Quantos de nós já falamos que tratar pacientes difíceis é um problema ou pelo menos já ouvimos a afirmação que tal paciente não melhora porque ele não quer se tratar? Na minha faculdade, certa vez, cheguei a ouvir em uma aula sobre distúrbios plurimetabólicos a seguinte afirmação: "diabéticos, hipertensos e/ou obesos são mentirosos por natureza."
Eu mesmo repeti isso durante os 3 anos seguintes, inclusive para minha mãe, que demorou muito tempo para acertar o tratamento medicamentoso de sua diabetes. O medicamentoso apenas, pois até agora não consegui fazer com que ela dedicasse alguns poucos minutos de seu dia para realizar alguma atividade aeróbica.
Porém, hoje, gostaria de analisar a afirmação do meu mestre. Se diabéticos, hipertensos e obesos são mentirosos por natureza, o que nós - que lidamos com fatos e confrontamos informações quando elas não nos são claras - podemos fazer por essas pessoas? Não clientes, não pacientes, mas sim, pessoas.
Todos elas foram informadas sobre a mudança de hábitos de vida que eles deveriam instituir no dia a dia. Que isso só lhes traria benefícios. A todos foi dito que fumar causa câncer, que comer açúcares e gorduras descompensa o diabetes e aumenta o risco cardiovascular, a todos foi dito, às vezes até ordenado, para que comece uma atividade física regular. E por que não o fazem?
Agora retomo uma frase de outro professor. O Dr. Ivo Ronchi Junior, hematologista, professor da FEPAR e da UFPR, falou-me certa vez:
"Se um paciente não aderir ao tratamento proposto será uma falha sua como médico."
Isso acontece porque você, como médico, foi incapaz de informar, de uma maneira que o paciente entenda, porque ele deve mudar aquilo que sempre foi sua rotina. O vídeo que coloco a seguir traz uma frase bem interessante:
"Uma melhor saúde não é um problema de ciência e sim de informação."
Para tirar um pouco do peso sobre nós, o Dr. Thomas Goetz* demonstra outros meios que são falhos e poderiam melhorar em muito o entendimento individual. Basicamente, ele afirma que a aderência ao tratamento é conseguida com compromissos e não com o medo das consequências. A informação inteligível ao paciente é crucial nesse processo de empoderamento.
Para ajudar nisso, em sua palestra "É hora de reformular os dados médicos", no TED de 2010, Goetz demonstra como rótulos de medicamentos podem ser melhor estruturados e, principalmente, como resultados de exames podem auxiliar a conseguirmos essa cooperação do paciente com sua própria saúde.
Assista o vídeo e diga-nos o que achou das propostas do Dr. Goetz para melhorar o entendimento das pessoas sobre sua condição e, assim, agir para efetivar o tratamento. A palestra foi realizada em 2010. O que melhoramos nesses últimos 10 anos comparado com as propostas do Dr. Goetz?
*Thomas Goetz é comunicador de saúde e autor de "A árvore de decisão: assumindo o controle de sua saúde na nova era da medicina personalizada".