No âmbito da pesquisa científica contemporânea, uma descoberta intrigante vem capturando a atenção de especialistas em todo o mundo: medicamentos inicialmente desenvolvidos para tratar a obesidade estão demonstrando potencial para combater uma ampla gama de outras doenças, desde dependências químicas até transtornos neurodegenerativos. Em um laboratório especializado em Baltimore, no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, cientistas estão utilizando um cenário de bar para investigar se esses medicamentos podem também reduzir os desejos por álcool. Este ambiente inusitado é parte de um esforço para compreender como os medicamentos antiobesidade podem abordar vícios diversos, como o alcoolismo e o tabagismo.
Esses medicamentos, conhecidos como agonistas do receptor de peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), já são associados a uma diminuição do risco de morte, AVCs e ataques cardíacos em pessoas com doenças cardiovasculares, além de oferecerem potenciais benefícios para condições como apneia do sono, doença de Parkinson, doença hepática gordurosa, Alzheimer, disfunção cognitiva e complicações relacionadas ao HIV. A eficácia desses medicamentos em uma variedade tão vasta de condições sugere que eles agem não apenas na redução do peso, mas também em mecanismos biológicos fundamentais compartilhados por diversas doenças.
Os agonistas de GLP-1 operam imitando um hormônio natural, atuando tanto no intestino quanto no cérebro. No intestino, estimulam a liberação de insulina, suprimindo o apetite e desacelerando a digestão. Já no cérebro, influenciam regiões responsáveis pelo controle do apetite, humor e motivação. A capacidade destes medicamentos de alcançar o cérebro, ainda que parcialmente, permite-lhes modular caminhos neurais envolvidos no reconhecimento de recompensas e na regulação da saliência, o que pode explicar sua eficácia em reduzir comportamentos compulsivos e vícios.
Fonte: Nature
Além disso, esses medicamentos parecem oferecer benefícios independentes da perda de peso, como na redução da inflamação, um fator contribuinte para várias doenças crônicas. No caso de doenças neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, os efeitos anti-inflamatórios dos medicamentos GLP-1 podem melhorar a função mitocondrial dos neurônios e, por consequência, suas capacidades motoras e cognitivas.
As implicações dessas descobertas são vastas. A capacidade dos medicamentos GLP-1 de impactar positivamente uma série de condições através de mecanismos que vão além do controle metabólico sugere um novo horizonte na medicina farmacológica. Contudo, os especialistas alertam para a necessidade de cautela, especialmente no uso prolongado desses medicamentos e em pacientes que não apresentam obesidade, dadas as possíveis reações adversas.
Esta pesquisa é um lembrete da complexidade dos sistemas biológicos humanos e de como medicamentos desenvolvidos para uma finalidade específica podem, beneficiar outras áreas da saúde de formas ainda não totalmente compreendidas.
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Referência:
Lenharo, M. (2024, 25 de setembro). Why do obesity drugs seem to treat so many other ailments? Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-03074-1