Todos os conselhos profissionais de saúde devem reavaliar seus papéis sociais.
Imagine que você irá começar uma empresa, e que sua hipótese de valor esteja na supervisão da ética profissional em saúde. Quais seriam as ações que você, fundador dessa empresa, realizaria nas questões educacionais, fiscalizadoras, judicantes, cartoriais, regulamentadoras e políticas?
Vamos chamar sua empreitada de startup. Qual seria o produto mínimo viável dessa startup? Como escalar a entrega? Que métricas usar?
Eu escrevo esse texto num momento singular.
Há cerca de dois anos, após futricar um pouco em gestão hospitalar, recebi a visita de um novo mundo. Um mundo que nos poupou de sua existência durante nossas carreiras tradicionais em saúde. Mas que também nós nos poupamos de vê-lo. Ele bate em nossa porta e está acenando!
Um cidadão entra num pronto socorro privado ou público. Carrega consigo um dispositivo amplamente disponível, surpreendentemente banal, chamado celular. Esse dispositivo está online e escuta, fala, grava, fotografa e reproduz todo o atendimento do cidadão em questão ou de quem está próximo, desde os momentos anteriores ao atendimento até o desfecho. É o big data em ação. Direito ou crime?
Essa reflexão não é exclusiva do Brasil. É mundial. Evito até pensar o que aconteceria há alguns anos se alguém tentasse aproximar as palavras "mercado" e "saúde". Hoje abro qualquer massive online open course via internet que me ocorre e me salta um curso, totalmente gratuito, intitulado “Healthcare Marketplace”.
Costumo dizer que:
a tecnologia tem atropelado o regulatório.
A partir do momento que se dá a conexão de dois indivíduos direta e livremente, de maneira fluída e segura, a função do intermediário se dissipa, como num passe de mágica. Alguns mais ousados chegam a dizer que esse processo é tão revolucionário que até mesmo a corrupção deixará de existir. E não tiro parte da razão.
Legal, e as pessoas que vivem momentos de solidão ou de saturação dos relacionamentos digitais? Os relacionamentos sociais tornaram-se líquidos. A todo momento novas relações trabalhistas, econômicas e sociais surgem e se desfazem. Proliferam os linchamentos digitais. Subversão e anarquia digital. Digitalização, desmaterialização, desmonetização, democratização.
Temos que encarar a realidade de frente:
a assimetria de informações está se reduzindo.
Aproximamo-nos de um novo para o qual não temos respostas éticas. Há urânio por toda a parte. Perigo! Onde cairá a primeira bomba atômica?
Voltemos ao design dessa startup que propus a você. E agora, amigo fundador da saúde? Quem você chamaria para ajudá-lo a desenhá-la?
Nota do autor: esse texto surgiu após discussão num grupo de empreendedorismo médico que descrevo como um relógio-bomba de ideias exponenciais. Publicado na mesma data no LinkedIn.
Grato aos colegas Carlos Ballarati, Diógenes Silva, Fernando Carbonieri, Fernando Cembraneli, Marcelo Tournier, Marcus Vinícius Gimenes, Rafael Morgado e Thiago Júlio.