Muito me impressiona a diferença de visão médica entre minha geração e a que tenho o prazer de conviver saindo da faculdade nos dias de hoje.
Aprendemos, eu e meus colegas, no final do século passado, a reter conhecimento. Era dupla a motivação: o acesso a informação era arcaico e demorado e nossos professores à época foram forjados no sistema analógico. Andar com livros embaixo do braço não era algo simples e os docentes ensinavam como aprenderam.
As gerações de médicos que se formam agora nasceram na Idade da Internet, mamaram assistindo YouTube e sabem usar os recursos digitais como ninguém.
Isso é ótimo em vários aspectos. O principal, ao meu ver, é a incrível capacidade de utilizar os recursos cerebrais para buscar o conteúdo necessário na grande nuvem que todos nós vamos nutrindo diuturna e constantemente (esse texto é exemplo tanto da busca quanto do banco de dados).
O contraponto, no entanto, provém do fato de sermos pessoas lidando com pessoas. Não podemos somente ser a personificação do Google ou uma Siri com órgãos e CRM.
Mesmo com a possibilidade de termos a informação ao alcance de um acesso ao www, precisamos (1) montar um raciocínio lógico que nos permita fazer a pergunta certa aos oráculos e, principalmente, (2) usarmos nossa humanidade ao atendermos, escutarmos, tocarmos e nos acompaixonarmos pela pessoa que ali na nossa frente está.
Não há como buscar isso na grande rede. As escolas médicas deveriam trabalhar exaustivamente o trato. O fino trato e não só o como eu trato.
No fundo, por mais piegas que uns possam pensar, precisamos todos promover o uso dessa tal de energia - muitos chamariam de amor - para exercício da Arte de Esculápio.
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