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100 anos do curso de Medicina da UFPR

100 anos do curso de Medicina da UFPR
Fernando Carbonieri
abr. 9 - 8 min de leitura
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100 anos do curso de Medicina da UFPR

Sou curitibano, nascido e criado na capital do Paraná.  Por isso mesmo posso afirmar que, mesmo não tendo feito faculdade de medicina na Universidade Federal do Paraná compartilhei de muitas de suas estruturas.

É a partir da UFPR que a medicina no paraná se iniciou e é a partir de sua história que as demais instituições nasceram ( de uma forma ou de outra) em todo o Estado.

Não poderíamos deixar de mencionar os 100 anos de conquistas e proliferação do conhecimento que a UFPR desempenhou. Para isso reproduzo a carta do Diretório Acadêmico de Nilo Cairo, publicada ontem no Facebook. Sem ufanismo, o diretório não só aponta as conquistas realizadas pela instituição, mas também pontua os sequenciados estupros governamentais ( do Governo Federal) que subtraem dignidade de um dos maiores hospitais do sul do país - Hospital de Clínicas - UFPR.

Confira a seguir a nota publica veiculada pelo DANC - UFPR:

Nota sobre as comemorações do 100 anos do curso de Medicina da UFPR

O curso de Medicina da UFPR orgulhosamente completa seus 100 anos na segunda semana de maio. Cabe a nós, estudantes do centenário, a satisfação de sabermos que passamos pela universidade nesse momento importante. À contragosto, uma análise menos empolgada nos mostra que a desejada celebração corre o risco de ser marcada como um ponto infeliz na história do nosso curso, que também é a história do nosso Hospital de Clínicas.

Parece-nos um tanto incoerente a organização de uma festa para lourear o sucesso de um curso de Medicina cujo hospital universitário, seu campo de estágio principal, se encontra prestes a fechar. Fato que ocorrerá caso se leve a cabo a demissão dos mais de 900 funcionários da FUNPAR, que esmeradamente se dedicam num trabalho com finalidade dupla: tanto a promoção à saúde dos pacientes do SUS, quanto ao processo de ensino-aprendizagem de vários cursos da saúde, em especial a Medicina. Diz-se que Medicina se aprende à beira do leito, mas como estudar quando ao redor de cada paciente se aglomeram 20 alunos? Como nos qualificar quando nem mesmo o processo de atenção à saúde consegue ser mantido no 3º maior Hospital Universitário público do Brasil?

Na contramão do sonhado financiamento público para o Hospital de Clínicas, são empresas como a UNIMED que pagam as camisetas que vestiremos ao comemorar 100 anos. Um plano de saúde como tantos outros, e que como tantos outros poderá se beneficiar caso a gestão do HC passe a ser centralizada pela EBSERH, empresa pública de direito privado, que tem liberdade para firmar contratos e captar recursos não públicos, e que vem sendo proposta como única alternativa para a manutenção das atividades do hospital, já que para além dos 936 trabalhadores que não tem nada pra comemorar nesse centenário, faltam mais de 770 outros no mesmo hospital, em decorrência dos vários anos sem concurso público. Em clima depressivo, a mesma UNIMED tem seu espaço garantido até mesmo com fala na semana de festejos. Sem alegria da nossa parte, ainda é capaz de ter a fala mais esperançosa da programação!

Além de tudo, é cobrado do DANC e de outras entidades representativas dos estudantes a realização de atividades de promoção à saúde do estudante e da população em virtude dos eventos. Talvez não seja a hora de simplificar a promoção à saúde ao trata-la como simplesmente medir pressão ou aplicar teste rápido de Glicemia ou HIV enquanto o maior prestador de serviços ao SUS no Paraná passa por sua maior crise. Também, vemos que a verdadeira promoção à saúde do estudante só se dará com medidas que o DANC há muito já expõe, como a vacinação dos estudantes, a expansão da oferta de atendimento a saúde dentro da UFPR, bem como medidas de reformulação do currículo que reduzam nosso stress habitual e liberem algum tempo pra fazermos atividades físicas para além de correr no Barigui no final de semana do centenário.

Mesmo assim, concordamos que é legítimo celebrar! 100 anos de história dentro da Universidade mais antiga do país nos renderam muitos bons médicos formados, centenas de protocolos de tratamento desenvolvidos, milhares de pacientes salvos! Somos hoje referência em várias áreas do conhecimento e ainda ocupamos bons índices nos sistemas de avaliação acadêmica. Com todas as nossas dificuldades, que não são poucas, ainda é possível formar bons profissionais aqui. Mas isso não se deu sem lutas, como as que inauguraram o HC há 50 anos e nos garantiram um restaurante universitário, bem como as mais recentes que nos garantirão materiais e a manutenção da disciplina de Técnica Operatória, que será homenageada na mesma semana.

E quanto aos festejos, nada melhor para fechar as solenidades do que um jantar no Restaurante Madalozzo... a “míseros” R$ 50,00! Afinal, em tempo de RU fechado todo mundo pode esbanjar. Só festeja quem pode, não quem quer.

Nós da Gestão “O Pulso Ainda Pulsa”, representando o DANC, participaremos da comissão organizadora do evento do centenário. Porém manteremos nossas críticas quanto à realização do mesmo nas atuais condições. Há muitos motivos para se orgulhar da Medicina UFPR, mas não dessa forma de celebração de centenário. Essa data poderia ser usada para conseguir visibilidade e apoio para as nossas causas, levantar apoiadores e trazer a opinião pública para lutar ao nosso lado em apoio à revitalização do nosso Hospital e do nosso curso. Ao contrário disso, vemos esforços em fazer um abaixo-assinado para trazer de volta uma mesa histórica para a medicina que está na engenharia. Um erro quase vergonhoso no enfoque do que seria o verdadeiro problema. Tão triste quanto ignorar tantas demandas importantes é ainda ter buscado apoio financeiro para a realização da festa em entidades que desvalorizam o trabalho médico e precarizam a atenção ao paciente.

É por isso que tentamos expor este posicionamento na reunião da comissão organizadora e manifestamos nossa decisão de, nessas condições, não colocar o nome da Gestão, nem de nenhum integrante dela, em qualquer placa que venha a ser feita como recordação desse evento.

Ficamos muito felizes em ser a Gestão do DANC no ano do centenário da Medicina e prometemos que ele será marcado por grandes feitos! Não deixaremos de fazer o resgate histórico desses 100 anos, manteremos ações em defesa das nossas conquistas nesse tempo – hospital universitário, educação pública e gratuita, assistência estudantil - e também teremos festa! Mas fica o convite para que todos os estudantes reflitam conosco a respeito dos reais motivos para comemorar e quais as mudanças que necessitamos fazer. Participem das atividades organizadas pela Universidade, mas também das que o DANC vai promover!

Mas um aviso: fechar os olhos aos problemas não fará com que eles sumam. Se do passado tiramos a tradição e o aprendizado, é preciso olhar para frente com olhos de que quem quer interferir para transformar e efetivamente fazer desses 100 anos uma data de orgulho!

“Não basta ter sido bom quando deixar o mundo. É preciso deixar um mundo melhor.” Bertold Brecht


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