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A ventilação não invasiva x cateter de alto fluxo na COVID-19

A ventilação não invasiva x cateter de alto fluxo na COVID-19
Academia Médica
abr. 23 - 7 min de leitura
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A avaliação de um paciente internado com COVID-19, deve ser realizada de forma cuidadosa e particular. Por ser uma patologia recente e apresentar divergências ainda em diversos aspectos, cada vez mais profissionais da saúde estão se especializando para oferecer o melhor tratamento para o paciente.

Assim, atualizações sobre quando utilizar a ventilação não invasiva ou cateter de alto fluxo são extremamente importantes, da mesma forma que saber seus benefícios e indicações são essenciais no que tange ao manejo da COVID-19. 

 

O conceito de ventilação não invasiva é a oferta de ventilação por pressão positiva por meio da interface não invasiva e pode ser realizada de duas formas: CPAP que é com um nível de pressão positiva e BIPAP que são dois níveis de pressão positiva. A ventilação não invasiva funciona de tal maneira que a presença de vazamentos está implícita nessa oferta de ventilação. Então, em uma situação como a COVID-19 que é transmitida por meio de gotículas e aerossóis, a presença de vazamento passa a ser um fator preocupante!

Por isso, os profissionais da saúde devem sempre fazer duas perguntas a respeito desse assunto: “Como tornar a VNI segura contra contaminações?”

 

“A VNI é eficaz na COVID-19?” Avaliando riscos e benefícios

O suporte respiratório não invasivo na COVID-19 ainda é pouco discutido, por isso precisa de novos estudos a respeito. Quando iniciou o tratamento da COVID-19, tinha-se a ideia de um tratamento invasivo precoce, porém com o passar dos meses, foi sendo estudado a possibilidade de uma ventilação não invasiva com cateteres de alto fluxo e máscaras, evitando o tempo prolongado de permanência no ambiente hospitalar e agravamento da doença. Sabe-se que os pacientes acometidos com a COVID-19 desenvolvem uma síndrome respiratória aguda grave, 5% necessitam de atendimento na UTI e 70 a 90% desses pacientes acabam sua internação com ventilação mecânica. Os mais acometidos com esses agravamentos são os idosos, hipertensos, diabéticos, com doenças cardíacas prévias e obesidade.

O cateter nasal de alto fluxo é um equipamento que fornece ar aquecido e umidificado em alto fluxo e nele pode-se controlar a fração expirada de oxigênio (que é diferente de outras modalidades não invasivas) e proporciona algumas vantagens, como:

  • Redução do espaço morto
  • Redução do trabalho respiratório
  • PEEP em torno de 4-6 cmH2O
  • Possibilita fala e alimentação
  • Preserva a capacidade de eliminação de secreções

Ainda não há consenso acerca das recomendações sobre ventilação mecânica não invasiva e cateter de alto fluxo pelo mundo .

 Cada serviço vivencia suas experiências e indica ou não esse tipo de terapêutica. No Brasil, por exemplo, o uso está disseminado e é bastante efetivo.

O cateter nasal de alto fluxo fornece muitos benefícios ao paciente, a exemplo de aumentar a pressão das vias aéreas, aumenta a capacidade residual funcional, com isso aumento das áreas recrutáveis, aumento da complacência pulmonar e aumento da PO2. Como reduz o espaço morto, propicia a diminuição de CO2 nesses pacientes. Indiscutivelmente, a via não invasiva é bem mais tolerada, pois o ar é aquecido e umidificado e o fluxo é adaptável a cada paciente.
Também, o cateter nasal de alto fluxo, diminui o risco do paciente desenvolver insuficiência respiratória, diminuindo a P-SILI (autolesão), aumenta a troca gasosa e diminui a frequência respiratória, sendo essas as grandes vantagens do cateter de alto fluxo, visto que essas complicações citadas estão presentes em pacientes graves acometidos com COVID-19.

O que os estudos apresentaram até hoje sobre o assunto?

O artigo presente na Respir Crit Care sobre o cateter de alto fluxo especificamente usado na COVID-19. Esse estudo testou dois grandes grupos de pacientes, um que testou alto fluxo para o tratamento e o outro que utilizou oxigenioterapia convencional. O que observou-se nesse artigo, foi que os pacientes que utilizaram cateter de alto fluxo apresentaram um menor número dos que precisaram de ventilação e intubação mecânica quando comparado aos pacientes em oxigenioterapia tradicional.

Esse trabalho mostrou também que não houve diferença na mortalidade entre os dois grupos, o que pode ser explicado pelo fato da COVID-19 ser uma doença multifatorial, que causa embolia e outros tipos de inflamação que pode levar o paciente a apresentar outras infecções pulmonares. Chama a atenção pois o
cateter de alto fluxo foi um facilitador para evitar a intubação de muitos pacientes.

Além disso, foi observado que entre os meses de março e abril, houve uma redução nos níveis da oxigenioterapia, aumento do uso do cateter de alto fluxo e da ventilação mecânica não invasiva, acarretando em uma menor taxa de intubação, menos pacientes sob ventilação mecânica, refletindo em uma menor mortalidade após 90 dias. Os pacientes com o uso de mecanismos não invasivos
apresentaram menor mortalidade. É claro que essa queda da mortalidade não pode ser atribuída apenas a um equipamento específico, pois nesse tempo fez-se o uso de terapias medicamentosas como os corticoides em pacientes graves e também o melhor manejo dos pacientes na UTI .

Embora os estudos apresentem evidências sobre o manuseio adequado em pacientes com covid-19, é supérfluo que o profissional esteja atento à novas informações científicas e saiba interpretá-las de maneira correta para novas soluções de tratamentos. 

Todos os pacientes com COVID-19 se beneficiam com as terapias não invasivas, porém a equipe deve estar sempre atenta na avaliação desse paciente, trabalhando em conjunto para uma avaliação de 2 em 2 horas do cateter de alto fluxo, pois pode haver insucesso e postergar a intubação. Sempre preferir o uso do alto fluxo em ambientes fechados e com pressão negativa, caso não se tenha, utilizar a máscara cirúrgica. Nunca postergar a intubação e a ventilação não invasiva.

 


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REFERÊNCIAS:
1- Raoof S, Nava S, Carpati C, Hill NS. High-Flow, Noninvasive Ventilation and Awake (Nonintubation) Proning in Patients With Coronavirus Disease 2019 With Respiratory Failure. Chest. 2020;158(5):1992-2002. doi:10.1016/j.chest.2020.07.013.

2- Brochard L, Slutsky A, Pesenti A. Mechanical Ventilation to Minimize Progression of Lung Injury in
Acute Respiratory Failure. Am J Respir Crit Care Med. 2017 Feb 15;195(4):438-442. doi: 10.1164/rccm.201605-1081CP. PMID: 27626833.

3- Cânula nasal de alto fluxo em pacientes criticamente III com COVID-19 grave." American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, 202 (7), pp. 1039-1042

4- COVID-ICU Group on behalf of the REVA Network and the COVID-ICU Investigators. Clinical characteristics and day-90 outcomes of 4244 critically ill adults with COVID-19: a prospective cohort study. Intensive Care Med. 2021 Jan;47(1):60-73. doi: 10.1007/s00134-020-06294-x. Epub 2020 Oct 29. PMID: 33211135; PMCID: PMC7674575.

 


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