Em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, ouvimos muito falar sobre a importância da imunidade para evitar as formas graves da doença, mas como lidar com os pacientes oncológicos, que frequentemente teu sua imunidade comprometida pelo próprio tratamento?
Por tratar-se de algo absolutamente novo, o conhecimento está sendo produzido quase em "real time", com alguns relatos de caso publicados e orientações das grandes sociedades como American Society of Clinical Oncology (ASCO), European Society of Medical Oncology (ESMO) e Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).
Em 25/03/2020, foi publicado no jornal JAMA Oncology (1) a análise de casos de COVID-19 entre pacientes com câncer atendidos em um hospital terciário em Wuhan, epicentro chinês da pandemia. A incidência de cumulativa de pacientes com COVID-19 entre os paciente com diagnóstico de câncer foi 0,79% (12 em 1534), sendo a incidência cumulativa na cidade 0,37%. Com relação ao sítio primário, 58,3% tinham câncer de pulmão não-pequenas células. 25% dos pacientes foi a óbito.
Outro estudo, também chinês, publicado em 14/02/2020 no The Lancet Oncology, analisou de maneira mais ampla o histórico de câncer entre pacientes com COVID-19, encontrando um percentual de 1% (18 relatos em 1590 pacientes infectados), valor esse novamente acima da população em geral. Além de maior frequência de admissão em UTI (39% da população com histórico de câncer x 8% da população em geral) (2).
Conforme este conhecimento vem sendo construído dia após dia, algumas recomendações são feitas tanto por parte das sociedades de especialidade, quanto relato do que foi feito nos hospitais chineses (3):
- Busca ativa por pacientes sintomáticos: questionar na chegada à clínica/consultório se o paciente ou familiares apresentam sintomas;
- Uso de máscaras cirúrgicas por parte de toda equipe (desde os recepcionistas aos médicos) e dos pacientes em tratamento;
- Reduzir visitas externas a pacientes internados;
- Reduzir consulta ambulatoriais, utilizando telemedicina para pacientes em tratamento oral e em seguimento;
- Avaliar caso a caso a possibilidade modificação nos esquemas de tratamento:
- Suspensão/aumento de intervalo na realização de quimioterapias adjuvantes, de manutenção e paliativas;
- Modificação de esquemas endovenosos por orais quando possível;
- Postergar procedimentos eletivos;
- Orientar vacinação para influenza, mesmo em pacientes realizando imunoterapia (4).
- Criação de canais acessíveis como linhas telefônicas e número de aplicativos de mensagem (Whatsapp, Telegram) para esclarecimento de dúvidas e orientação.
Os cuidados gerais já orientados habitualmente para pacientes oncológicos como lavagem das mãos, cuidados com alimentação, pratica de atividade física, agora na modalidade indoor, e a permanência imperativa em casa, com saídas apenas para o tratamento, devem ser reforçados, bem como a importância para aqueles pacientes em doença ativa de manter o tratamento independente da pandemia, num ambiente de segurança física e emocional, dando suporte para mais esse momento de dificuldade que estamos atravessando.
Referências
(1) Yu J, Ouyang W, Chua MLK, Xie C. SARS-CoV-2 transmission in patients with cancer at a tertiary care hospital in Wuhan, China. JAMA Oncol; Advance online publication 25 March 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0980
(2) Wenhua, L. et al. Cancer patients in SARS-CoV-2 infection: a nationwide analysis in China . The Lancet Oncol; Published:February 14, 2020. doi.10.1016/S1470-2045(20)30096-6
(3)Wang Z, Wang J, He J. Active and effective measures for the care of patients with cancer during the COVID-19 spread in China. JAMA Oncol; Advance online publication 1 April 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.1198
(4) Bayle, A. et al. Immunogenicity and safety of influenza vaccination in cancer patients receiving checkpoint inhibitors targeting PD-1 or PD-L1. Annal of oncol. Available online 26 March 2020. doi:10.1016/j.annonc.2020.03.290
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