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As novas linhagens do coronavírus presentes no Amazonas

As novas linhagens do coronavírus presentes no Amazonas
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fev. 2 - 5 min de leitura
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Em Manaus, um estudo com doadores de sangue indicou que 76% (IC 95% 67–98) da população havia sido infectada pelo SARS-CoV-2 em outubro de 2020. A taxa estimada de ataque da doença em Manaus estaria acima do limite teórico de imunidade de rebanho (67%), dado um número de reprodução de caso básico (R0) de 3. Neste contexto, o aumento abrupto no número de internações hospitalares pela COVID-19 em Manaus durante janeiro de 2021 é inesperado e preocupante. Após uma grande epidemia que atingiu o pico no final de abril de 2020, as internações por COVID-19 em Manaus permaneceram estáveis e bastante baixas por 7 meses, de maio a novembro, apesar do relaxamento das medidas de controle durante esse período. Esse quadro preocupante é explicado em parte pela mutação que ocorreu com o Sars-Cov-2 e circula na região.

As mutações

As mutações são esperadas, aparecem espontaneamente e, na maioria dos casos, não têm efeitos na transmissão ou no desfecho clínico - elas são simplesmente usadas como marcadores e são úteis para rastrear contatos ou estudar rotas de transmissão. Mas algumas mutações podem durar porque fornecem uma vantagem para o patógeno, mesmo que apenas momentânea. No caso do SARS-CoV-2, as mutações no gene spike da proteína (S) são relevantes porque podem fornecer pistas para essa vantagem - bem como para alterações na infectividade, potencial de transmissão, anticorpos e resposta às vacinas.

Uma variante do vírus que apresenta oito alterações que afetam o gene da proteína S - e vários outros em genes diferentes - está por trás do aumento do número de casos em Londres e no sudeste da Inglaterra. Pesquisadores das Faculdades de Medicina e Odontologia da Universidade de São Paulo, campus de Ribeirão Preto, identificaram um dos fatores que tornavam essa nova variante - classificada como B.1.1.7 - mais infecciosa.

Com ferramentas de bioinformática, eles descobriram que o gene da proteína S na nova cepa viral tem uma interação molecular mais forte com o receptor ACE2, que está na superfície das células humanas e ao qual o vírus se liga, tornando a infecção possível. A variante já se espalhou pelo mundo, e os dois primeiros casos foram confirmados no Brasil pelo Instituto Adolf Lutz.

O alerta para uma nova variante na África - semelhante ao B.1.1.7 no Reino Unido por conter nove alterações na proteína S na posição 501 - foi feito pelo virologista brasileiro Túlio de Oliveira, PhD.

"Descobrimos que essa cepa parece estar se espalhando muito mais rápido", disse Oliveira, que trabalha na Universidade de KwaZulu Natal, à revista Science. Seu trabalho primeiro alertou os cientistas britânicos para a importância da posição N501Y. As novas variantes descritas no Reino Unido e na África do Sul são um pouco mais transmissíveis e já foram identificadas em casos importados para o Brasil”, disse Motta. "Infelizmente, acreditamos que é apenas uma questão de tempo antes que se torne nacional."

As novas linhagens do SARS-CoV-2 podem levar ao ressurgimento de casos nos locais onde circulam se tiverem maior transmissibilidade em comparação com linhagens circulantes pré-existentes e se estiverem associadas ao escape antigênico. Por esse motivo, as características genéticas, imunológicas, clínicas e epidemiológicas dessas variantes do SARS-CoV-2 precisam ser investigadas rapidamente. Por outro lado, se o ressurgimento em Manaus é devido ao declínio da imunidade protetora, então cenários semelhantes de ressurgimento devem ser esperados em outros locais.

A vigilância sorológica e genômica sustentada em Manaus e em outros lugares é uma prioridade, com monitoramento simultâneo para reinfecções de SARS-CoV-2 e implementação de intervenções não farmacêuticas. Determinar a eficácia das vacinas da COVID-19 existentes contra variantes na linhagem P.1 e outras linhagens com potenciais variantes de escape imunológico também é crucial. A genotipagem de vírus de pacientes com COVID-19 que não foram protegidos pela vacinação em ensaios clínicos nos ajudaria a entender se há frequências específicas de linhagem subjacentes à reinfecção. Os protocolos e resultados de tais estudos devem ser coordenados e rapidamente compartilhados onde quer que tais variantes surjam e se espalhem.

 


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Referências

  1. Signorelli, C., Zucchi, A., Tersalvi, C. A., Ciampichini, R., Beato, E., Balzarini, F., ... & Middleton, J. (2020). High seroprevalence of SARS_COV-2 in Bergamo: evidence for herd immunity or reason to be cautious?. International Journal of Public Health, 65(9), 1815-1817.
  2. Brazilian Researchers Tracking Reinfection by New Virus Variant. Medscape n.d. http://www.medscape.com/viewarticle/944748 (accessed January 31, 2021).

Texto elaborado por Diego Arthur Castro Cabral


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