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Neurociência e a Arte de Superar Mudanças

Neurociência e a Arte de Superar Mudanças
Fernando Carbonieri
mar. 6 - 6 min de leitura
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Neurociência e a Arte de Superar Mudanças

Uma teoria sobre a dificuldade de mudança de plataformas de software

por Rogério Luz Coelho

Mudanças são necessárias. Quando falamos de Software Livre (SL), então, não só são necessárias como são obrigatórias, ainda mais em empresas que querem se manter competitivas em mercados muito acirrados ou na esfera global. Não existe uma razão inteligente para que uma empresa gaste milhares ou milhões em licenças de software quando temos substitutos adequados em SL.

Por outro lado, mesmo com uma suíte de escritório madura como o LibreOffice 3.6 (e recentemente 4.0), mesmo mostrando os benefícios que essa iniciativa de coautoria traz para o desenvolvimento da informática em geral, mesmo que a alternativa paga seja inferior (como no caso do verificador ortográfico do LibreOffice, o Vero, que é muito superior ao do padrão pago), ainda encontra-
mos muita resistência quanto ao uso desses softwares. A pergunta é: por quê?

Talvez o problema não seja a falta de preparo ou a maneira que o departamento de TI está fazendo a transição. Talvez o problema seja como o nosso cérebro está (ou não) preparado para lidar com essas mudanças. O cérebro é provavelmente a estrutura mais complexa que conhecemos. Mas estudos recentes têm cada vez mais mostrado como ele funciona, e dessa maneira conseguimos fazê-lo funcionar melhor ou de forma mais útil para nós.

Sabemos, por exemplo, que o cérebro tem uma capacidade de memória teórica que beira o infinito. Mas por que, então, às vezes esquecemos o telefone que nos foi dito 10 segundos atrás, por que todos aprendemos os últimos sucessos do rádio, mas esquecemos a matéria que aprendemos para a prova?

Isso se deve em razão da maneira que o cérebro funciona. Ao contrário de um computador, não há um lugar ou “arquivo” onde guardamos o telefone que nos disseram. Para o cérebro funcionar devem ser desencadeados certos mecanismos eletroquímicos em suas conexões chamadas sinapses. E a grande vantagem do cérebro, em relação aos computadores atuais, é que o cérebro pode modificar a si mesmo para realizar funções que antes não conseguia.

Essas modificações em número e configuração das sinapses se chamam “plasticidade neuronal”. É muito útil para que consigamos nos adaptar a novas formas de pensar, viver e ver a vida. O grande problema é que essa mudança de conformação não ocorre de uma hora para outra e que, além disso, há um enorme gasto de energia por parte do cérebro em si para que isso ocorra.

Como todo sistema auto regulatório que se preze, o cérebro é averso a gasto desnecessário de energia. Por isso, ele se configura de uma maneira em que ele não precise mudar muito e, assim, não precise gastar tanta energia para essas mudanças. Isso é a razão de fazermos tanta coisa no “piloto automático”.

Um exemplo disso é aprender a dirigir. No começo tínhamos que prestar tanta atenção em quando e como pisar no freio e trocar as marchas que não conseguíamos pensar em outra coisa. Assim que  aprendemos e ficamos confiantes, conseguimos conversar, pensar no almoço, na reunião (e, para certas pessoas, é até possível se maquiar) sem nem lembrar se pisamos ou não na
embreagem. Isso ocorre também com a maioria das coisas na nossa vida, inclusive com a suíte de escritório que as pessoas usam no seu dia a dia.

Se vamos ter o trabalho de fazer uma mudança tão importante na maneira como as pessoas trabalham, devemos ter em mente a resistência do cérebro das pessoas a essa mudança. Temos que explicar o porquê dessa mudança, fazer as pessoas se interessarem por aprender, fazer o aprendizado divertido e interessante (pois quanto mais nos divertimos e nos sentimos bem fazendo algo, mais rápido o cérebro o torna automático). Que tal começar com coisas que as pessoas podem fazer e já sabem como, por exemplo os atalhos de CTRL+C e CTRL+V, abrir e salvar programas, botões de negrito, sublinhado, etc.? Depois disso podemos passar para problemas operacionais e suas diferentes maneiras de serem resolvidas com o LibreOffice.

Lembrem-se: façam as mudanças e o aprendizado se tornar divertido. Uma boa maneira de começar é o verificador ortográfico Vero. Mostrem as vantagens, mostrem a beleza que é ficar sem energia em um computador (um que não seja usado em ambiente de produção, obviamente) e quando  reiniciá-lo ter o LibreOffice ali, perguntando se queremos recuperar os documentos abertos. Não imponha o software, consiga aliados que vão divulgá-lo positivamente aos colegas. E lembrem-se: se vocês estiverem se divertindo ao ensinar é mais fácil de conseguir que os outros se divirtam ao
aprender.

Boa transição e bem vindo ao mundo do Software Livre, diversão garantida!

Rogério Luz Coelho é Médico de Família e Comunidade, Especialista em Acupuntura Médica, Professor e Preceptor de Medicina de Família pela FEPAR / Hosp. Evangélico de Curitiba / PR e Desenvolvedor Principal para o Brasil do projeto GNUmed (um prontuário eletrônico escrito em Python que usa PostgreSQL e que é o aplicativo principal do projeto Debian- Med internacional).


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