A toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum começou a ser estudada como opção terapêutica no século XIX, com a finalidade de tratar espasmos musculares. Aliada, atualmente, ao rejuvenescimento humano com prevenção de rugas ou linhas de expressão, tal técnica também mostra-se eficaz no tratamento de algumas síndromes dolorosas, a exemplo da enxaqueca.
Histórico
A bactéria Clostridium botulinum foi originalmente isolada em 1895, pelo professor E. van Ermengem, quando membros de uma casa noturna sofreram paralisia depois de consumir presunto salgado e malpassado, em Ellezelles, Bélgica. Ao longo dos anos, após a descoberta inicial, estudos e tentativas de purificar o agente causador do organismo que induzia a paralisia muscular foram realizados, mas apenas em 1946 a toxina butolínica foi purificada e teve seu mecanismo de ação descrito. Assim, Dr. Vernon Brooks determinou que a paralisia era causada por um bloqueio na liberação de acetilcolina da placa motora terminal ao fim da junção neuromuscular.
Aprovada inicialmente para tratamento de uma série de distúrbios como o blefaroespasmo, estrabismo e espasmo hemifacial, observou-se que a toxina provocava uma redução do aparecimento de linhas de franzimento destes pacientes. Tais descobertas impulsionaram outros pesquisadores a tratar grupos musculares específicos a fim de reduzir linhas de expressão e, consequentemente, popularizar o uso da substância com o intuito de promover o rejuvenescimento.
Estudos posteriores apontam a utilização da toxina para modular estruturas neurológicas relacionadas a dor. A enxaqueca crônica, por exemplo, é reduzida drasticamente, bem como a frequência das crises.
Mecanismo de ação na enxaqueca
É de caráter basilar a menção de que algumas dores de cabeça têm em suas origens contrações musculares prolongadas, que resultam em uma redução do fluxo sanguíneo e de oxigênio e, consequentemente, na sensação de dor.
Sendo assim, nesses casos, após a aplicação intramuscular, a toxina faz uma ligação com as terminações nervosas da junção neuromuscular, o que inibe a liberação de neurotransmissores. Com isso, a contração do músculo é também impedida, ocasionando o relaxamento muscular. A melhora é significativa em pontos da cabeça e região cervical com pontos de tensão muscular.
Uma vez injetada, a toxina leva aproximadamente quatro dias para que seu efeito se torne visível clinicamente, pois depende de um tempo para que a molécula se ligue ao terminal nervoso motor, sofra a internalização via endocitose mediada por receptor e bloqueie a liberação de ACh por intermédio da inativação das proteínas dos complexos SNAP-25 ou VAMP SNARE.
Uso da toxina no tratamento de enxaqueca
O tratamento da enxaqueca com a toxina butolínica é produto de inúmeras pesquisas que demonstram a sua eficácia. Além disso, é uma terapia aprovada pela ANVISA e geralmente indicada para pacientes com mais de quinze dias de dor por mês, por no mínimo três meses, com características da enxaqueca tais como a lateralidade, pulsatilidade, aversão a luz e barulho e intensidade moderada a forte.
Nota-se, assim, uma melhora significativa na prevenção de outras crises, já que seu mecanismo está na combinação do relaxamento de pontos que eram excessivamente estimulados e contraídos com a inibição do sinal doloroso.
Após estabelecer a relação entre a toxina e o tratamento da dor crônica, norteou-se as pesquisas da sua aplicação em dor neuropática e dor na lesão medular.
Pontos aconselháveis
O tratamento consiste na aplicação da toxina botulínica por meio de uma agulha extremamente fina, em 31 a 39 pontos.
Para realizar o bloqueio da acetilcolina, e de outras substâncias como norepinefrina, glutamato, substância P e peptídeo relacionado ao gene da calcitonia, é necessária a aplicação em determinados pontos como:
- Região frontal;
- Testa;
- Sobre o supercílio;
- Região temporal;
- Região occipital;
- Região cervical alta;
- Trapézio, em ambos os lados.
Desse modo, destaca-se a terapia da toxina butolínica na prevenção da enxaqueca, criando oportunidades alternativas e significativas para o tratamento da dor crônica, além de melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados.
Referências
- CARNEIRO, Henrique. "Botox para enxaqueca". Disponível em: https://www.henriquecarneiro.com.br/botox-para-enxaqueca/
- TRECE, Maine. "Toxina botulínica: como funciona? | Colunistas". Disponível em: https://www.sanarmed.com/toxina-botulinica-como-funciona-colunistas
- CASTRO, Diego. "Toxina Botulínica (Botox) no Tratamento da Enxaqueca". Disponível em: https://drdiegodecastro.com/toxina-botulinica-na-enxaqueca/