p. ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns).

D. Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou transtorno bipolar com características psicóticas são descartados porque 1) não ocorreram episódios depressivos maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação aos períodos ativo e residual da doença.

E. A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica.

F. Se há história de transtorno do espectro autista ou de um transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um mês (ou menos, se tratados com sucesso).

Apesar do filme tratar da história de uma pessoa com esquizofrenia, se pensarmos rigidamente nos critérios, o personagem não se enquadra em todos, pois não temos como argumentar sobre o critério E. Porém, conseguimos aproximar informações fornecidas pelo filme com os demais critérios. Assim, acredita-se que na época de sua internação tenha sido feita uma investigação clínica completa, mas o filme não trata de todos os detalhes com relação a esse episódio.

O personagem apresenta claramente sintomas de alucinações visuais, bem como o seus delírios persistentes no longa todo. São delírios de perseguição, comportamento bizarro e desorganizado, fazendo parte do quadro paranóide. Apesar de mostrar cognitivo preservado e ser bastante inteligente, notamos que John teve prejuízo no seu trabalho e vida.

Vale lembrar, que apesar de todos os obstáculos mostrados no filme e dificuldades enfrentadas na vida, John realizou seu tratamento durante a vida toda, tendo uma vida acadêmica e profissional relativamente funcional. Fica aqui o incentivo e o apelo pela busca de tratamento, pois, assim como qualquer outro transtorno ou doença crônica, com o tratamento aderente e correto há uma grande perspectiva de melhora do quadro clínico! Busque uma avaliação do seu médico e siga corretamente as instruções de seu tratamento!

CURIOSIDADES: 

1) Assim que soube da morte de John, Russell Crowe, no twitter, escreveu: "Atordoado.....meu coração vai para John, Alicia e família. Uma parceria incrível. Mentes bonitas, corações bonitos"

2) O ator Tom Cruise esteve cotado para interpretar John Forbes Nash.

Espero que tenham gostado da análise. Deixe nos comentários o que você achou do projeto e sugestões de filmes para os próximos #CinePsiquiatria.

Esse foi o post CinePsiquiatria #4.  

 

Aguardem que nos próximos dias vamos liberar um artigo bônus: O solista!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5). Porto Alegre: Artmed; 2014.
  2. Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed; 2008.
  3. JASPERS, K. Psicopatologia geral. Rio de Janeiro: Atheneu, 1979.
  4. KAPLAN, H.; SADOCK (Orgs). Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. Porto Alegre: Artmed, 11ª Edição, 2016.

Clique aqui para seguir o Dr. Eduardo Alcantara na Academia Médica e para acompanhar o projeto #CinePsiquiatria e os próximos artigos sobre psiquiatria. 

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