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A Conexão Social como Principal Fator de Proteção Contra a Depressão

A Conexão Social como Principal Fator de Proteção Contra a Depressão
Fernanda Myllena Sousa Campos
set. 22 - 5 min de leitura
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No mês da prevenção contra o suicídio - Setembro Amarelo, a Academia Médica discute alguns fatores relacionados ao “mal do século”, que faz mais de  800 mil vítimas por ano, entre elas grandes figuras públicas, como Kurt Cobain, Marilyn Monroe e Santos Dumond.¹

A depressão, principal causa de incapacidade em todo o mundo, é resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos, biológicos e sociais. Sensação de inadequação, desânimo, pessimismo, anedonia (incapacidade de sentir prazer) e tristeza persistentes são alguns dos transtornos de humor mais comuns do espectro depressivo.²

Em um recente artigo publicado no Jornal Americano de Psiquiatria,  pesquisadores da Harvard Medical School, baseados em dados do Hospital Geral de Massachusetts, apontam a conexão social como o fator de proteção mais forte para a depressão, e sugerem que a redução de atividades sedentárias, como assistir TV e cochilar durante o dia, também pode ajudar a diminuir o risco da doença. ³⁻⁵

Para atingir esses resultados, os pesquisadores adotaram uma abordagem em duas fases. A primeira etapa baseou-se em um banco de dados de mais de 100.000 participantes do  ‘Biobank britânico’ (um estudo de coorte de adultos de renome mundial) para examinar diversos fatores modificáveis ​​que podem estar associados ao risco de desenvolver depressão, incluindo interação social, uso das mídias sociais, padrões de sono, dieta, atividade física e exposições ambientais. Este método, conhecido como varredura de associação por ampla exposição (ExWAS), é análogo aos estudos de associação do genoma (GWAS) que têm sido amplamente usados ​​para identificar fatores de risco genéticos para doenças.⁵ 

O segundo estágio agrupou os fatores modificáveis considerados ​​mais fortes do ExWAS, e aplicou uma técnica chamada randomização mendeliana (RM) para investigar quais podem ter, de fato, uma relação causal com o risco de depressão, excluindo possibilidades de apenas correlações. Esta abordagem em dois estágios permitiu aos pesquisadores estreitar o campo para um conjunto menor de fatores promissores e potencialmente causais para a depressão.³⁻⁵

“De longe, o mais proeminente dos fatores (de proteção) foi a frequência de troca de confidencialidades, além de visitas a familiares e amigos, os quais destacaram o importante efeito protetor da conexão e da coesão social. Esses fatores são, agora mais do que nunca, muito relevantes, já que estamos em um momento de distanciamento físico e separação de amigos e familiares”, disse o autor sênior do estudo, Jordan Smoller, professor de psiquiatria e chefe associado de pesquisa no Departamento Geral de Psiquiatria do Mass General.³⁻⁴

Os efeitos protetores da conexão social parecem ser mediados por hormônios e neurotransmissores liberados em escalas variáveis durante o contato entre pessoas, como a endorfina, a ocitocina e a serotonina. Esses efeitos estão presentes mesmo em indivíduos que apresentam maior vulnerabilidade genética para desenvolver depressão ou traumas no início da vida. Outros fatores associados ao risco de depressão incluem o tempo gasto assistindo TV, a tendência para cochilos diurnos e o uso regular de multivitamínicos.³⁻⁴

O surgimento de fatores sociais como os mais robustos, entre muitos outros alvos modificáveis, sugere que os esforços para neutralizar a desconexão nos níveis social e individual - seja por meio de prescrições de atividades sociais ou reduzindo o estigma da busca por apoio emocional - devem ser centrais para uma agenda efetiva de prevenção da depressão.

Sendo assim, o estudo demonstra uma nova e importante abordagem de avaliação dos fatores envolvidos na gênese da depressão, que podem ser utilizados para priorizar alvos de prevenção, uma vez que se tratam de comportamentos passíveis de modificação, mesmo em face da vulnerabilidade genética ou ambiental.  Além disso, o estudo também chama atenção para necessidade de mais pesquisas em torno dessa doença, que atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o planeta.

“A depressão tem um impacto enorme sobre os indivíduos, famílias e sociedade, mas ainda sabemos muito pouco sobre como evitá-la”, afirma Smoller.³⁻⁴

 

REFERÊNCIAS

1. Folha informativa - Depressão. Organização Pan Americana de Saúde, Organização Mundial de Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5635:folha-informativa-depressao&Itemid=1095. Acesso em 04/09/2020.

2. KALOYAN, K. et al. Analysing Psychosocial Difficulties in Depression: A Content Comparison between Systematic Literature Review and Patient Perspective. BioMed Research International. 2014. https://doi.org/10.1155/2014/319634.

3. Study of more than 100 modifiable factors for depression identifies social connection as the strongest protective factor. Massachusetts General Hospital n.d. https://www.massgeneral.org/news/press-release/Study-of-more-than-100-modifiable-factors-for-depression-identifies-social-connection-as-the-strongest-protective-factor (accessed September 04, 2020).

4. Depression Factors n.d. https://hms.harvard.edu/news/depression-factors (accessed September 04, 2020).

5. Choi KW, Stein MB, Nishimi KM, Ge T, Coleman JRI, Chen C-Y, et al. An Exposure-Wide and Mendelian Randomization Approach to Identifying Modifiable Factors for the Prevention of Depression. AJP 2020:appi.ajp.2020.1. https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2020.19111158.

 


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