Um estudo publicado na revista Brain revelou um avanço promissor na detecção precoce da Doença de Parkinson por meio de uma assinatura genética observada em células do sistema imunológico presentes no sangue. A pesquisa foi conduzida pela Université de Montréal, Martine Tétreault.
Tradicionalmente associada ao sistema nervoso central, a Doença de Parkinson tem ganhado uma nova dimensão de entendimento com os avanços que sugerem forte envolvimento do sistema imunológico em sua origem e progressão. Essa nova linha de investigação abre portas para diagnósticos menos invasivos e potencialmente mais precoces, além de terapias mais direcionadas.
Um dos principais diferenciais da pesquisa foi o uso da tecnologia de sequenciamento de RNA em célula única (single-cell RNA-seq). Essa técnica permite analisar a expressão gênica em nível celular, possibilitando a identificação precisa dos subtipos celulares e seus padrões de ativação.
Com essa abordagem, os pesquisadores identificaram que células imunes do sangue periférico de pacientes com Parkinson apresentavam ativação aumentada e superexpressavam genes relacionados a respostas ao estresse celular.
“Conseguimos observar, em nível individual, como determinadas células do sistema imune estavam mais ativas e expressavam genes que não eram comuns em indivíduos saudáveis. Esses genes formam o que chamamos de assinatura da doença”, explica Tétreault.
Diagnóstico diferencial e novos biomarcadores
Ao analisar amostras de sangue de 14 pacientes com diagnóstico confirmado de Parkinson, 6 pacientes com síndromes parkinsonianas atípicas (como a paralisia supranuclear progressiva — PSP — e a atrofia de múltiplos sistemas — MSA), e 10 indivíduos saudáveis, os pesquisadores demonstraram que a assinatura genética identificada foi capaz de diferenciar pacientes com Parkinson de pacientes com síndromes similares.
Esse achado é altamente relevante, considerando a dificuldade diagnóstica entre Parkinson e síndromes parkinsonianas, especialmente nos estágios iniciais.
“Esses biomarcadores podem aprimorar a confiabilidade do diagnóstico e também ajudar na seleção de pacientes para ensaios clínicos que testam novos medicamentos”, completa a pesquisadora.
Outro legado da pesquisa é a criação de um atlas completo dos subtipos celulares do sistema imunológico, tanto em indivíduos saudáveis quanto em pessoas com Parkinson. Esse material agora está sendo disponibilizado a outros cientistas, como recurso valioso para estudos futuros.
O estudo representa um importante passo em direção a um teste diagnóstico não invasivo baseado em amostra de sangue, algo que hoje não está disponível de forma confiável para a Doença de Parkinson. Além disso, a capacidade de diferenciar a doença de outras condições neurodegenerativas similares pode evitar tratamentos equivocados e permitir intervenções mais adequadas e precoces.
Segundo estimativas recentes, cerca de 110 mil canadenses viviam com Parkinson em 2024, número que pode subir para 150 mil até 2034. Avanços como este podem mudar o panorama do diagnóstico e tratamento da doença nas próximas décadas.
Referência:
University of Montreal Hospital Research Centre (CRCHUM). "Diagnosing Parkinson's using a blood-based genetic signature." ScienceDaily. ScienceDaily, 28 May 2025. <www.sciencedaily.com/releases/2025/05/250528174935.htm>.