O artigo publicado em JAMA Network Open em 29 de março de 2025, intitulado "Prothrombin Complex Concentrate vs Frozen Plasma for Cagulopathic Bleeding in Cardiac Surgery. The FARES-II Multicenter Randomized Clinical Trial" traz atualizações sobre uma questão importante na cirurgia cardíaca: a eficácia e segurança do uso de concentrado de complexo protrombínico (Prothrombin Complex Concentrate PCC) em comparação com o plasma congelado fresco para tratar sangramentos pós-cirúrgicos decorrentes de deficiências de fatores de coagulação. Este estudo foi conduzido em 12 hospitais nos EUA e Canadá, envolvendo 420 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca que apresentavam sangramentos e um índice normalizado internacional de 1,5 ou mais.
Fonte: Karkouti K, Callum JL, Bartoszko J, et al.,2025
Principais Descobertas do Estudo FARES-II
Rapidez na Administração: O concentrado de complexo protrombínico mostrou-se superior em termos de rapidez de administração, com a primeira dose sendo completada em média 19 minutos mais rápido que o plasma (7 minutos versus 26 minutos).
Eficácia Hemostática: O grupo que recebeu concentrado de complexo protrombínico atingiu a resposta hemostática primária – definida como a ausência da necessidade de intervenções hemostáticas adicionais nas 24 horas seguintes – mais frequentemente do que o grupo que recebeu plasma congelado (77,9% versus 60,4%).
Redução no Uso de Produtos Sanguíneos: O uso de concentrado de complexo protrombínico resultou em uma redução significativa no volume total de produtos sanguíneos transfundidos, incluindo menor saída pelo dreno torácico.
Segurança: Apesar das preocupações com o risco tromboembólico associado ao concentrado de complexo protrombínico, o estudo observou uma incidência muito baixa de eventos tromboembólicos, sugerindo um perfil de segurança comparável ao do plasma quando usado seguindo protocolos específicos.
Custo-Efetividade: Embora o custo direto do concentrado de complexo protrombínico seja maior do que o do plasma, a redução na necessidade de transfusões adicionais pode representar uma economia global para os sistemas de saúde, o que justifica uma análise de custo mais detalhada.
Considerações Clínicas e Limitações
-
O estudo FARES-II destaca a importância de um protocolo estruturado e do uso de testes de coagulação no ponto de cuidado (POC) para maximizar os benefícios do concentrado de complexo protrombínico e minimizar riscos.
-
A validade dos resultados do estudo foi limitada porque não foi possível realizar uma análise completa da população conforme a intenção original de tratamento, devido ao alto número de pacientes que desistiram após serem randomizados.
A generalização dos resultados pode ser limitada pela disponibilidade e pelo uso de testes quanto ao índice normalizado internacional no ponto de cuidado em diferentes instituições e regiões.
Os resultados do estudo FARES-II são promissores e sugerem que o concentrado de complexo protrombínico, quando utilizado dentro de um algoritmo de tratamento bem definido e com testes do índice normalizado internacional, no ponto de cuidado, pode ser mais eficaz do que o plasma congelado para tratar sangramentos decorrentes de deficiências de fatores de coagulação em cirurgias cardíacas.
Entretanto, cada instituição deve considerar as implicações logísticas e de custos antes de adotar o concentrado de complexo protrombínico como tratamento padrão, além de avaliar cuidadosamente cada caso para evitar complicações tromboembólicas.
Referência:
Karkouti K, Callum JL, Bartoszko J, et al. Prothrombin Complex Concentrate vs Frozen Plasma for Coagulopathic Bleeding in Cardiac Surgery: The FARES-II Multicenter Randomized Clinical Trial. JAMA. Published online March 29, 2025. doi:10.1001/jama.2025.3501