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Doenças respiratórias e saúde da mulher

Doenças respiratórias e saúde da mulher
GEPRAPS - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA RESPIRATÓRIAS NA APS
mar. 22 - 8 min de leitura
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As diferenças entre os sexos nas doenças são generalizadas e podem influenciar o risco, a prevalência, a gravidade, a resposta ao tratamento e muitos outros aspectos relacionados à avaliação e manejo. Abordagens específicas de gênero para cuidados e pesquisas para entender melhor as diferenças biológicas subjacentes em doenças em homens e mulheres são essenciais para melhorar os resultados em todos os pacientes.

A resposta das vias aéreas às toxinas (fumaça de cigarro, combustíveis de biomassa e poluentes ambientais) costuma diferir entre os sexos. Este fato se fundamenta nos efeitos dos hormônios femininos no desenvolvimento e tamanho do pulmão, na regulação de receptores e vias bioquímicas e na hiperresponsividade e inflamação das vias aéreas. Essas diferenças parecem aumentar a predisposição de meninas e mulheres pós-púberes à asma, DPOC e câncer de pulmão, além de algumas infecções respiratórias e doenças pulmonares infiltrativas.

Além disso, gênero (papéis sociais) expõe meninas e mulheres a níveis mais altos de toxinas do combustível de biomassa usados para cozinhar e a gatilhos químicos e ocupacionais específicos. As mulheres podem ter diferenças na expressão dos sintomas, progressão da doença e padrões de comorbidade (por exemplo, depressão e osteoporose). Esse fato, associado à falha na avaliação dos sintomas, pode explicar parcialmente o viés de gênero no diagnóstico de doenças respiratórias.

Tabagismo

Atualmente , as mulheres fumam tanto quanto os homens. No entanto , apresentam um risco aumentado para desenvolver doenças cardíacas relacionadas ao tabagismo ou morrer de DPOC. A perda da função pulmonar por idade é maior em mulheres fumantes do que nos homens. As mulheres parecem ser mais suscetíveis aos efeitos do tabaco no início e durante a evolução da doença pulmonar, especialmente na DPOC e no câncer.   Além disso , elas tendem a não revelar o comportamento de fumar e os profissionais de saúde, por sua vez são menos propensos a perguntar a meninas e mulheres não grávidas sobre tabagismo e exposição ao fumo passivo.

É de suma importância que os profissionais de saúde não percam a oportunidade de perguntar durante a consulta sobre o hábito de fumar, bem como sobre a exposição ao tabagismo passivo, além de ofertar o aconselhamento para cessação do tabagismo e tratamento sempre que necessário. Parar de fumar é a intervenção mais importante para diminuir a taxa de declínio da função pulmonar, sendo essa vantagem muito mais evidente para as mulheres que para os homens. Outro fato importante é que as taxas de recaídas e os níveis da dependência de nicotínica nas mulheres podem ser mais elevadas, além de mais sintomas depressivos e de abstinência. 

DPOC

A prevalência da DPOC entre as mulheres há tempos se igualou aos homens em todo o mundo, em decorrência do aumento do uso de tabaco e da exposição a combustíveis de biomassa.  Há evidências de suscetibilidade ao fumo e outros contaminantes do ar, juntamente com manifestações epidemiológicas e fenotípicas. Este fato fez com que a doença se tornasse a principal causa de morte em mulheres nos EUA.

No Brasil , há uma tendência de aumento das taxas de mortalidade por DPOC entre as mulheres. A progressão da doença é mais rápida em mulheres, com maior dispneia e menor tolerância à atividade para o mesmo nível de função pulmonar em comparação aos homens, resultando em menor qualidade de vida.

Mulheres com DPOC também apresentam níveis mais elevados de depressão, ansiedade e osteoporose. Por outro lado, costumam ter menor probabilidade de comorbidades cardiovasculares, que é a causa de sua menor mortalidade em comparação com os homens, apesar de um quadro clínico geral pior. Explicações para essas diferenças envolvem o papel desempenhado pelos estrogênios, troca gasosa prejudicada nos pulmões e hábitos tabágicos . 

Embora as diferenças exijam respostas terapêuticas adequadas (cessação do tabagismo, reabilitação pulmonar, oxigenoterapia de longo prazo), as barreiras ao tratamento de mulheres com DPOC incluem maior subdiagnóstico do que nos homens, bem como a falta de exames de espirometria. Esta realidade nos obriga a considerar mudanças epidemiológicas para aumentar o diagnóstico e o tratamento precoce da DPOC nas mulheres.

Asma

A asma é 20% mais frequente em mulheres do que em homens com mais de 35 anos. As alterações hormonais podem afetar a asma durante a gravidez e em momentos específicos durante o ciclo menstrual. As mulheres também podem ter maior exposição relacionada ao gênero a fragrâncias domésticas, ocupacionais e desencadeadores químicos relacionados a cosméticos, além de fatores psicológicos.

O uso de biomassa e combustíveis sólidos também aumenta o risco de asma. O padrão de aumento da asma em meninas após a puberdade é baseado em parte na influência dos hormônios sexuais em sua fisiopatologia inflamatória. O gerenciamento da doença que leva em consideração os fatores de sexo e gênero podem resultar em melhoria do estado de saúde, redução do uso de medicamentos de resgate e melhoria da qualidade de vida.

Sendo assim, é muito importante que os profissionais de saúde reservem um tempo para conversar com o paciente, pensando sobre sexo e questões de gênero, bem como comorbidades que podem afetar seu autogerenciamento, como por exemplo responsabilidades de cuidador que podem atrasar a procura de cuidados.

Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS)

A SAOS é mais comum em homens do que em mulheres e as diferenças biológicas são importantes nas variações anatômicas, nos padrões de obesidade e no controle respiratório. Dado IMC e idade iguais, as mulheres têm interrupções de sono mais frequentes e um maior número de episódios de SAOS na fase REM. Todavia, os homens têm maior probabilidade de serem diagnosticados ou encaminhados para investigação adicional de SAOS. Converse com as mulheres e seus parceiros sobre ronco e sonolência diurna para avaliar a possibilidade de SAOS.

Câncer de pulmão

A prevalência de câncer de pulmão entre as mulheres aumentou exponencialmente em todo o mundo e a mortalidade por câncer de pulmão em mulheres ultrapassou a mortalidade anual por câncer de mama, enquanto as taxas de mortalidade por câncer de pulmão têm diminuído em homens. Importante considerar que tal como a DPOC, câncer de pulmão não é uma doença de velhos, sendo importante o diagnóstico considerar o diagnóstico diferencial de câncer de pulmão em mulheres fumantes com sintomas respiratórios e naquelas expostas ao uso de combustível de biomassa.

Referências:

  1. https://www.brighamandwomens.org/lung-center/advances-newsletters/gender-specific-care-program-for-women-with-pulmonary-diseases

  2. https://www.ipcrg.org/resources/view-all-resources/desktop-helper-1-women-and-respiratory-disease-%E2%80%93-a-sex-and-gender

  3. McAfee T, Burnette D. The impact of smoking on women's health. J Womens Health (Larchmt). 2014 Nov;23(11):881-5

  4. Gut-Gobert C, Cavaillès A, Dixmier A, Guillot S, Jouneau S, Leroyer C, Marchand-Adam S, Marquette D, Meurice JC, Desvigne N, Morel H, Person-Tacnet C, Raherison C. Women and COPD: do we need more evidence? Eur Respir Rev. 2019 Feb 27;28(151):180055. 

  5. Torres KDP, Cunha GM, Valente JG. Trends in mortality from chronic obstructive pulmonary disease in Rio de Janeiro and Porto Alegre, Brazil, 1980-2014. Epidemiol Serv Saude. 2018 Sep 21;27(3):e2017139.

Autora: 


O GEPRAPS é um grupo interdisciplinar e multidisciplinar de profissionais da saúde, que desenvolvem trabalhos e reflexões sobre as situações relacionadas às Doenças Respiratórias Crônicas – DRCs no Brasil .O principal objetivo do grupo é apoiar as boas práticas assistenciais, a educação permanente, o desenvolvimento multiprofissional continuado e a pesquisa respiratória na Atenção Primária a Saúde, com enfoque nas linhas de cuidado das Doenças Respiratórias Crônicas e Tabagismo.

Para mais informações, clique aqui. Ou acesse @gepraps




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