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Consequências de 6 meses de Covid-19 em pacientes com alta hospitalar

Consequências de 6 meses de Covid-19 em pacientes com alta hospitalar
Debora Vitoria Galvan
jan. 29 - 6 min de leitura
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Apesar dos inúmeros artigos científicos publicados em 2020 com relação à Covid-19, pouco se sabe a respeito das consequências da infecção pelo Sars-Cov-2 em longo prazo em pacientes pós-alta hospitalar. Por isso, foi realizado um estudo de coorte ambidirecional em pacientes com Covid-19 que receberam alta do Hospital Jin Yin-tan entre 7 de janeiro de 2020 e 29 de maio de 2020, em Wuhan, na China. Os objetivos do estudo foram avaliar as consequências em longo prazo da Covid-19 em pacientes após a alta hospitalar, bem como identificar os fatores de risco potenciais associados a essas consequências.

A pesquisa foi realizada no período de 16 de junho de 2020 a 3 de setembro de 2020. Quanto à amostra, dos 2.469 pacientes que receberam alta hospitalar com Covid-19, 1.744 foram admitidos no estudo e 736 foram excluídos. A idade mediana dos participantes foi de 57 anos e 52% dos pacientes eram homens.

Os dados clínicos do tempo entre o início dos sintomas e a alta hospitalar foram obtidos por meio de prontuários médicos eletrônicos, e incluíam características demográficas e clínicas (comorbidades, tempo de início dos sintomas e imagens do tórax); resultados de testes de laboratório; e tratamento.

A gravidade da doença foi caracterizada entre sete categorias durante o período de internação, sendo (1) e (2) pacientes não internados no hospital, porém os pacientes caracterizados como grau (2) foram incapazes de retomar as atividades normais. O grau (3) diz respeito aos pacientes internados no hospital, mas sem uso de oxigênio suplementar; grau (4) para pacientes internados no hospital com uso de oxigênio suplementar; grau (5) para pacientes internados em hospital com necessidade de cânula nasal de alto fluxo, ventilação mecânica não invasiva ou ambos; grau (6) internados em hospital com necessidade de oxigenação por membrana extracorpórea, ventilação mecânica invasiva ou ambos; e, por fim, grau (7) que corresponde à morte.

Todos os pacientes do estudo responderam um questionário para avaliação da qualidade de vida em saúde e sintomas, além de serem submetidos a exame físico, teste de caminhada de seis minutos, exames de sangue e concentração de anticorpos. Quanto ao exame de sangue, amostras de sangue venoso foram coletadas de todos os participantes para realização de hemograma completo, creatinina sérica, hemoglobina e hemoglobina glicada. Já as amostras de plasma foram coletadas para determinar as concentrações de anticorpos Sars-Cov-2. As amostras foram coletadas 23 dias após o início da doença. Foram avaliados os anticorpos IgM, IgA e IgG contra a nucleoproteína, proteína spike e domínio de ligação ao receptor da proteína spike. Os anticorpos neutralizantes também foram titulados. Além disso, todos os pacientes com grau ≥ 5 foram submetidos ao teste de função pulmonar, USG e TC de tórax.

Nos resultados, o artigo apresenta que, dos 2.469 pacientes com Covid-19 que receberam alta do Hospital Jin Win-tan durante o período de estudo, 33 morreram após a alta, sobretudo devido à exacerbação das doenças pulmonar, cardíaca e renal subjacentes. Ainda, 25 pacientes foram readmitidos no hospital devido a complicações da doença de base. Três pacientes desenvolveram acidente vascular encefálico isquêmico e um paciente apresentou embolia pulmonar aguda devido ao quadro de trombose venosa profunda de membros inferiores pós-alta.  

No que tange às características demográficas e clínicas dos pacientes do estudo, a comorbidade mais comum é a hipertensão (29%), seguida por diabetes (12%) e doença cardiovascular (7%).

Os sintomas mais comuns após a alta foram fraqueza ou fadiga muscular (63%) e dificuldades para dormir (26%). Ansiedade e depressão também foram relatados (23%), sendo mais comum em mulheres. Os pacientes com graus 5-6 de gravidade tiveram mais problemas de mobilidade, dor/desconforto e ansiedade ou depressão do que os pacientes com grau 3 de gravidade. Além disso, a distância caminhada em 6 minutos por pacientes com graus 5-6 foi menor que aquela referente aos pacientes com grau 3.

Os pacientes que apresentaram quadro mais grave durante o período de internação hospitalar tiveram a capacidade de difusão pulmonar reduzida bem como manifestações anormais de imagem do tórax.

A opacidade em vidro fosco foi o padrão mais frequente encontrado na TC de tórax, seguido por linhas irregulares. A consolidação pulmonar tem resolução quase completa pós-alta. Consolidação bilateral, linha subpleural e opacidade em vidro fosco foram quase totalmente absorvidos cerca de 5 meses após a alta. Nesse estudo, não houve relação do uso de corticoesteroides com a aceleração da recuperação de lesões pulmonares.

Os títulos de anticorpos neutralizantes foram significativamente menores no acompanhamento pós-alta do que durante o período sintomático e de internação. Contudo, mais de 90% dos participantes que realizaram amostra de plasma apresentaram resultado positivo para todos os anticorpos IgG no acompanhamento.

Com relação a manifestações de órgão extrapulmonares, foram observadas disfunções renais persistentes, diagnóstico recente de diabetes e tromboembolismo venoso.

Diante dos resultados encontrados, o estudo confirma que os pacientes com doença grave necessitam de cuidados após a alta hospitalar, pois as complicações físicas e psicológicas prejudicam mais os indivíduos que desenvolveram um quadro mais grave da doença.

 


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REFERÊNCIAS

HUANG, Chaolin et al. 6-month consequences of COVID-19 in patients discharged from hospital: a cohort study. The Lancet, [s. l.], v. 397, p. 220-232, 8 jan. 2021. Disponível em: <https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)32656-8/fulltext>. Acesso em: 13 jan. 2021.


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