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Virtudes da medicina - Como formar um bom médico?

Virtudes da medicina - Como formar um bom médico?
Hélio Angotti Neto
dez. 20 - 4 min de leitura
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Como formar um bom médico? Como educar para ser uma boa pessoa e, consequentemente, um bom médico? Não seria pretensioso ousar educar para o certo, para a virtude?

Nos dias contemporâneos, o discurso que se intitula “inteligente” está normalmente ancorado num relativismo que o puxa sempre para baixo, rumo ao lodo da incompreensibilidade e da mediocridade. Não se ousa falar a verdade e instigar a busca pelo que é certo. Quando muito, se ensina um apego à crítica desmedida, destrutiva e pouco sábia feita pelos estúpidos, isto é, os ignorantes e arrogantes.

Mas na Medicina não há opção. Não há Medicina moralmente neutra. Aliás, como alguns pensadores de boa estirpe já anunciaram, não há nada que envolva a ação humana, incluída a ciência, que não envolva a moralidade.

Mas se algo precisa ser feito, como ensinar a ser um bom médico?

Platão já testava possíveis respostas há tempos, e a pergunta que fazemos se repete desde seu diálogo Mênon: Como ensinar a Virtude? Não a virtude maquiavélica, que nada mais é do que uma distorção verbal cujo real significado seria força e iniciativa impetuosa. Isso não é virtude como entendida pelos antigos e nem a virtude de que precisamos na Medicina.

Gosto de ressaltar com meus alunos que uma preciosa vivência é trazida de casa. Mas, para ser médico, é necessário aprender mais e fazer mais do que se já tem.

É inegável o valor do exemplo dos bons mestres. Professores que encarnam o papel do médico - do verdadeiro médico - e inspiram seus alunos a buscar a virtude junto ao paciente. Porém também é inegável que existem os maus exemplos, também presentes dentro das escolas médicas. E o exemplo somente não é um fator determinante, pois o mau exemplo pode servir como contraexemplo dialético para um bom acadêmico, e um bom professor pode ser ignorado completamente por um mau acadêmico.

Um código deontológico adequado ajuda na medida em que traduz expectativas éticas em proposições passíveis de julgamento racional. Mas o compromisso de ser médico é muito mais do que assumir um corpo de regras externas, é um compromisso interno, assim como é interna a conversão dos religiosos. Há uma conversão do jovem acadêmico em médico, muitas vezes gradual e lenta, muitas vezes súbita.

Outro recurso capaz de auxiliar na busca da virtude é a aprendizagem de exemplos clínicos junto a professores mais experientes que possam traduzir as vivências morais em cada situação para o acadêmico e demonstrar quais seriam as atitudes desejáveis para a formação de um bom médico. Este estudo das virtudes e atitudes necessárias, junto a um bom professor de Ética Médica e Bioética, pode colaborar sobremaneira na formação médica.

Nessa linha temos Edmund Pellegrino que, ao lado do exemplo de vida, também sistematizou toda sua obra ao redor da formação de médicos virtuosos e do estabelecimento de uma Filosofia Moral adequada e especifica para as profissões que cuidam da saúde do ser humano, em especial da Medicina.

Sua obra publicada em livros não encontra nenhuma tradução ainda no Brasil, falha gravíssima que o Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina (SEFAM) começa a remediar. Em geral, sua obra também não encontra penetração nos cursos de Medicina, sendo mais discutida em alguns círculos de estudos bioéticos mais capacitados e avançados. Não há como duvidar da excelência dos centros de formação médica em diversos lugares do Brasil, mas em termos éticos, nossas publicações ignoram aqueles que muitos chamam de o “Pai da Ética Médica Moderna”.

Mas, respondendo às perguntas iniciais, é possível sim formar um bom médico, embora a vontade do indivíduo em formação seja elemento indispensável, obviamente. Os métodos são diversos e, compreendendo a complexidade do ser humano, todas as aproximações são desejáveis em conjunto: bons professores como modelos, casos clínicos comentados, estudo deontológico e estudo da Ética Médica e da Bioética com qualidade.

Uma vez possível a educação, mesmo que não garantida, jamais seria pretensiosa, mas sim, torna-se obrigação para a Escola Médica, um importante agente moral da sociedade em que está plantada.

 

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