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COVID-19: o que você precisa saber?

COVID-19: o que você precisa saber?
Gabriel Couto
abr. 15 - 11 min de leitura
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Olá, amigo(a) leitor(a), como está nesta quarentena? Certamente querendo fazer muita coisa que não fazia antes, não?

Bom, enquanto durar o estoque desta paralisação mundial, que tal nos aprofundarmos mais sobre o tema mais falado atualmente, o COVID 19?

Apresento a vocês um artigo de revisão sobre o novo Coronavírus. Foi publicado no dia 13 de março, portanto tem algumas coisinhas a serem colocadas de atualizações, mas é um artigo de linguagem acessível e bem amplo. O publicador, o senhor Tanu Singhal, é membro do departamento de pediatria e doenças infecciosas do Kokilaben Dhirubhai Ambani Hospital and Medical Research Institute na Índia, país que executa a quarentena energicamente. 

 

Histórico e detalhes dos Coronavírus

Os seus membros possuem como material genético o RNA de senso positivo (andei pesquisando o que significa isso e seria que, o RNA genômico dele, é de mesmo sentido que o seu RNA mensageiro). Os coronavírus possuem um envelope viral indo de 60 a 140 nanômetros de diâmetro com espículas projetadas para o lado externo (como mostra a imagem da capa da publicação), como se fosse uma coroa (daí o nome CORONA/VÍRUS).

O artigo cita que, embora o Coronavírus tenha se originado de morcegos, o animal que tenha passado o vírus aos humanos ainda é incerto, mas o pangolim e as cobras estão na lista de procurados. Atualmente o mais investigado é o pangolim.

Epidemiologia e patogênese

Nota importante: todas as idades são susceptíveis a desenvolver o novo coronavírus.

A infecção se dá por contato com gotículas expelidas através da tosse e/ou espirro de pacientes sintomáticos, mas é necessário destacar que, assintomáticos que estejam com a doença e pessoas que estão apenas no início dos sintomas, podem sim ser grandes propagadores do vírus (1)

Estudos importantes demonstraram que há evidência de uma alta carga viral nas vias aéreas superiores principalmente na cavidade nasal e um número menor na garganta. 

Algo que chamou muito a atenção foi de que a diferença entre carga viral total de pessoas com sintomas e assintomáticas era mínima (2), ou seja, por isso que se fala tanto no perigo de transmissão pelos assintomáticos, já que possuem carga viral praticamente igual dos que são sintomáticos nas vias aéreas. 

 

Uma notícia ruim e uma boa

A notícia ruim é que, segundo o artigo, as gotículas podem ter um alcance médio de 1 a 2 metros de distância do emissor e que também o vírus pode ficar viável por dias em um material que lhe dê esse suporte. A notícia boa é que, segundo estudos, o vírus pode ser destruído em menos de um minuto com o uso de desinfetantes simples como o hipoclorito de sódio e o peróxido de hidrogênio (3). Este último, amigo(a) leitor(a), é basicamente a água oxigenada, portanto, cuidados simples de limpeza podem, sim, acabar com este novo inimigo mundial.


Ainda não houve relato de caso de transmissão transplacentária, mas já tivemos caso de transmissão pós-natal (4).

Nota importante: algo que o artigo destaca muito bem é que o período de incubação do vírus varia entre dois e 14 dias e, mais interessante ainda, a forma com a qual o vírus consegue entrar na mucosa respiratória é pelo Receptor 2 de Angiotensina, o ACE2 (5)

 

Amigo(a) leitor(a), agora é o momento que você estava esperando, vamos às características clínicas.

As características de apresentação do COVID-19 são muito variadas indo de um simples caso assintomático até casos de desconforto respiratório agudo ou, em um último nível, falência de órgãos como os rins.


Quais são os sintomas? Febre, falta de ar, tosse, dor de garganta, fadiga, dor de cabeça e mialgia. Até casos de conjuntivite já foram relatados. O problema destes sintomas é que são muito conflituosos com casos de infecções comuns.
Alguns pacientes, casos graves, evoluíram a pneumonia, insuficiência respiratória, insuficiência renal (como dito antes) e a morte.

A progressão da doença está relacionada a um crescimento de citocinas inflamatórias como IL2, IL7, IL10, GCSF, IP10, MCP1, MIP1A e TNFα (6). O tempo médio de desenvolvimento de dispneia tem sido cinco dias, as hospitalizações em média de sete e a síndrome de desconforto respiratório em oito dias, mas é como eu disse, tempo MÉDIO. Não é algo constante, varia de paciente a paciente.

Algo interessante que o artigo cita é que os pacientes de Wuhan parecem ter desenvolvido uma doença mais severa que as pessoas que estão fora da província (7). O artigo, sem citar outro, estipula que isso pode ser devido à predisposição da população asiática ao vírus por possuírem expressão aumentada do receptor ACE2.


Vamos ao diagnóstico

Em termos de sintomas, um caso suspeito começa a apresentar febre, dor de garganta e tosse, além de viagem a áreas nas quais já há casos de COVID-19, embora que, no atual estado, as viagens foram praticamente encerradas pelo mundo todo.

O diagnóstico em si é por meio de testes moleculares como o PCR, teste rápido e a coleta de material com swab. Posso aprofundar isso em outra publicação se você quiser, amigo (a) leitor (a). Algo de surpreendente que o artigo traz é que o vírus, em casos severos, pode ser encontrado até nas fezes.

 

Em testes clínicos pode se evidenciar uma linfopenia, com uma contagem de linfócitos abaixo de 1000 células em caso de doença severa. As plaquetas podem estar em níveis normais ou levemente reduzidas. Outros parâmetros como  os níveis de ALT/AST, tempo de protrombina, creatinina, D dímero, CPK e LDH podem estar elevadas e, ainda mais, em casos mais severos.

Quando falamos sobre exames de imagem, o Raio-X pode indicar infiltrado bilateral ou nenhuma alteração em caso de doença ainda precoce.

O artigo destaca que a tomografia é mais específica e sensível, pois além de demonstrar infiltração, notamos nela a opacidade em vidro fosco e a consolidação sub-segmentar.

 

Diagnóstico diferencial

Bom, são vários, vamos a eles. 
Todas as infecções respiratórias como a influenza, adenovírus, ente outros. Outros diagnósticos diferenciais são com organismos atípicos como o micoplasma e clamídia, além de infecções bacterianas. Todos os citados entram como diagnóstico diferencial para o novo Coronavírus.

 

Vamos ao tratamento?

O tratamento, até agora, é baseado no suporte e controle de sintomas.

Primeiro passo: I.S.O.L.A.M.E.N.T.O. Por isso, respeite e exija respeito pelos métodos de quarentena, pois se não há casos de COVID-19 na sua região, é porque a quarentena está sendo eficaz.

O tratamento de casos leves é domiciliar, baseado no controle de sintomas como a febre e tosse, além de níveis adequados de hidratação e alimentação.
Para pacientes que apresentam hipóxia, se recomenda o fornecimento de oxigênio através de cânula nasal de alto fluxo, máscara facial ou ventilação não invasiva. Em alguns casos, a ventilação mecânica e até o suporte da membrana de oxigênio extracorpórea pode ser necessária.

Antifúngicos e antibióticos podem ser necessários em caso de co-infecção.
O artigo cita que remédios como ribavirina, lopinavirritonavir já foram utilizados tendo como experiência os episódios de SARS e MERS. 

NOTA IMPORTANTE: amigo(a) leitor(a), aqui eu abro um parênteses. Não vou me aprofundar muito nesta parte do artigo por um motivo: os tratamentos para o novo Coronavírus ainda estão sendo testados e, portanto, pode surgir em dias posteriores outras formas de tratamento para a doença. Portanto, em termos farmacológicos, vamos esperar os especialistas se pronunciarem, ou seja, Ministério da Saúde e Organização Mundial da Saúde.

Por fim, a prevenção, a "alma do negócio" quando falamos em saúde pública.

Primeiro, o artigo fala sobre barreiras da prevenção, são elas: a infectividade mesmo antes dos sintomas no período de incubação, a transmissão por pessoas assintomáticas, longo período de incubação, o tropismo viral e também o fato da transmissão ser algo possível mesmo após a recuperação clínica.

Como dito, uma maneira eficaz no controle é o isolamento. Deve-se isolar casos confirmados ou suspeitos com doença leve em casa. A ventilação e a exposição do ambiente domiciliar ao sol auxiliam grandemente. Segundo publicação da OMS de 6 de abril, há grande vantagem no uso de máscara por pessoas sem sintomas, além da antiga recomendação que citava apenas uso em casos confirmados (deixo esta recomendação em anexo).

Para profissionais de saúde, o artigo cita que eles devem ser equipados com uma máscara cirúrgica quando estiverem na mesma sala que o paciente e higienizar as mãos frequentemente. Não são necessárias salas de pressão negativa, segundo o artigo. Também é vital que as superfícies hospitalares sejam descontaminadas por hipoclorito, de preferência. Os profissionais da saúde também devem receber máscaras do tipo Respiradores N95 que foram testadas, além de roupas e óculos de proteção. 

Você vê isso no Brasil fora dos grandes centros, amigo (a) leitor (a)?

 

Nota importante: o autor cita que um paciente pode ser liberado quando está em estágio afebril por mais de, no mínimo, três dias e que possui dois testes moleculares negativos com intervalo de coleta de um dia entre eles.

Em nível comunitário, deve-se evitar aglomerações e realizar o adiamento de viagens não essenciais. A recomendação é o famoso arroz com feijão: higienização das mãos e, na hora de tossir ou espirrar, fazê-lo na dobra do braço e antebraço, pois já se tem evidência que fazer isso nas mãos, como muitos ainda o fazem, é contraindicado, pois pode entrar em contato com outras pessoas em apertos de mão, por exemplo.

Espero que tenha gostado.

Até breve!


Referências

Artigo principal
https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/s12098-020-03263-6.pdf

  1. Rothe C, Schunk M, Sothmann P, et al. Transmission of 2019-
    nCoV infection from an asymptomatic contact in Germany. N
    Engl J Med
    . 2020. https://doi.org/10.1056/NEJMc2001468
  2. Zou L, Ruan F, Huang M, et al. SARS-CoV-2 viral load in upper
    respiratory specimens of infected patients. N Engl J Med. 2020.
    https://doi.org/10.1056/NEJMc2001737
  3. Kampf G, Todt D, Pfaender S, Steinmann E. Persistence of
    coronaviruses on inanimate surfaces and its inactivation with biocidal
    agents. J Hosp Infect. 2020 Feb 6. pii: S0195–6701(20)30046–3.
  4. Chen H, Guo J,Wang C, et al. Clinical characteristics and intrauterine
    vertical transmission potential of COVID-19 infection in nine
    pregnant women: a retrospective review ofmedical records. Lancet.
    2020. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30360-3
  5. Cheng ZJ, Shan J. 2019 novel coronavirus: where we are and what
    we know. Infection. 2020:1–9. https://doi.org/10.1007/s15010-020-
    01401-y
  6. Chen N, Zhou M, Dong X, et al. Epidemiological and clinical
    characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia
    in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet. 2020;395:507–13.
  7.  Xu XW, Wu XX, Jiang XG, et al. Clinical findings in a group of
    patients infected with the 2019 novel coronavirus (SARS-Cov-2)
    outside ofWuhan, China: retrospective case series. BMJ. 2020;368:
    m606.

Link da recomendação de uso de máscaras da OMS:
https://www.who.int/publications-detail/advice-on-the-use-of-masks-in-the-community-during-home-care-and-in-healthcare-settings-in-the-context-of-the-novel-coronavirus-(2019-ncov)-outbreak

 


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