Os cabelos possuem significativa importância na aparência e autoestima das pessoas e, por isso, a queda capilar pode atingir significativamente a qualidade de vida do indivíduo.
O vírus SARS-CoV-2 tem sido associado a manifestações dermatológicas, inclusive a queda capilar. Estima-se que cerca de 25% dos pacientes com Covid apresentem queda após o quadro. A queda atribuída à Covid é denominada eflúvio telógeno, que é uma alopecia difusa não cicatricial.
A perda de cabelo no eflúvio telógeno ocorre como resultado de uma mudança anormal no ciclo folicular, que leva à queda prematura do cabelo. Os fios passam da fase anágena – fase de crescimento – para fase telógena – fase de queda. Cerca de 85-90% dos nossos fios encontram-se normalmente na fase de crescimento. No eflúvio telógeno, devido a essa alteração no ciclo normal do fio, eles passam abruptamente para fase de queda. Consequentemente, ao invés de caírem 100-150 fios ao dia, como esperado, passam a cair até mais de 600 fios ao dia.
A própria infecção pelo vírus, com sua intensa produção de citocinas pró-inflamatórias, juntamente com o stress do quadro e algumas medicações utilizadas, como anticoagulantes, são os prováveis gatilhos do eflúvio telógeno. Além disso, tem-se estudado a possibilidade de formação de microtrombos na circulação do bulbo capilar.
O eflúvio telógeno costuma ocorrer cerca de 3 meses após o fator desencadeante. Porém nos casos de Covid tem-se visto essa queda com início em 2 semanas após o quadro infeccioso. A intensidade da queda varia em cada paciente, podendo chegar a 50% dos fios. Ainda não tem relação bem definida com a gravidade da infecção, ou seja, paciente que ficou hospitalizado não necessariamente tem mais chance de ter queda importante se comparado ao paciente com sintomas leves.
Ainda não se sabe em qual sexo a queda é mais intensa. Nota-se que o impacto psicológico da queda costuma afetar mais as mulheres, pois os fios costumam ser mais longos e, consequentemente, a queda mais perceptível.
O eflúvio telógeno costuma ter resolução espontânea em torno de 6 meses após seu início. Porém, normalmente costuma ser uma situação de angústia e sofrimento para o paciente. Então, hoje em dia temos várias opções de tratamento de suporte para ajudar o paciente a passar por essa fase, com o menor acometimento emocional possível. Nesse momento, mais do que médicos, precisamos ser um suporte emocional ao paciente.