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PRÉ-NATAL: O que devemos saber para acompanhar nossas gestantes

PRÉ-NATAL: O que devemos saber para acompanhar nossas gestantes
Luísa Tonin Sartoretto
dez. 3 - 10 min de leitura
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É notório que, a gravidez é um momento muito especial na vida de uma mulher e de uma família que está começando a ser construída.

Nesse momento, as mulheres passam por muitas experiências transformadoras, tanto na questão física como psicológica, bem como diversas alterações hormonais. Nesse momento também, há muitas dúvidas, tabus, inseguranças, opiniões alheias, sendo um momento em que a paciente precisa de informações corretas, um bom acompanhamento e uma rede familiar e de amigos concreta para que ela esteja bem amparada e tudo ocorra da melhor forma possível, com muito amor, respeito e empatia!

Como profissionais de saúde, sabemos a importância da realização de um pré-natal de qualidade.

Da mesma forma, devemos obter as informações necessárias para informar nossas gestantes dos benefícios da realização desse acompanhamento durante o período gravídico e os riscos se não for feito da maneira adequada.

Sabemos também, que a gestação é um momento de muitas dúvidas que podem gerar ansiedade nas futuras mamães, por isso, estar cercada de profissionais da saúde qualificados para acolher elas da melhor forma também é um modo de manter uma gestação tranquila e saudável.

O pré-natal é caracterizado por diversas medidas e cuidados gerais para promover benefícios a gestante e ao futuro bebê, também, é extremamente importante para a prevenção e detecção precoce de doenças materno-fetais.

Para tanto, o Ministério da Saúde recomenda que o pré-natal na atenção primária à saúde seja realizado até a 12ª semana de gestação para que haja uma captação precoce dessa gestante.

É importante garantir os recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários para a atenção pré-natal. É direito de toda a gestante ter assegurado os exames preconizados no atendimento pré-natal. A gestante deve ter direito a uma escuta ativa das suas particularidades, considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais.

Da mesma forma, seu parceiro deve ter direito ao acompanhamento das consultas e receber todas as informações necessárias para esse momento. A gestante e o seu parceiro devem ter informações a respeito da unidade de referência especializada caso seja necessário bem como conhecer o serviço de saúde em que ocorrerá o parto.

Todas as mulheres devem conhecer e exercer os seus direitos garantidos por lei nesse período gravídico-puerperal.

Para iniciar o acompanhamento do pré-natal e se a paciente vem com o desejo de engravidar, é importante que ela passe por uma consulta pré-concepcional, nessa consulta serão identificado os fatores de risco ou doenças que podem ter alguma alteração na futura gestação.

Nesse momento, será avaliado a presença de patologias como: DM, HAS, epilepsia, hepatites, problemas da tireoide, doença falciforme, para posteriormente realizar uma estratificação de risco para a paciente. Assim, será realizado uma anamnese completa, exame físico e ginecológico, solicitação e avaliação de exames.

Alguns exames muito importantes serão solicitados nessa fase são, que são: citopatológico de colo uterino rubéola IgM e IgG, hepatite B e C, HIV. Teste rápido de sífilis e VDRL, hemograma, glicemia de jejum, toxoplasmose IgG e IgM e parcial de urina.

Da mesma forma, os medicamentos prescritos serão o ácido fólico pra evitar anormalidades congênitas do tubo neural e deverá ser utilizado pelo menos 30 dias antes da gravidez. Com isso, nossas pacientes poderão iniciar a gestação de uma forma tranquila e saudável.

Devemos ter a garantia de que a paciente está grávida, além do exame BHCG alguns sinais são extremamente importantes de se observar. Que sinais são esses? Alguns são observados pela própria paciente, outros, com o auxílio de um profissional da saúde, são eles:

  • - sinais de presunção: que são os que a paciente vai relatar. Pode ser por exemplo: náuseas, vômitos, tonturas e atraso menstrual
  • - sinais de probabilidade: serão alterações físicas como a forma e a consistência do útero, consistência cervical amolecido.
  • - sinais de certeza: será a ausculta dos batimentos fetais através do BCF.

 Após esse momento, a paciente passa por uma triagem para avaliar o risco da gestação. Dessa forma, o risco pode ser avaliado em risco habitual, intermediário e alto risco. Em cada estratificação há particularidades que devem ser avaliadas juntamente com a paciente, lembrando sempre de avaliá-la como um todo. Também, não podemos esquecer que esse risco deve ser avaliado ao longo da gestação se a paciente permanece no mesmo risco. A estratificação é a seguinte:

  • risco habitual: nesse caso são gestantes sem fatores de risco individuais, patologias, estão aceitando bem a gestação, não possuem históricos de intercorrências clínicas ou obstétricas em gravidez anterior, por exemplo.
  • risco intermediário: nessa estratificação devemos nos atentar aos fatores de risco relacionados as características individuais como a raça negra ou indígenas, extremos de idade (menores de 15 anos e maiores de 40), baixa escolaridade, condições de moradia e trabalho desfavoráveis, falta de apoio familiar, uso de drogas lícitas ou ilícitas, transtornos depressivos ou de ansiedade. Também, histórico de intercorrências em gestações anteriores e condições ou intercorrências clínicas ou obstétricas na gestação atual.
  • alto risco: são fatores clínicos pré-existentes como doenças crônicas (HAS, cardiopatias, nefropatias, endocrinopatias, DM, pneumopatias), obesidade mórbida, sífilis, toxoplasmose, infecção pelo zika vírus, rubéola, ITUs de repetição, ginecopatias, neoplasias, pacientes com cirurgia bariátrica, psicose, depressão grave, Rh negativo, gemelaridade.

            Para um pré-natal de sucesso, a gestante deverá ter 6 ou mais consultas, sendo elas: mensais até a 30ª semana, quinzenais até a 36ª, semanais até o momento do parto e uma consulta no puerpério.

Em cada trimestre da gestação, serão solicitados exames de acordo com a idade gestacional e que serão exemplificados logo abaixo.

PRIMEIRO TRIMESTRE: 

A primeira consulta sempre será a que demandará mais tempo tanto do profissional da saúde como da paciente.

Nela, será avaliado o risco da gestante, serão coletadas informações sobre os aspectos sociais, antecedentes familiares, antecedentes pessoais, gerais, ginecológicos e obstétricos.

Enfim, será um momento de uma anamnese, exame físico e ginecológicos completos.

Esse é o momento também para a paciente começar a criar um vínculo com o local que está realizando o pré-natal, com os médicos, enfermeiros que cuidarão dela e do seu bebê durante toda a gestação. É muito importante termos uma escuta ativa, solucionar dúvidas, alertar sempre sobre sinais de alarme e ser uma figura de suporte à paciente nesse momento tão importante de sua vida.

Nesse momento também, é obrigatório a suplementação com ácido fólico para evitar defeitos no tubo neural do futuro bebê, e tem função importante também para a formação da placenta. Pode ser utilizado até as 12 semanas de gestação, não havendo necessidade de manter até o final.

Além disso, os exames complementares solicitados no primeiro trimestre da gestação são os seguintes: tipagem sanguínea ABO, RH, hemograma, TSH, glicemia de jejum, EAS, urocultura, parasitológico de fezes, Anti HCV e as seguintes sorologias: toxoplasmose IgG e IgM, sífilis VDRL e TR, anti HIV I e II, HbsAg (Anti-HBS). Ademais, ultrassonografia do 1º trimestre sendo a realização ideal de 7 a 9 semanas.

SEGUNDO TRIMESTRE:

            No segundo trimestre gestacional, serão solicitados: hemograma, TSH, sífilis VDRL, anti HCV, EAS-urocultura e colpocitologia oncótica. Também, haverá a solicitação de ultrassonografia morfológica do 2º trimestre idealmente entre 20 e 24 semanas.

TERCEIRO TRIMESTRE:

            Já no terceiro trimestre de gestação, os exames complementares são os seguintes: hemograma, TSH, sífilis VDRL, anti HIV 1 e 2, anti HCV, glicemia de jejum, EAS-urocultura e pesquisa de EGB. Além da ultrassonografia do 3º trimestre entre a 34 a 37 semanas.

            Além de todas as consultas e exames realizados, ainda não acabou!

Um ponto muito importante para se chamar atenção é acerca das imunizações. A paciente gestante deve ter todas as vacinações em dia, tomando cuidado sempre, que algumas não são recomendadas nesse momento.

As vacinas seguras e de rotinas são: difteria e tétano, coqueluche acelular (Dtpa), influenza e Hepatite B.

Algumas são utilizadas em situações especiais como por exemplo se a paciente for viajar para um local endêmico: Hepatite A, tuberculose (BCG) pneumococo, meningococo e raiva.

Já algumas vacinas são contraindicadas na gestação, podendo causar complicações como a restrição no crescimento do feto, por exemplo.

São elas: sarampo, rubéola, coqueluche, caxumba, varicela, febre amarela e poliomielite.

Devemos lembrar sempre que o acompanhamento pré-natal não é feito apenas por um profissional da saúde, trata-se de uma equipe multiprofissional que estará à frente conduzindo da melhor forma o acompanhamento da gestação. Incluem agentes comunitários de saúde, auxiliar/técnico de enfermagem, enfermeiro, médico, cirurgião-dentista. Ademais, ter uma rede social concreta com família e um parceiro é de extrema valia para o bom andamento ao longo dos 9 meses de gravidez.

A união de uma equipe multiprofissional com profissionais competentes e dispostos a acompanhar a paciente somando ao comprometimento da paciente e dos seus familiares com a gestação, tornará esse momento inesquecível para todos.

           

REFERÊNCIAS:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012.

Zugaib obstetrícia / editor Marcelo Zugaib; editora associada Rossana Pulàneli Vieira Francisco - 3. ed. - Barueri, SP: Manole, 2016.


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