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A saga das Eleições da AMB

A saga das Eleições da AMB
Fernando Carbonieri
nov. 8 - 6 min de leitura
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Realmente pensei muito antes de escrever este texto. Já o comecei e apaguei por muitas vezes e por inúmeros motivos, mas tenho a convicção que devo fazê-lo. Aviso de antemão... Terei que ocupar um lugar que odeio. Terei que subir em cima do muro ao falar da saga das Eleições da Associção Médica Brasileira - AMB. Outra coisa: Não tenho conflito de interesses ao escrever este texto.

Possivelmente enfrentarei represálias ou situações em que haverá alguma tentativa de me desqualificar. Não me importa. Mesmo sem ser membro da instituição, ou pertencer a alguma associação médica filiada a ela, preciso falar disso.

Para os que não sabem, a AMB tem a função de zelar pela qualificação científica de seus membros. Ela chancela ou desaprova especializações no Brasil (os Conselhos documentam e validam), assim como também exerce um importantíssimo papel político frente os órgãos estatais. Obviamente um breve resumo de suas atribuições.

A liderança frente a instituição, claramente, pode posicionar grupos, ideologias políticas, científicas e filosóficas na mais alta esfera de influência em saúde no país. É isto o que está em jogo. O valor destas eleições (das anteriores e das próximas) é gigantesco e todo seu trâmite conturbado, infelizmente, demonstra a chaga que é a falta de civismo e formação política entre os profissionais médicos.

Se você acha que tem alguma coisa errada e você não se envolveu, mesmo sendo sócio, você tem parcela de culpa. Impossível aceitar que menos de 10% de todos os médicos filiados de alguma forma à AMB, participaram das eleições como eleitores. Impossível aceitar várias coisas no comportamento do médico que apenas escolhe delegar o futuro de sua arte para pessoas e instituições, as quais ele não se dá ao trabalho de conhecer ou se envolver...

Reclamações e mea culpa feitas, vamos aos fatos. São dois grupos que tem fatos e versões diferentes para narrar a mesma história. Isso por sí só explica o muro que tenho subir para falar sobre o assunto. Conheço ainda pessoas nos dois lados da moeda e posso afirmar que (as que conheço) tem meu profundo respeito e admiração.

Uma breve narrativa do passado pré eleições (da minha perspectiva):

Dois grupos formaram chapas diferentes para concorrer às Eleições. Um da situação, que teve o Dr. Lincoln Lopes Ferreira como candidato a presidente (não o conheço, mas confio em pessoas que o apoiam). Outro da oposição, que teve o Dr. Jurandir Marcondes Ribas Filho (foi meu professor na faculdade, mas não conheço as pessoas que o apoiam).

As eleições foram marcadas por memes que atacavam ambos os lados. Hora afirmavam a infiltração do Partido dos trabalhadores em um dos lados, hora denegriam a honra do outro. Não foi esse o período mais feio.

Um outro fato, que virou ponto central na briga pelo resultado, e mais importante que o que a antecedeu, foi o sistema eleitoral adotado. 

A gestão atual determinou que as eleições fossem realizadas por meio eletrônico e online, sem a presença no local de votação. Entretanto, as esferas estaduais se julgavam autônomas (ou assim interpretam as regras eleitorais) para decidir qual seria a forma de votação de seus filiados. Ou seja, para algumas das associações estaduais determinaram que a votação fosse presencial, no lugar que desejassem, não eletrônico e nem online. Asociação Paulista de Medicina e Associação Médica do Distrito Federal optaram pelo modelo presencial enquanto as demais, pelo modelo virtual.

Eleições realizadas ainda sob muita gritaria e falta de clareza sobre os possíveis resultados. De repente, dois ganhadores.

Situação número # (coloco # porque aqui ta difícil até de colocar números 1 e 2):
Devido a contestação sobre a dissuazão de São Paulo e Brasília, os votos de ambas as localidades não foram computados pela justiça. Ganhador chapa 1 onde o Dr. Lincoln Lopes Ferreira é o presidente com 76,99% dos votos válidos (sem SP e DF)

Situação número # (coloco # porque aqui ta difícil até de colocar números 1 e 2):
São Paulo e Brasília tem os votos computados e o presidente eleito seria o Dr. Jurandir Marcondes Ribas Filho, representante da Chapa 2 por 86 votos de vantagem.

Agora a coisa fica complicada 

Esse processo foi todo auditado por uma consultoria internacional (PWC) que deu a vitória para o Dr. Lincoln. Como não houve concordância com o resultado, nada mais justo que o direito de entrar na justiça para que haja uma arbitragem sobre o assunto. Direito exercido pela chapa do Dr. Jurandir.

Nestes quase 45 dias que se passaram das eleições muita coisa já aconteceu. Pudemos observar eventos espetaculosos, afirmações midiáticas, tentativas de assassinato à reputações, dinheiro gasto em patrocínio no facebook, gritarias em plenárias, tentativa de desqualificação da índole de colegas, ao vivo e nas rodas de conversa hospitais e congressos afora... Algo me diz que tem muita coisa para acontecer ainda. Essa é a parte mais reprovável a que me referia. Não há tentativa publicitária capaz de minimizar uma classe profissional desmotivada e que não se engaja para saber o que está acontecendo com as instituições que regem a atividade aqui no Brasil.

Vale lembrar uma frase de Platão: Aqueles que se julgam inteligentes demais para exercer a política, serão punidos e serão governados por aqueles que são "mais estupidos".  Nesta frase, platão pontua que a pessoa que julga possuir inteligência extrema já é um estúpido, logo, será governado por um outro semelhante a ele. Viva o Brasil...

No momento, quem tem a posse da presidência é a Chapa 1 dada pela justiça, do Dr. Lincoln.  mas enquanto ainda estamos assistindo à esta epopeia, com um enredo tão conturbado, ainda não podemos imaginar o final.

Tenho apenas uma certeza. Quem perde com tudo isso, é a medicina brasileira que está longe de estar unida e mais longe  de ter a clareza de saber o que se passa em algumas das ainda opacas instituições representativas. 

Para melhorar o espetáculo, em breve teremos as eleições dos sindicatos. Aguardemos os próximos capítulos desta saga.


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