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Quais as qualidades de um bom médico? Podemos medir isso?

Quais as qualidades de um bom médico? Podemos medir isso?
Fernando Carbonieri
out. 31 - 8 min de leitura
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Uma excelente discussão começou a finalmente acontecer no facebook médico brasileiro: o que faz um bom médico?

Essa discussão começou com o compartilhamento de um post da médica, pesquisadora e credora de que alguns poucos dados valem mais do que mundo de opiniões, Ashish Jha.  A postagem aconteceu em março de 2014 e gerou barulho apenas agora em nossass terras. Por esse motivo resolvi traduzir este excelente texto que nos leva a pensar no desenvolvimento de algumas qualidades para nos tornarmos médicos cada vez melhores, tanto para o sentimento do paciente, quanto para o benefício para sua saúde.

O texto pode ser acessado na íntegra, em ínglês, so blog da Doutora. Clique AQUI para lê-lo em inglês.

Quais as qualidades de um bom médico? Podemos medir isso?

Recentemente falei com uma organização que desenvolve medidas de qualidade, e isso me levou a pensar: Quais as qualidades de um bom médico e como podemos medir isso?

Ao pensar nisso, refleti o quão longe chegamos na mensuração da qualidade. Uma década atrás, muitos médicos acreditavam que a qualidade de seu trabalho não poderia ser mensurada e achavam que isto era uma besteira.  Ou ainda, achavam que medir a qualidade do trabalho era destrutivo ou perigoso. Na última década, assistimos a uma mudança de oceano. Desenvolvemos centenas de indicadores de qualidade que médicos, que, após muito resmungar, aceitaram que essa mensuração veio para ficar. Esse mal-estar, entretanto, ainda não desapareceu, e aqui está o porquê:

Se você perguntar a um especialista sobre o que significa um bom cuidado a um paciente diabético, ele provavelmente falará sobre os seguintes critérios: Controle adequado da hemoglobina glicada, checagem regular sobre o colesterol, controle efetivo do LDL, aconselhamento para a parada do tabagismo e o uso de hipoglicemiantes orais em pacientes com níveis baixos de diabetes.

Quando eu penso sobre os excelentes médicos que eu conheço, não me pergunto se o melhor médico é aquele que melhor controla a hemoglobina glicada do paciente. Não! Essas medidas - todas baseadas em evidência e ligadas aos melhores resultado dos pacientes - não promovem a sensação de que elas descrevem a qualidade do médico.

Então, onde está a desconexão? O que faz de um médico, um bom médico? Insegura, perguntei no twitter:

good doctor twitter

Mais de 200 respostas apareceram. Abaixo listei as top 10. Mais respondida??? Ter empatia. #2 Ser um bom ouvidor. Apenas após a nº5 aparece algo sobre a capacidade técnica como competente/efetivo.

good doctor twitter results

Fizemos esta mesma pergunta nas redes sociais do Academia Médica. O resultado não foi diferente não...

Como você pode ver logo abaixo, foram mais de 100 respostas que repetem os dados encontrados pela Dra. Jha.

Queremos saber para o post de hj do academia médica. Sem textão por favor...

Uma foto publicada por Academia Médica (@academiamedica) em Out 31, 2016 às 6:55 PDT

Mesmo que o resultado seja viciado por aqueles que eu interajo no twitter (no caso do academia médica, instagram e facebook), suspeito que os eles reflitam o que a maioria das pessoas gostariam como qualidades em seus médicos. Assim que eu li as discussões que se seguiram, pude concluir uma coisa: A maioria das pessoas assumem que o médico já atingiu o limite dos conhecimentos, inteligência e julgamento. Assim, o que difere o Bom médico do regular são as coisas sensíveis.

Seria isso uma verdade? Sim, de alguma maneira. A maioria dos médicos americanos atingem 3 competências básicas (o sistema de licenciamento, exames dos Board...) que asseguram que a grande maioria dos médicos americanos tenham um nível básico de conhecimento. O que a maioria das pessoas não contemplam, entretanto, que no meio deste vasto grupo de médicos, existem grandes variações em capacidade e julgamento clínico. E, claro, existe um pequeno percentual de pessoas licenciadas para praticar medicina que não atingiram esses objetivos básicos.

Nós sabemos que esses poucos pertencentes a minoria são perigosamente inefetivos. Nós, pertencentes a comunidade médica, somos terríveis em exigir destes poucos para que melhorem profissionalmente, ou, deixem a profissão.

Na discussão do twitter, houve um segundo ponto levantado por John Birkmeyer, que estava na mente de muitos dos que responderam. Ele disse: " Eu gostaria características diferentes do meu médico de família e de meu cirurgião cardíaco. A humildade é superestimada no último.". Ele levantou um ponto importante sobre o que queremos do clínico (internista, clínico geral ou médico de família) versus do que queremos do cirurgião. Sim, na busca de ser "bom”, humildade e empatia são importantes, mesmo para um cirurgião cardíaco. Mas quando eles estão serrando o esterno ou mexendo diretamente em sua coronária? Você prefere que eles sejam tecnicamente proficientes e mostrem ao máximo suas habilidades ou prefere que essa característica seja prejudicada por sua capacidade (ou a falta dela) de ser empático?

A empatia e a bondade dos cirurgiões importa sim, mas talvez isso não seja mais importante que ser um cirurgião com técnica e capacidade de liderar sua equipe. Para clínicos, a efetividade depende muito mais de sua capacidade de ouvir, ser empático e levar os valores do paciente em consideração.

Um ponto final: A minha resposta favorita veio de Farzad Mostashari, que perguntou: " Se seu médico não utiliza os melhores dados disponíveis para cuidar de você, ele realmente não se importa com você?" Em todas as discussões sobre como ser um bom médico, nós ouvimos muito pouco sobre o como o médico é efetivo no controle da pressão ou do diabetes. Esse tipo de coisa a gente mede e é importante.

Nós usamos esses dados no Sistema de Relatórios de Qualidade Médica (PQRS em inglês). Mas realmente eu não sei se isso mede a qualidade do médico. Isso mede a qualidade do sistema no qual o médico está inserido. Você pode ter um médico medíocre, mas um bom time, com um excelente time de staffs de sobreaviso, que as coisas serão feitas. Até mesmo os médicos mais inteligentes, que conhecem as evidências perfeitamente, não conseguem entregar um cuidado consistente de saúde se o sistema que ele está inserido não é adequado.

Então, quando pensamos em qualidade de cuidado ambulatorial, nós devemos pensar em dois níveis de métricas:

  • O que significa ser um bom médico?
  • O que significa trabalhar em um bom sistema?
  • Ao medir as qualidades do médico devemos voltar nossas atenções para as habilidades sensíveis, como a empatia, que podem ser medidas pelos questionários aplicados aos pacientes.

    Temos que nos debruçar também sobre as habilidades intelectuais, como a habilidade em fazer diagnósticos difíceis, inteligência emocional (habilidade de conduzir e liderar equipes). Nós não medimos esse tipo de coisa mesmo, apenas assumimos que os médicos já possuem estas habilidades. Para medir o sistema, nós podemos sim medir se estamos conseguindo controlar a hipertensão e o diabetes. Nós precisamos manter esses dois tipos de métricas em separado e não os confundir um com o outro. E ainda, infelizmente, para cirurgiões, precisamos de uma abordagem mais específica.

    Sim, eu ainda acredito que a empatia e a humildade ainda têm uma longa vida, mas essas qualidades não são suficientes para um bom julgamento e para a firmeza das mãos.


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