Academia Médica
Academia Médica
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
loading
VOLTAR

Alzheimer: alguns resultados favoráveis e promissores

Alzheimer: alguns resultados favoráveis e promissores
Bárbara Figueiredo
dez. 18 - 11 min de leitura
000

Descrita pela primeira vez em 1906 pelo médico alemão Alois Alzheimer, em um congresso científico em que apresentou o caso de sua paciente Auguste Deter, definiu a Doença de Alzheimer (DA) como:

“uma doença caracterizada por notável complexidade clínica, com o entrelaçamento de sintomas psiquiátricos, comportamentais, neurológicos, de clínica geral e especificidade biológica, com alterações anatômicas e histopatológicas peculiares” (GIUSTI, 2010).

Atualmente, a demência de Alzheimer vem recebendo grande atenção das autoridades públicas no campo da saúde, uma vez que o considerado número de pessoas portadoras de quadros demenciais tem se tornado cada vez maior, apontando para uma verdadeira epidemia mundial (COSTA, 2016).

A doença de Alzheimer é a patologia neurodegenerativa mais frequente associada à idade, cujas manifestações cognitivas e neuropsiquiátricas resultam em deficiência progressiva e incapacitação. A doença afeta aproximadamente 10% dos indivíduos com idade superior a 65 anos e 40% acima de 80 anos. Estima-se que, em 2050, mais de 25% da população mundial será idosa, aumentando, assim, a prevalência da doença. O sintoma inicial da doença é caracterizado pela perda progressiva da memória recente. Com a evolução da patologia, outras alterações ocorrem na memória e na cognição, entre elas as deficiências de linguagem e nas funções visuoespaciais. Esses sintomas são frequentemente acompanhados por distúrbios comportamentais, incluindo agressividade, depressão e alucinações (SERENIKI, 2008).

O Brasil aparece como o oitavo país que mais contribui com o crescimento populacional no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (SAYEG, 2009), e de acordo com o último censo promovido em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi contabilizado cerca de 14,5 milhões de brasileiros com idade igual ou superior a 60 anos, representando algo em torno de 8,6% da população total, número esse bastante considerável em relação ao censo de 1991 que apontou um total de 7,3% de idosos vivendo no país naquela época. A Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que no mundo inteiro até 2025, “existirão 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que, os indivíduos muito idosos (com 80 anos ou mais) compõem o grupo de maior crescimento” (SAYEG, 2009). Estimativas recentes apontam que existe um crescimento da ordem de quase 35 milhões de idosos em todo o mundo acometidos pela demência do tipo Alzheimer (SERENIKI, 2008).

A DA pode ser dividida em três fases – leve, moderada ou grave - caracterizadas pelo seu nível de comprometimento cognitivo e o seu grau de dependência. Na primeira fase, são identificados um comprometimento da memória recente e desorientação de tempo e espaço e dura em média 2 a 3 anos. Na fase intermediária, que dura de 2 a 10 anos, são percebidos comprometimento da memória remota, dificuldades em resolver problemas e atividades operativas, afetando as atividades básicas e instrumentais da vida diária. E na fase final, com duração de 8 a 12 anos, ocorre total dependência, evidenciada pela perda da capacidade para realizar atividades básicas e instrumentais e imobilidade. O diagnóstico da DA só pode ser estabelecido a partir de um quadro clínico e exclusão de outros casos de demência, por meio de exames laboratoriais e neuropatológicos. (COSTA, 2016).

Quanto ao tratamento, a DA ainda não possui cura, entretanto, existem medidas farmacológicas que visam reduzir os efeitos cognitivos e de memória, sendo estes baseados na prescrição de anticolinesterásicos (rivastigmina, donepezil e galantamina) e de memantina (antiglutamatérgico). Além disso, podem ser utilizadas medidas não farmacológicas que visam proporcionar uma melhora na qualidade de vida do paciente e de sua família/cuidador. Tais medidas têm como proposta estabelecer o uso mais eficiente da memória, por meio de estratégias de atendimento multidisciplinar, com técnicas mnemônicas ou de aprendizagem, estratégias compensatórias, terapias de orientação da realidade e a abordagem terapêutica com grupos de famílias e cuidadores (COSTA, 2016).

RESULTADOS ESTUDADOS

Os resultados de alguns estudos epidemiológicos, aqui referenciados, os quais utilizaram agentes anti-inflamatórios, sugerem que a neuroinflamação possa exercer um papel inicial na patogênese da doença de Alzheimer; porém, estudos clínicos, especialmente envolvendo inibidores seletivos da COX-2, têm sido desapontadores. Mais ainda, outros fatores, como, por exemplo, o sistema complemento para receptores nicotínicos, o qual está implicado no processo inflamatório associado à doença de Alzheimer, demonstram que existem ainda muitos mecanismos relacionados à patologia que precisam ser compreendidos. Outros fatores a serem considerados são que muitos dos participantes do processo inflamatório, como a micróglia e os astrócitos, podem ter funções tanto neuroprotetoras quanto neurodegenerativas, tornando seus papéis difíceis de serem determinados no processo da doença (SERENIKI, 2008).

É notório que diante de todo esse panorama em que se insere a DA, é preciso salientar que:

“os últimos 100 anos conheceram um avanço sem precedentes no entendimento da dinâmica do cérebro e suas possibilidades de reabilitação após uma lesão cerebral” (SANTOS, 2006).

Nesse cenário, apresentam-se perspectivas favoráveis e promissoras para o tratamento da demência de Alzheimer e, mesmo que ainda não seja possível atingir a cura dessa doença, é possível, pelo menos, aliviar e retardar os impactos que ela causa na vida de seus portadores e familiares, promovendo uma melhor qualidade de vida durante o estágio em que se encontra a evolução do quadro clínico (SERENIKI, 2008).

Além disso, a terapia cognitivo-comportamental mostrou-se uma grande aliada em relação às abordagens propostas por esse tipo de terapia, com o intuito de estimular a autoestima do paciente, reduzir sentimentos de ansiedade e depressão, ajudá-lo a ter mais autonomia e a evitar a perda de controle” (SAFFI, 2007). Isso pode contribuir no sentido de minimizar o medo em relação ao futuro, oferecendo maior segurança tanto ao paciente quanto aqueles que convivem ao seu lado (SOUZA, 2011).

 É evidente que cada vez mais nos deparamos com o crescente aumento da expectativa de vida da população mundial e, consequentemente, com o aumento das patologias que acometem os indivíduos em idade avançada. A demência de Alzheimer figura entre essas doenças de maior prevalência entre a população idosa, e aponta para uma urgente discussão a respeito do tema, uma vez que a cada dia, mais casos são descritos e poucos avanços significativos foram feitos para o tratamento dessa doença. Mesmo depois de passados quase 100 anos de sua descoberta, a DA ainda é uma doença incurável e vários debates ainda acontecem com relação à correta nomenclatura para esse quadro, fazendo com que a literatura disponível atualmente para consulta, ora a nomeie como Mal de Alzheimer, outras vezes como Demência de Alzheimer e em outras, como Doença de Alzheimer (SERENIKI, 2008).

Embora muitos estudos tenham contribuído para elucidar os mecanismos fisiopatológicos da doença de Alzheimer, a perda neuronal seletiva ainda não foi totalmente compreendida. Mais ainda, a busca desses mecanismos tem resultado direto no desenvolvimento de novas drogas para o tratamento dessa patologia, sendo que a investigação de novos agentes medicamentosos que possam retardar ou mesmo bloquear a evolução da doença constitui o objetivo e o desafio para muitos neurocientistas (SERENIKI, 2008).

CONCLUSÕES

As terapêuticas farmacológicas tornam-se imprescindíveis durante o tratamento ao paciente demenciado e muitos fármacos estão disponíveis atualmente no mercado para o tratamento da DA, sendo muitas vezes esse, e apenas esse, o tratamento dedicado aos pacientes. Entretanto, é preciso acolher a demanda humana, em contraste com a orgânica que segue amparada pela farmacologia em geral. E é aí que se situa a importância do psicólogo no processo de melhoria da qualidade de vida tanto do paciente como de seus familiares e cuidadores, por meio do uso de terapêuticas não farmacológicas, que aliadas à medicação podem produzir efeitos satisfatórios durante a progressão da doença (GOMEZ, 2006).

Embora ainda haja muito a ser feito e seja preciso validar muitas das pesquisas sobre os tratamentos não farmacológicos, é de real importância destacar que cada vez mais esses tratamentos estão ganhando espaço e atenção, não apenas na literatura científica como nas práticas diárias de quem lida com paciente demenciados, uma vez que estas promovem alívio ao sofrimento que se instaura nos envolvidos, sejam eles familiares, cuidadore ou o próprio paciente (GOMEZ, 2006).  

Se por um lado o campo da neuroplasticidade vem pontuando esperanças no tratamento de várias patologias neurodegenerativas, por outro é preciso esclarecer que no caso da demência de Alzheimer, em que ocorrem perdas significativas de neurônios cerebrais, a discussão do uso do termo “reabilitação” durante o tratamento, deve dar espaço para o uso da expressão “intervenção”, uma vez que não se pode reabilitar algo que se perdeu. No entanto, faz-se necessário que ocorram intervenções pontuais, planejadas e testadas cientificamente por meio das técnicas disponíveis atualmente para tratamento (GOMEZ, 2006).

Por fim, como afere Hipócrates, ao citar que “aliviar a dor é um ato divino”, é preciso pontuar que mesmo não tendo sido encontrada a cura definitiva para a demência de Alzheimer, é missão dos profissionais de saúde, e isso inclui a psicologia, aliviar a dor de quem convive com essa doença em seu dia a dia, independentemente que isto seja um ato divino ou não, pois para além das divindades, somos antes de tudo seres humanos com o propósito de prestar cuidado e atenção para outros seres, tão humanos quanto nós (GOMEZ, 2006).

 


Quer escrever?

Publique seu artigo na Academia Médica e faça parte de uma comunidade crescente de mais de 207 mil médi,cos, acadêmicos, pesquisadores e profissionais da saúde. Clique no botão "NOVO POST" no alto da página!


 

REFERÊNCIAS

ABRISQUETA-GOMEZ, J.; SANTOS, F. H. Reabilitação Neuropsicológica: da teoria a prática. São Paulo: Artes Médicas, 2006.

COSTA, B. G. L.; et al. Métodos não Farmacológicos para o Tratamento do Alzheimer: uma revisão integrativa. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro. São Jõao Del-Rei, vol. 9, n. 1, 13 p.; abr. 2019.

MOREIRA, S. V.; et al. Can musical intervention improve memory in Alzheimer’s patients? Evidence from a systematic review. Dement Neuropsychol. Juiz de Fora, vol. 12, n. 2, p. 133-142, jun. 2018.

SERENIKI, A.; VITAL. M. A. B. F. A doença de Alzheimer: aspectos fisiopatológicos e farmacológicos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, vol. 30, n. 1, 17 p.; nov. 2008.

SILVA, C. B.; SOUZA, E. M. A Demência de Alzeimer e suas terapêuticas não farmacológicas: um estudo sobre as estratégias e intervenções em reabilitação neuropsicológica. Pernambuco: Recife. 2014. 29 p. Disponível em: http://www.humanae.esuda.com.br/index.php/Discente/article/viewFile/157/86. Acesso em: 20 de set. de 2020.

SOUZA, E. M. Quem está com ela? O enigma silencioso do milênio: uma visão panorâmica sobre a demência na doença de Alzheimer. 2011. 64 p. Monografia (Pósgraduação). Faculdade de Ciências Humanas ESUDA, Recife, 2011.

 

 


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você