Poucas são as pessoas que sabem que acabamos de passar pelo mês da doação de órgãos, referente ao dia nacional desta data celebrado anualmente em 27 de Setembro. Menor ainda é a parcela da população, científica e não-científica, que conhece adequadamente os mitos e verdades sobre doação de órgãos e tecidos para transplante, bem como a morte encefálica (ME).
Esta atual realidade em nosso país implica na situação em que nos encontramos: baixo número de doações para uma alta demanda de pacientes em fila para transplante.
O desconhecimento sobre estes temas implica não apenas na negativa familiar no processo de entrevista, mas também na redução da abertura de protocolos de ME por parte dos profissionais médicos. Enquanto isso acontece, pacientes na fila de espera evoluem a óbito por ter o transplante como única medida terapêutica.
Para mudar esta realidade em nosso país, vamos esclarecer mais sobre o assunto?
A morte encefálica, também denominada morte cerebral, é definida como a perda irreversível das atividades elétricas e metabólicas do encéfalo, bem como ausência de circulação cerebral. Para abrir um protocolo de ME o paciente deve ser avaliado em escala de Glasgow 3, sem sedativos por mais de 24 horas, com causa do coma obrigatoriamente conhecida e irreversibilidade do quadro devidamente comprovada.
Descartada a presença de medicamentos bloqueadores de junções neuromusculares, drogas depressoras do sistema nervoso central e de síndromes como a "Síndrome do Locked-in", devem ser feitos testes de reflexos do tronco encefálico, sendo os principais: pupilar, corneopalpebral, oculocefálico, oculovestibular e teste de apnéia (PCO2>55mmHg em gasometria arterial caracteriza ausência de resposta do centro cardiorrespiratório).
Tendo todos estes reflexos obrigatoriamente ausentes, deve-se comprovar a ausência de atividade elétrica, metabólica e circulatória por meio de exames complementares como o eletroencefalograma (EEG), tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) e angiografia digital, respectivamente, a exemplo.
Vale ressaltar que toda esta avaliação deve ser feita por dois médicos diferentes, sem acesso ao resultado do outro, com um intervalo de 6 horas entre as avaliações e um deles deve ser obrigatoriamente neurologista ou neurocirurgião.
Com o diagnóstico de morte encefálica estabelecido, pode-se então comunicar o óbito aos parentes e fazer a entrevista familiar para a doação de órgãos. Se a resposta for positiva à doação o corpo é encaminhado para a cirurgia de captação de órgãos. Caso negativa, a manutenção hemodinâmica e hidroeletrolítica do corpo deve ser imediatamente suspendida.
Possuindo o conhecimento sobre como proceder quando um paciente comatoso evolui para morte encefálica e está apto à doação de órgãos pode mudar a realidade de muitas pessoas que aguardam uma nova chance de viver em filas de espera para transplante.
Autor: Rafael Gaspar de Almeida Zell
Faculdade: Centro Universitário do Pará
Período: 6º