Atividade física moderada aumenta a imunidade, ajudando no combate ao coronavírus. Estudos mostram que realizar 150 minutos de exercício por semana reduz a probabilidade de complicações da doença.
Benefícios da atividade física
A prática constante de atividades físicas combate o excesso de peso, reduz a pressão arterial, ajuda a controlar a glicemia, fortalece ossos e articulações, aumenta a força e a resistência muscular, promove a sensação de bem-estar, diminui o estresse, combate a ansiedade e a depressão. As atividades físicas ajudam a fortalecer o sistema imunológico e a aumentar e melhorar a capacidade do corpo de combater infecções, pois ativam as células de defesa, estimulam a produção de substâncias anti-inflamatórias e possuem ação antioxidante, o que melhora o funcionamento das células do sistema imunológico.
Relação entre Covid-19, exercício físico e resposta imunológica
Sabemos o quão importante é a prática esportiva para a saúde e muitos estudos investigam a relação entre o exercício e a resposta imunológica do organismo, atualmente pelas preocupações com a covid-19, a imunologia, que sempre foi essencial, tornou-se motivo ainda maior de discussão.
A imunopatologia da infecção por Sars-CoV-2 envolve tanto o sistema imune inato (células imunológicas existentes desde o momento do nascimento) quanto o adaptativo (células imunológicas adquiridas por meio da exposição e presença da memória imunológica). A infecção pelo vírus, provoca uma tempestade de citocinas pró-inflamatórias, que é uma resposta imune exagerada a um estímulo externo, usualmente induzido por infecções virais, sendo que as concentrações elevadas anormais dessas citocinas levam à ativação do "crosstalk" do sistema neuroendócrinoimune, com a consequente liberação de glicocorticoides que podem prejudicar a resposta imune; podendo induzir a diminuição de atividade ou falência de múltiplos órgãos, envolvendo coração, fígado, rim e pulmões.
Análises
Uma análise publicada feita pelo Neuroimmunomodulation (2020), pontua que a imunomodulação induzida pelo exercício parece ser dependente da interação da intensidade, duração e frequência do exercício. Em modelos humanos e animais, o exercício de longa duração (maior que 2 horas) e/ou exercício intenso (maior que 80% do consumo máximo de oxigênio, VO2máx), está associado a marcadores de imunossupressão, mostrando que exercícios de longa duração e/ou intensos podem tornar os humanos mais suscetíveis a infecções (principalmente infecções do trato respiratório superior), o que pode aumentar o risco de infecção e agravamento por covid-19.
Por outro lado, estudos clínicos e translacionais em humanos demonstraram que exercícios regulares de curta duração (ou seja, 45-60 min) e exercícios de intensidade moderada (50 a 70% VO2máx), realizados pelo menos 3 vezes por semana são benéficos para a resposta imunológica, particularmente em idosos e pessoas com doenças crônicas. Embora o número relatado de casos de covid-19 em crianças/adolescentes seja relativamente baixo, é importante notar que exercícios crônicos moderados e/ou treinamento físico em crianças e adolescentes saudáveis estão associados a uma redução na incidência de infecção e uma recuperação mais rápida do sistema imunológico.
Entendendo melhor a Resposta imune diante da Covid-19
A imunidade durante o processo infeccioso pelo SARS-CoV-2 depende de fatores genéticos (genes HLA), idade, sexo, estado nutricional e físico e fatores de risco associados como tabagismo, obesidade, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica. Esses três últimos fatores levam à maior expressão dos receptores ACE2 (utilizado na entrada do SARS-CoV-2) em tecidos, podendo induzir um estado pró-inflamatório.
A resposta imune inicial efetiva aos agentes intracelulares, como os vírus, envolve a produção de interferon do tipo I (INF-I) que direciona a ação macrofágica e linfocitária à eliminação da propagação viral. Na Covid-19, observa-se a supressão da resposta IFN-I, com consequente disfunção dos mecanismos iniciais de controle da infecção, infiltrados hiperinflamatórios compostos por neutrófilos, macrófagos e monócitos em tecido pulmonar e um período de cytokine storm (tempestade de citocinas pró-inflamatórias) com linfopenia, assim como alterações em fatores de coagulação e circulatórias e dispersão viral. Tal processo resulta na lesão do tecido pulmonar infectado com SARS-CoV-2 (ou outros submetidos ao ataque imunológico indireto pela desregulação do sistema imune), e culmina com a síndrome do desconforto respiratório agudo podendo evluir à necessidade de oxigenioterapia, ao possível choque séptico, falência múltipla dos órgãos e morte.
Exercícios como prevenção
A prática regular do exercício físico atua como um modulador do sistema imune, de forma a estruturar progressivamente a resposta fisiológica à minimização do dano. Durante a atividade física, uma série de citocinas pró e anti-inflamatórias são liberadas, há incremento na circulação de linfócitos, assim como no recrutamento celular. Tais efeitos levam ao melhor controle da resposta inflamatória, reduzem os hormônios do estresse, e resultam em menor incidência, intensidade de sintomas e mortalidade diante da ocorrência de infecções virais, especialmente as respiratórias.
Diante da Covid-19, ainda há dados limitados de como o exercício físico pode auxiliar na resposta imune ao novo coronavírus. Porém, observa-se, por exemplo, que pacientes diabéticos com adequado controle glicêmico e infectados com SARS-CoV-2 apresentam melhor prognóstico na Covid-19.
Sugere-se também que os benefícios anti-inflamatórios, antioxidante e a inibição da ativação endotelial proporcionados pela atividade física está ligada à redução da hipercoagulabilidade associada a essa doença.
Estudos sobre a prática de exercício físicos
Segundo um estudo da Universidade de Virginia, a prática de exercícios físicos eleva a produção da enzima superóxido dismutase (EcSOD), produzida pelos músculos e associada à proteção do sistema cardiorrespiratório. "Sua baixa concentração aumenta o risco para doenças como pneumonia ou enfermidades crônicas respiratórias", afirma o pneumologista Humberto Bogossian, do Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, também sobe a chance de ocorrência de isquemia cardíaca (derivada da obstrução do fluxo sanguíneo) e falhas nos rins. A realização de exercícios em intensidade moderada é suficiente para obter os benefícios. "Exercício regular tem mais benefícios do que conhecemos. A proteção contra doenças respiratórias severas é um dos muitos exemplos.
Outro Estudo Brasileiro com células adiposas demonstra que a irisina diminui a atuação do receptor do novo coronavírus no organismo e aumenta os níveis dos genes que enfraquecem o vírus.
Este trabalho demonstrou que a irisina pode modular genes relacionados à replicação do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Segundo os pesquisadores, o chamado hormônio do exercício, liberado pelos músculos ao realizar atividade física frequentemente, pode ter efeito no combate à Covid-19 ao diminuir o receptor do coronavírus e aumentar o gene que reduz a expressão do vírus. Isso acontece porque a irisina é capaz de enfraquecer a expressão da proteína ECA 2 (ou ACE2, sigla do termo em inglês angiotensin-converting enzyme 2), que atua como receptor do vírus e é fundamental para que se replique e invada as células humanas. Os pesquisadores brasileiros observaram ainda que a irisina também pode triplicar os níveis do gene TRIB3, cuja diminuição no organismo pode favorecer a replicação do vírus.
Estudos da UFMG mostram que prática de exercícios físicos diminui risco de internação por covid-19
Realizar 150 minutos semanais de atividade física de intensidade moderada ou 75 minutos de atividades intensas pode reduzir o risco de internação hospitalar pela Covid-19 em 34,3%. A equipe, coordenada pelo pesquisador Marcelo Rodrigues, do InCor, avaliou questionários respondidos por 938 pessoas que tiveram Covid-19 e se recuperaram da doença. Destes, 91(9,7%) necessitaram de hospitalização.
Os resultados mostraram que as pessoas que praticavam 150 minutos de exercício moderado ou 75 minutos de atividade física intensa, tinham um risco reduzido de hospitalização pela doença. Além disso, aqueles que praticavam dois ou mais tipos de exercício, como andar de bicicleta e correr, tinham um benefício ainda maior: a redução no risco dessas pessoas foi de 46,2%.
A associação permaneceu mesmo após serem contabilizados fatores como idade, sexo, IMC (índice de massa corporal) e doenças pré-existentes. A principal hipótese para esse efeito protetor da atividade física está associada à redução da ECA2.
“O exercício físico reduz os receptores de ECA 2 e diminui ações inflamatórias no corpo, que também contribuem para as complicações da Covid-19”,
Conclusão
O exercício físico moderado e regular deve ser especialmente estimulado durante os confinamentos como medida para a prevenção de doenças metabólicas, físicas e/ou psicológicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que indivíduos assintomáticos saudáveis pratiquem exercícios físicos de moderada intensidade, no mínimo, 150 minutos por semana (adultos) ou 300 minutos por semana para crianças e adolescentes, distribuídos por 3-4 vezes na semana.
Tais práticas devem incluir exercícios aeróbicos e de resistência, em ambiente fechado ou ao ar livre, seguindo as regras governamentais locais. Também orienta que a atividade física deve ser interrompida ao início de algum sintoma como febre, dispneia e tosse seca, com consulta a profissional de saúde capacitado.
As citocinas anti-inflamatórias podem suprimir uma resposta imune hiperativa, promovendo a reparação tecidual. Assim, exercícios regulares de intensidade moderada podem ser eficazes em aumentar a resposta anti-inflamatória, o que poderia ajudar a reverter a reposta hiperinflamatória em pacientes com a covid-19.
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Referências
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0303720720300447?via%3Dihub
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.14.20212704v1.full.pdf
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.14.20212704v1