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O médico deve ser Íntegro e Digno

O médico deve ser Íntegro e Digno
Hélio Angotti Neto
mar. 3 - 4 min de leitura
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A vigília sob a arte da medicina e a paixão pelo bom trabalho é o que realmente dignifica a medicina e mantém a integridade do médico. Isto pode ser visto neste último último artigo do Professor Hélio Angotti Neto sobre as Sete Virtudes do Médico.  Ele também é autor do livro "A Morte da Medicina", que está disponível para o kindle e para compra no site da Amazon.

INTEGRIDADE E DIGNIDADE MÉDICA

A ação decisiva da Integridade ocorre justamente no conflito de interesses envolvendo tentações diversas que acometem o médico em sua prática moderna.

Diante de um sutil suborno de um laboratório farmacêutico, cabe dizer não, cabe se afastar e repreender o ofertante malicioso. Aceitar tal influência perniciosa insere um interesse que pode suplantar o interesse primordial: beneficiar o paciente.

Diante de uma oferta de superfaturar a compra de equipamentos no serviço público ou de realizar procedimentos desnecessários, há de se ter integridade suficiente para se afastar e manter o foco, o médico não pode se perder.

As consequências individuais são funestas. A consciência se apaga e, de uma fraqueza moral inicial, o médico terminará domado, entregue a vontades que superarão sua vocação e deformarão seu caráter.

Na sociedade o resultado da destruição da Integridade Médica talvez seja ainda pior, pois o mal cometido por um indivíduo refletirá no nome de todo o grêmio profissional. Situação muito ilustrativa dos dias atuais no Brasil, onde o governo e a mídia destroem a reputação dos médicos utilizando exemplos decepcionantes de prática corrupta e maligna de alguns maus colegas.

Ao longo de mais de dois mil anos, há incontáveis textos que mostram como os médicos se preocuparam em tentar separar o joio do trigo e, junto com o benefício do paciente, beneficiar a profissão como um todo.

Tal é o papel dos atuais conselheiros dos órgãos de classe como o Conselho Federal de Medicina: proteger o paciente e proteger a honra e a integridade da profissão. Em nenhum momento se deveria esperar que o Conselho protegesse o médico, a não ser de si mesmo e da má prática dos inadequados à profissão. É duro falar isso, mas seria uma verdade óbvia para qualquer um que ainda possuísse um pingo de visão moral.

Fala-se muito em resgate da dignidade médica hoje em dia. Fizemos todos o nosso dever de casa? Exercitamos nossa integridade diariamente e resistimos com fortitude aos pequenos e grandes atos diários de fraqueza moral? Somos um exemplo digno para nossos filhos e colegas?

Ver órgãos de classe brigando por carreira médica e salários médicos, por mais que seja necessário dentro de certos limites, me entristece. Pedir carreira médica para o Estado é pedir um nó apertado na coleira, é vender nossos valores profissionais aos valores do Estado na medida em que teremos que nos adequar às exigências de pessoas que nem sempre priorizam a saúde do próximo.

Valorização se conquista, como conquistaram nossos antepassados de outras eras a duras penas, com grandes sacrifícios e exemplos imortalizados nos escritos de diversos povos e tempos[1]. Valorização é uma consequência decorrente de um objetivo alcançado, não o próprio objetivo pelo qual se luta.

Se alguém quiser uma dica sobre por onde começar, repito palavras proferidas por alguém incrivelmente mais sábio do que eu: tire primeiro a trave de seus olhos, e depois tire o cisco do olho do próximo. Se não trabalharmos quem somos, a própria raiz que somos estará apodrecida, e nossa profissão irá merecidamente parar na lama.

[1] JONSEN, Albert. A Short History of Medical Ethics. Oxford, New York: Oxford University Press, 2000.


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