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Prescrição para longevidade: zonas azuis

Prescrição para longevidade: zonas azuis
Naiara Costa Balderramas
jun. 24 - 5 min de leitura
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Em 2004, Michel Poulain e Giovanni Mario Pes publicaram na revista Experimental Gerontology um artigo sobre determinada região na Sardenha/Itália, onde os homens apresentavam-se especialmente longevos, sendo a maior proporção de homens com mais de 100 anos de todo o mundo. Inicialmente questionaram se essa vitalidade estava associada principalmente a fatores genéticos e qual seria a importância dos fatores ambientais para esse recorde. Essa região foi então chamada Blue zone ("Zona Azul"). 

Em seguida, 4 outras regiões apresentaram padrões de longevidade semelhantes: Icária/Grécia, Okinawa/Japão, Loma Linda/EUA e Nicoya/Costa Rica. Essas são as chamadas Zonas Azuis. Por meio de pesquisas de campo, além de estudos científicos acerca das causas da longevidade nesses territórios, o jornalista da National Geographic, Dan Buettner, junto com geógrafos, estatísticos e outros estudiosos, criaram o "Project Blue Zones", no qual se baseiam em 9 pilares ("Power 9") que levariam à longevidade. São eles (em livre tradução):

#1 - Move naturally

Baseia-se na atividade física cotidiana como principal fonte de exercício. Propõe que as cidades sejam replanejadas visando permitir o deslocamento a pé ou de bicicleta na maior frequência possível, além de outras iniciativas.

#2 - Purpose

Ter um sentido na vida, seja ele qual for, que lhe faça levantar da cama todas as manhãs. 

#3 - Down shift

Desacelerar. Buscar atividade que levem ao descanso e prazer, seja por meio de um hobby, meditação ou qualquer atividade que ajude a reduzir o estresse do cotidiano.

#4 - 80% rule

Comer o suficiente para sentir-se 80% cheio. Nada de comer em excesso, sempre sentir vontade de algo mais.

#5 - Wine at 5

Ingestão moderada e diária de vinho, no máximo duas taças, seja com os amigos no happy hour a partir das 5 ou durante as refeições. Sendo que este benefício existe apenas para pessoas que já fazem ingestão de álcool, não sendo observado por aqueles que não possuem previamente o hábito de beber. 

#6 - Plant slant

Aumento no consumo de plantas, sejam frutas, legumes ou grãos. As proteínas de origem animal devem ser restritas a 5% diariamente, ou uma vez por semana.

#7 - Right tribe

Participar de grupos com os mesmo princípios. Sejam amigos do colégio, grupo de ciclismo, vizinhos. Tenha um grupo que lhe apoie e permaneça longamente em contato, estimulando e dando suporte a hábitos saudáveis. 

#8 - Belong

Participar de algum grupo religioso, não importa que tipo de religião ou doutrina, mas que esteja diretamente ligado ao conceito de fé. 

#9 - Loved ones first

A família deve estar sempre em primeiro lugar, próxima e participativa.


Apesar do conceito ter surgido em cidades onde os hábitos já eram culturalmente estabelecidos, a ideia do Project Blue Zones é que essas mudanças podem ser implementadas em qualquer cidade. Baseado nisso, elas foram ofertadas a alguns governos dos EUA como forma de política pública, visando redução dos índices de doenças crônicas e redução de despesas médicas, além do aumento da longevidade.

Esse conceito, porém, divide entre o Estado e o indivíduo a responsabilidade em relação à sua própria saúde, sendo identificado por alguns autores como uma neoliberalização da saúde pública. Eric D. Carter, expôs na revista Social science & Medicine em maio/15, sua análise crítica acerca da transferência de responsabilidades do Estado com a promoção da saúde, além da parceria público-privada, criação de "comunidades" e transferência de responsabilidades do Estado a essas comunidades, não levando em consideração características próprias das localidades, como índice de desemprego, aspectos étnicos e educacionais.

Algumas pontos descritos no texto de Carter foram modificados no site do Blue Zones Project, porém o conceito principal de autorresponsabilidade seria realmente uma estratégia de neoliberalismo ou um elemento fundamental para desenvolvimento das características necessárias ao controle das doenças crônicas e alcance da longevidade? Lembremos que as regiões descritas inicialmente possuíam características culturalmente bem estabelecidas, sem que tivessem sido impostas por um governo, ou sem qualquer interferência externa objetivando tornar os cidadãos responsáveis pela sua saúde. 

Qual a sua opinião? E de que forma podemos promover a melhoria da saúde, sem reduzir direitos do cidadão e deveres do Estado? Comente!

 


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Fontes:

- POULAIN, M et al. Identification of a geographic area characterized by extreme longevity in the Sardinia island: the AKEA study. Experimental Gerontology. Volume 39, Issue 9, September 2004, Pages 1423-1429

BUETTNER, D. & SKEMP, S. Blue Zones: Lessons From the World’s Longest Lived. Am J Lifestyle Med. 2016 Sep-Oct; 10(5): 318–321. 

- CARTER, E.D. Making the Blue Zones: Neoliberalism and nudges in public health promotion. Social Science & Medicine. Volume 133, May 2015, Pages 374-382 

 

Nota do editor: Publicado originalmente em 29/03/2019.


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