Em tempos de pandemia, podemos considerar que ficar em casa, longe da movimentação da rua, que é onde a doença mais tem a capacidade de se espalhar, poderia nos deixar completamente livres de ficarmos doentes, não é mesmo? Contudo, não é bem assim.
Mesmo dentro do ambiente domiciliar, muito embora nosso corpo esteja momentaneamente distante de contrair a doença, nossa mente se mantem mais ativa do que nunca, recebendo diariamente notícias de redes sociais, jornais, revistas, televisão ou rádio, que quase sempre debatem sobre o mesmo assunto: a doença que estávamos justamente tentando fugir!
Muitos podem se questionar, “Vivemos em um meio social, não há como fugir de notícias sobre algo que está afetando o mundo inteiro!”, e isso é a mais plena verdade, porém, podemos apenas diminuir a concentração com a qual tais notícias bombardeiam nossas mentes o dia inteiro, pois assim estaremos prezando não só pela saúde física como também pela saúde mental.
Explicando melhor, ultimamente foi-se cunhado um termo denominado de “infodemia”, que caracteriza a chuva de notícias, sejam elas boas ou ruins, que derivam de um evento de grandes proporções que envolve o mundo.
Antes da pandemia do COVID-19, outro grande acontecimento chocou o mundo anos antes, e foi responsável por um dos maiores “booms” de infodemia dos últimos tempos. Estou falando do tsunami que assolou o Japão, em 2011, e que prosseguiu com a destruição de um dos reatores da Usina Nuclear de Fukushima, uma cidade local, o que resultou na liberação de uma grande quantidade de radiação para os meios terrestres e aéreo, que acabou se espalhando e cruzando o Pacífico, chegando até os Estados Unidos, inclusive.
Mas o que a infodemia tem a ver com tal catástrofe?
É que durante todo esse período, todas as formas midiáticas divulgaram informações acerca de tal acontecimento da pior maneira possível, o que acabou incitando crises de ansiedade e entradas em hospitais, por parte da população que achava que já estava sendo contaminada pela radiação.
Hoje, com a pandemia de COVID-19 assolando o mundo, os diferentes meios midiáticos divulgaram, a princípio, informações ruins a todo tempo, a respeito dessa doença, com esse cenário vindo a mudar apenas nas últimas semanas. Mas isso foi o suficiente para disparar um gatilho de ansiedade, no meio social, onde várias pessoas prestavam entradas em hospitais, à todo momento, achando que estavam com os sintomas do coronavírus, quando na verdade manifestavam apenas achados clínicos originados de suas próprias mentes. Isso foi relatado por alguns amigos meus que trabalham em hospitais da cidade de Salvador.
Segundo dados de 2019 divulgados pela Organização Mundial da Saúde, a ansiedade é, hoje, um problema que afeta cerca de 264 milhões de pessoas no mundo inteiro, com aproximadamente 18 milhões de brasileiros atingidos. E no meio da pandemia atual, as pessoas afirmam que suas crises acabam sendo mais potencializadas, não só pelo risco de contrair a doença, como também pelo excesso de informações negativas disseminadas em torno da COVID-19 e suas consequências.
O psiquiatra Caio Costa Cury, em entrevista ao portal Diário do Vale, afirma que, durante esse período de quarentena, o risco de recaídas nas crises de ansiedade aumentam exponencialmente, pois muitos fatores se somam. Dentre eles, são citados o isolamento social, o medo da nova doença, as notícias e informações negativas, preocupações financeiras, dentre outros.
Em virtude de mudar esse cenário, várias emissoras de televisão já mudaram a maioria do tempo destinado a cada notícia, com informações positivas ganhando mais destaque. As redes sociais seguem o mesmo caminho, com páginas, vídeos ao vivo, gravações, dentre outras, de pessoas que se preocupam em acalmar os mais necessitados, para impedir com que a infodemia gere mais pânico. Diversos médicos, sendo a maioria psiquiatras, já seguem a tendência também, disponibilizando seus contatos para atendimentos pessoais.
Portanto, preocupe-se não só com seu corpo, mas também com a sua mente, pois ela é uma das maiores, se não a maior, ferramentas que possuímos. Desligue a televisão por algumas horas ao dia, pratique atividades físicas, jogue, divirta-se. Já dizia o antigo poeta romano Juvenal, “Mens sana in corpore sano”, ou seja, “Menta sã, corpo são”.
Referências
1. Diário do Vale. Crises de ansiedade podem aumentar diante do coronavírus. URL: https://diariodovale.com.br/saude/barra-mansa-atualmente-de-acordo-com-a-organizacao-mundial-da-saude-a-ansiedade-atinge-264-milhoes-de-pessoas-no-mundo-inteiro-incluindo-cerca-de-18-milhoes-de-brasileiros-que-tambem-possuem-esse/. Arquivo capturado em 04 de abril de 2020.
2. Imagem retirada da página @viagemdaluz, do Instagram.
3. KAPCZINSKI, FLÁVIO; MARGIS, REGINA. Transtorno de ansiedade. Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica, p. 209, 2009.
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