A hipertensão em crianças, apesar de apresentar uma prevalência de cerca de 3%, carrega um risco significativo de condições graves na idade adulta, como insuficiência renal e doenças cardiovasculares. Surpreendentemente, estudos indicam que menos de 25% das crianças afetadas são identificadas durante consultas pediátricas, e até 60% não recebem nenhuma intervenção após a detecção da hipertensão. Esta lacuna na implementação das diretrizes da Academia Americana de Pediatria, que recomenda a triagem de hipertensão a partir dos 3 anos de idade, sugere uma necessidade de explorar mais profundamente as percepções de pais e profissionais de saúde primária.
Uma pesquisa publicada dia 13 de dezembro de 2024, em JAMA Network Open, buscou preencher essa lacuna investigando como os pais e os clínicos de atenção primária percebem a hipertensão pediátrica em ambientes clínicos diversos, com atenção aos determinantes sociais da saúde. O estudo descobriu que, embora exista uma consciência sobre a importância do tratamento da hipertensão pediátrica, há uma desconfiança significativa nas medições de pressão arterial (PA) em clínicas. Os médicos muitas vezes minimizam leituras elevadas de PA e a natureza assintomática da hipertensão, o que contribui para a falta de priorização e cuidado subsequente.
Os pais demonstraram ter um conhecimento considerável sobre hipertensão, geralmente baseado em experiências pessoais ou familiares, reconhecendo o potencial de danos futuros aos órgãos ou a natureza insidiosa da hipertensão como um "assassino silencioso". No entanto, este conhecimento muitas vezes impede que eles façam perguntas quando a hipertensão é detectada em seus filhos, perdendo oportunidades para uma educação adicional. Curiosamente, tanto pais quanto clínicos expressaram uma forte preferência por intervenções não farmacológicas, refletindo preocupações com efeitos adversos de medicamentos e impactos a longo prazo.
Este estudo também destaca uma disparidade entre os desejos dos pais por testes diagnósticos abrangentes e a preferência dos clínicos por encaminhar os pacientes a especialistas. Além disso, a pesquisa revela que os pais insistem em verificações regulares da PA durante exames físicos anuais, devido ao histórico familiar e experiências pessoais com hipertensão, sublinhando a importância da detecção precoce e das modificações no estilo de vida.
Os resultados sugerem a necessidade de programas educacionais voltados tanto para pais quanto para clínicos para melhorar as estratégias de comunicação, construir confiança e aprimorar habilidades em aconselhamento de estilo de vida e gestão da hipertensão. As diretrizes de hipertensão pediátrica devem ser atualizadas para incorporar perspectivas de pais e clínicos de atenção primária, especialmente em relação a discrepâncias na priorização de testes e uso de medicamentos, enquanto promovem a intervenção no estilo de vida.
Em suma, a compreensão das perspectivas de pais e clínicos é crucial para melhorar a detecção e o manejo da hipertensão pediátrica. Estratégias de colaboração e comunicação personalizadas dentro dos sistemas de saúde podem preencher lacunas de conhecimento e otimizar o cuidado da hipertensão pediátrica, melhorando as taxas de detecção de hipertensão e os resultados para os pacientes, reduzindo assim os riscos à saúde a longo prazo associados à hipertensão pediátrica.
Referência:
Zaidi AH, Sood E, De Ferranti S, et al. Parent and Primary Care Clinician Perceptions About Pediatric Hypertension. JAMA Netw Open. 2024;7(12):e2451103. doi:10.1001/jamanetworkopen.2024.51103