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Acadêmicos de medicina em trabalho voluntário na África

Acadêmicos de medicina em trabalho voluntário na África
Fernando Carbonieri
mar. 13 - 8 min de leitura
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“Estava aflita com o começo do internato. Depois seria muito mais difícil viajar, pelas férias limitadas e a proximidade da residência médica. Queria viajar para algum lugar especial, longe da moradia de Tio Sam e da romântica Europa. Resolvi então unir o útil ao agradável. Agradável porque estaria viajando, passeando, explorando novas culturas e, definitivamente, me divertindo. Útil, porque esse lugar seria o Quênia! País localizado na África Oriental, que obteve sua independência recentemente em 1963 e, por isso, ainda sofre muito do mal: fome, preconceito, pobreza e corrupção. É um dos únicos países do continente que não está em guerra civil e, assim, não traria grandes riscos a nós, visitantes. Juntamente com mais três bons amigos, também acadêmicos de Medicina, nos vimos embarcando na viagem de nossas vidas, nesse país tão pobre de xelins e tão rico de flora, fauna e gente. Gente humilde, gente pobre, gente miserável, gente boa, gente forte.”

Esse foi um dos primeiros depoimentos que fiz quando voltei da viagem que fiz ao Quênia como voluntária. Muitas pessoas têm vontade de fazer um trabalho voluntário no exterior, porém não sabem por onde começar. Por isso vou contar como eu e mais três amigos- Débora Bressane, João Paulo Marochi Telles e Victor Hugo Belinati- fizemos para ter essa experiência.

Para começar você tem que procurar uma ONG que aceite voluntários. A maioria delas não possui sede nem funcionários nas regiões próximas ao Sul, o que já poderia nos deixar com um pé atrás quanto à seriedade da instituição. No nosso caso escolhemos a IVHQ (International Volunteer Head Quarters). Optamos por essa por recomendação de um amigo que só havia tido experiências boas, ou seja, por indicação. Trata-se de uma ONG internacional que nasceu em 2007, quando Daniel Radcliffe (sim, é o mesmo nome do ator do Harry Potter) quis se voluntariar para trabalhar em países carentes. Frente a dificuldade de achar uma opção em que pudesse ficar menos de doze meses e no país que escolhesse, ele resolveu abrir a IVHQ. Com sede na Nova Zelândia, a IVHQ aceita pessoas, em geral jovens e não graduadas, do mundo inteiro com o compromisso de cada voluntário poder escolher o país, a época do ano e a duração que deseja ficar.

O próximo passo é a escolha do lugar. A IVHQ faz trabalho voluntário em inúmeros países, são eles: Tailândia, Camboja, Vietnã, China, Índia, Nepal, Sri Lanka, Marrocos, Gana, Uganda, Tanzânia, Quênia, África do Sul, México, Guatemala, Costa Rica, Colômbia, Equador, Peru e, o próprio, Brasil. Você deve escolher o lugar segundo a atividade em que deseja atuar e se você tem as requisições necessárias para tal (nessa página, você encontra todas as descrições: http://www.volunteerhq.org/programs.html ). Por exemplo, para atividades referentes à Medicina, você deve ter comprovante de matrícula em faculdade de Medicina, maior de 18 anos, saber falar inglês e se voluntariar nos países como Quênia (seja na área comum ou na área das tribos do Masai Mara), Peru, Nepal, Vietnã, Tanzânia, Gana, Guatemala, Uganda ou Sri Lanka. Já se você gostaria de dar aulas de inglês ou cuidar de um orfanato, você pode ir para praticamente todos os países já listados previamente. Porém, você pode ir mais longe, como cuidar de animais exóticos na Guatemala ou dar aulas de surfe para crianças carentes na África do Sul.

Vumilla Camp- campo dos refugiados onde levamos comida, remédios e brincamos com as crianças Vumilla Camp- campo dos refugiados onde levamos comida, remédios e brincamos com as crianças

Nós escolhemos as atividades referentes à Medicina (categoria: Medical Placement). Pudemos conhecer outras formas de lidar com o paciente e a doença, com outros protocolos, conhecimentos e usufruindo de uma estrutura infinitamente mais precária do que nossa realidade. Além disso, presenciar quadros médicos que dificilmente se veria em nosso dia-a-dia, como febre tifoide, poliomielite e cirurgias de reconstrução após um ataque de rinoceronte. Após essa escolha, você deve pensar em qual época do ano prefere ir e quanto tempo irá ficar. Todos os países listados recebem os voluntariados em todos os meses do ano, porém eles têm um dia fixo no mês em que o programa começa. A duração de sua viagem pode ser desde uma semana até quantos meses desejar ficar (porém, após seis meses deve ser feito um novo contato com a sede da instituição).

Após esse processo, deve ser feito o pagamento de uma taxa (por depósito e envio do comprovante), que depende do tempo de estadia no país. Essa taxa cobre a hospedagem e alimentação durante todo o período, além do transporte do aeroporto até sua moradia no país escolhido. Também, no primeiro dia, são ministradas palestras sobre o programa e realizado um café de boas-vindas com todos os voluntariados que chegaram naquele mês. A hospedagem é a casa de um morador da comunidade que se situa perto do local onde você ira se voluntariar. Além disso, ele é responsável por fornecer toda a sua alimentação e higiene necessária. Normalmente, são quartos com beliches que comportam de duas a seis pessoas, podendo a casa ter de um a quatro quartos. Custos como passagem de avião, visto, seguro-viagem, vacinações, souvenirs e passeios a parte, não estão incluídos na taxa descrita. Contudo, se você planejar sua viagem com antecipação, você consegue patrocínio para todos esses custos. Minha dica é: montar um relatório com descrição de tudo o que irá fazer e gastar e mandar para escolas de línguas, médicos, políticos e afins.

Hell´s Gate- parque gigantesco onde andavamos de bicicleta em meio aos animais
Além disso, a ONG oferece passeios turísticos guiados por voluntários locais por um preço dez vezes menor do que qualquer agência do turismo. Claro que temos que deixar de lado luxos e vaidades, porém todo o dinheiro arrecadado volta para a ONG, que financia a construção de muitas escolas, orfanatos e lares de idosos. Os passeios foram desde visitas a comunidades paupérrimas a visitas a tribo dos Masai Mara; conhecer o maior lixão do mundo e conhecer o maior e melhor safári do mundo; viajar horas dentro de uma van caindo aos pedaços e em uma estrada com imensos buracos e viajar horas dentro de uma van cantando com amigos do mundo inteiro enquanto se observava as zebras, girafas e babuínos que passavam pela estrada.

Van entrando no safari

 

Depois de tudo isso, você já está dentro do programa e o responsável do país irá te contatar por e-mail para sanar todas dúvidas. Só resta, então, se preparar para ter uma viagem que mudará a sua vida. É uma viagem que não deixa de ser cansativa, porém é renovadora a cada dia. O contraste desses países entre a riqueza da natureza e a miserável da desigualdade social nos faz ver o mundo e nossas vidas de um olhar diferente. Como uma amiga já me disse, “Não espere que você irá mudar o país, mas espere para que ele mude você”.

Confira a galeria de fotos

créditos Lais Lie


Para mais dúvidas: laismnl@hotmail.com

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