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Day one: uma possível solução para a profissão médica

Day one: uma possível solução para a profissão médica
Bruno Rossini
jun. 6 - 6 min de leitura
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Como sabemos, nossa formação na graduação de medicina é essencialmente técnica e nada gerencial. Considero isso uma grande falha observada nos currículos contemporâneos. Podemos dizer que tive alguma sorte nesse aspecto pois, meio que sem querer, exerci o papel de empresário da minha banda musical durante o período em que estive na faculdade. Era minha responsabilidade fechar as apresentações, combinar os ensaios, coordenar a agenda, tentar conciliar conflitos, receber os pagamentos e distribuir os valores para os músicos. Essa foi a minha maior experiência gerencial durante a graduação e acredito que tenha ajudado no decorrer de minha carreira.

 Assim como acontece com grande parte dos colegas, ao fim de minha especialização, apesar de ter estudado muito durante a graduação e residência médica e me considerar com uma boa formação, não estava conseguindo encontrar o caminho profissional adequado a ser seguido. Nesse início, além de trabalhar muito, pois tinha cerca de sete empregos, fazia três plantões noturnos por semana e atendia por volta de 20 pacientes por período, ainda cursava a pós-graduação. A despeito de todo esse esforço, ganhava pouco e tinha um alto grau de risco e de estresse associados à minha atividade. A vida familiar e social havia sido deixada de lado por completo e não existia tempo algum para a realização de exercícios físicos. Percebia essa insalubre situação como crítica e insustentável e foi a parir dessa sensação que pensei em largar a medicina assistencial e me tornar gestor. Eu nunca antes havia imaginado essa mudança de rumo, uma vez que meu objetivo sempre fora atender aos pacientes. Isso me causava uma enorme angústia, mas, motivado pela esperança de atingir uma vida melhor, arregacei as mangas e comecei a estudar tópicos de gestão relacionada à saúde.

Nessa fase, lia ao menos um texto ao dia e fazia reuniões semanais com alguns colegas interessados em discutir o assunto. Ficava deslumbrado com os conceitos que me eram apresentados e ao absorver esses inéditos conhecimentos gerenciais, passei a compreender o que era valor, mercado e posicionamento, ideias que mudariam minha vida. Posso dizer que nesse momento tive meu “Day one”, isto é, meu grande insight, que ocorreu quando vislumbrei que era possível e inclusive necessário aplicar todos esses aprendizados em minha carreira de médico assistencial.

Acredito que o passo inicial para sairmos da nossa zona de conforto e traçarmos o nosso caminho para o sucesso é fazermos uma autorreflexão pensando o que queremos para nossa carreira. Isso pode parecer fácil, mas exige uma certa dedicação, força de vontade e planejamento. Eu compreendi que gostaria de atender com excelência, da forma que aprendi na minha querida faculdade na UNESP, em Botucatu. Percebi que para isso eu teria que reestruturar minha carreia, deixando aqueles empregos que não estavam alinhados com esse meu sonho.

O segundo passo, então, seria investir no aprendizado dessas novas habilidades. Creio que é preciso entender que noções de marketing, gestão, networking, recursos humanos, finanças e investimentos são fundamentais para o desenvolvimento de uma vida profissional mais realizadora. Não quero dizer com isso que todos os colegas devam ter um diploma de MBA para gerir a carreira e o consultório, mas sim que devemos assimilar alguns conceitos fundamentais de forma a facilitar nossa vida. Considero este um grande paradigma na vida do médico autônomo: gerenciar mais e atender menos, porém de forma mais eficiente para todos os players envolvidos. Sugiro que deixemos cerca de 40% de nosso tempo útil para novos aprendizados e gestão da carreira e em torno de 60% para os atendimentos propriamente ditos.

Com essa filosofia, conseguimos desenvolver a OTOVITA, um consultório não dependente de convênios, buscando sempre a excelência e mantendo um atendimento o mais artesanal possível. Sabemos que ainda não atingimos o sucesso pleno, mas acredito que estamos no caminho certo e no devido momento chegaremos ao ápice da carreira.

A partir de então, além de começar a desenvolver uma carreira mais sustentável e sentir-me mais realizado, me identifiquei de tal forma com o tema que passei a ministrar aulas, buscando ajudar a outros médicos a se organizarem profissionalmente. Seguindo essa ideia de propagar tais conhecimentos gerenciais e ligados ao empreendedorismo para nossa classe, em 2017 tive a honra de ser presidente do comitê de Defesa Profissional da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervico Facial (ABORL-CCF )e, além de outras ações, montei um curso com 60 aulas on-line com o objetivo de orientação e planejamento da carreira médica. Esse está disponível gratuitamente tanto para os associados da ABORL-CCF quanto para os graduandos de medicina de todo Brasil. Fico muito feliz em dizer que os feedbacks estão sendo muito positivos.

Acredito, portanto que, nós médicos, devamos aprender a nos posicionar corretamente, nos negar a trabalhar em condições insalubres, assim como receber honorários inescrupulosos. Ao conseguirmos criar essa mentalidade em boa parte dos nossos colegas, nos sentiremos mais íntegros, felizes, bem remunerados e conseguiremos melhorar não só a nossa carreira, mas também oferecer um cuidado a saúde mais integral a todos os nossos pacientes. Acredito ainda que, em médio prazo, a melhora nesse cuidado para com o paciente pode sim elevar o nível da saúde de todo nosso país.

E você, o que pensa sobre isso?

Abraço forte.

 

Dr. Bruno Rossini, médico otorrino e fundador da clínica Otovita (www.otovita.com.br)


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