A Medicina de Família e Comunidade tem em seus fundamentos filosóficos os mesmos fundamentos do desenvolvimento da clínica médica. De fato, não é necessário referir aqui que esta é resultado da Medicina Hipocrática, da Medicina Osleriana, do atendimento centrado na pessoa e, mais recentemente, da força científica da Medicina Baseada em Evidências. Essa especialidade seria tributária de todo esse desenvolvimento médico-filosófico se não fosse uma característica em particular que ela possui: a necessidade de realização em meio social.
É evidente que Medicina é sobre seres humanos e seres humanos vivem em sociedades, logo não é necessário grande capacidade de raciocínio dedutivo para perceber os elementos sociais na prática médica. O paciente, em sua singularidade e complexidade, vem de um meio social. O diferencial da Medicina de Família e Comunidade está, então, em se desenvolver de forma mais próxima nesse contexto social. Desse modo, as bases Filosóficas dessa especialização tão necessária no Brasil não se encontram totalmente no campo da Filosofia, mas no campo da Sociologia.
A Sociologia, por sua vez, nasceu do desenvolvimento da complexidade societal. Partindo desse pressuposto, essa Medicina se dá de forma mais latente por sua prática ser diretamente atrelada e influenciada por grupos e por contextos societais. Para entender a complexidade da Medicina de Família é preciso entender o sistema de saúde brasileiro, o Estado e a burocratização da saúde, os aspectos econômicos do Brasil e outras diversas questões sobre as quais seria necessário explanações em livros, teses de doutorados e ensaios. Desse modo, esse texto se propõe bastante humilde e apenas como uma introdução a esse universo.
A partir desse cenário da multifacetada realidade social do Brasil, os médicos dessa especialização se encontram em posição privilegiada, pois, apesar de todas as dificuldades, ainda assim possuem meios hábeis para fazer promoção de saúde, prevenção de doenças e diagnóstico precoce. O desafio agora é se atentar para toda essa complexidade para que seja possível, assim, uma maior valorização e inspiração nessa prática médica tão bonita.
Referências
1) BRUCE, John A. Family practice and the family: A sociological view. Journal of Comparative Family Studies, v. 4, n. 1, p. 4-12, 1973.
2) The Social Basis of Medicine | Wiley. WileyCom n.d. https://www.wiley.com/en-us/The+Social+Basis+of+Medicine-p-9781405139120 (accessed December 20, 2020).
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