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A vitória do câncer?

A vitória do câncer?
Naiara Costa Balderramas
jan. 9 - 2 min de leitura
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Geralmente vemos o tratamento contra o câncer ser caracterizado como uma batalha, uma luta com vencedores e perdedores, mas talvez essa seja uma maneira um tanto quanto inadequada de simplificarmos um processo muito mais complexo e com diversos outras fases e atores, que não merecem a alcunha de “perdedores”. 

Durante a leitura do livro "Para depois que eu partir" em que a americana Heather McManamy, diagnosticada aos 35 anos com um câncer de mama metastático, descreve as cartas que deixou para sua filha Brianna, de apenas 4 anos, observamos que a princípio o ímpeto é entrar em uma luta sem medida de esforços até a cura. Porém, uma vez que a doença progride e torna-se metastática, e as possibilidade que cura que antes eram remotas tornam-se inexistentes, a sensação de derrota não pode decretar o ritmo dessa nova fase. “Eu ainda estou viva” é um dos bordões repetidos pela autora. E realmente o caminho entre descobrir uma doença metastática e morrer tem muito mais vida do que se pode imaginar. 

Não é uma conversa fácil falar sobre morrer (por mais incoerente que isso pareça, afinal, essa é a única certeza da vida: um dia todos nós morreremos), mas o câncer tem a missão de trazer a morte para o agora; transforma um futuro incerto numa certeza real. A medicina tem empenhado-se muito em achar a cura, mas seus melhores resultados estão relacionados a aumentar essa fase entre a doença metastática e a morte, do que propriamente em curar. Eis que essa “fase de derrota” passa a ser o período em que paciente, médicos, equipe e familiares precisam aprender a mudar objetivos e ressignificar conceitos.

Porém, para que essa nova realidade surja, geralmente é preciso que a equipe guie, através do diálogo baseado na verdade e na confiança, muitas vezes ouvir mais do que falar, ponderando riscos e benefícios. Centrar o tratamento no paciente em si, com sua história e valores, tornando-o protagonista nas decisões, buscando curar não o câncer, mas curar o paciente, do sofrimento físico e emocional, e principalmente da angústia do grande desconhecido chamado morte.


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