A gravidez é uma jornada única que engloba transformações profundas no corpo feminino. Além dos evidentes sinais físicos e sintomas conhecidos, pesquisadores têm se debruçado sobre as mudanças epigenéticas - aquelas que afetam a expressão dos genes sem alterar a sequência do DNA - decorrentes desse processo. Um estudo publicado em 22 de março de 2024 na revista Cell Metabolism, e discutido num artigo da revista Nature na mesma data, revela que a gravidez acelera a idade biológica, mas, surpreendentemente, esse avanço parece ser temporário, revertendo-se alguns meses após o parto.
No estudo, os cientistas focaram na análise de grupos metila adicionados ao DNA, um processo conhecido como metilação, que é uma das características do epigenoma. Estas modificações podem alterar a atividade dos genes sem mudar o código genético subjacente e são usadas para estimar a "idade biológica" de uma pessoa, que reflete o acúmulo de estresses fisiológicos ao longo do tempo. Esta medida de idade tem se mostrado um preditor mais acurado para diversas condições de saúde, como doenças cardiovasculares e demência, do que a idade cronológica.
O estudo em questão não só confirmou resultados anteriores observados em modelos animais, mas também expandiu o entendimento sobre a flexibilidade da idade biológica, que pode aumentar ou diminuir em resposta a diferentes condições de vida. Segundo Vadim Gladyshev, cientista biomédico da Harvard Medical School e um dos autores do estudo anterior, a idade biológica é um parâmetro fluido, que demonstrou decréscimo após a gravidez em roedores, sugerindo um potencial efeito semelhante em humanos.
O aspecto inovador do novo estudo é a constatação de que, embora a gravidez avance a idade biológica, este processo é reversível. No entanto, a pesquisa também identificou que nem todas as pessoas se recuperam da gravidez da mesma maneira. Aquelas no limiar da obesidade antes da gravidez apresentaram uma redução menor na idade biológica nos três meses após o parto, comparadas àquelas com peso considerado normal. Além disso, a amamentação exclusiva mostrou-se um fator que contribui para uma maior redução da idade biológica.
Os resultados apontam para uma complexa interação entre gravidez, estado metabólico e práticas de amamentação na determinação das mudanças na idade biológica. Ainda assim, os autores alertam que essas descobertas não devem ser motivo de preocupação. As variações na idade biológica observadas são relativamente pequenas, e a gravidez não deve ser vista como um problema biológico, independentemente da capacidade de recuperação pós-parto.
A pesquisa abre caminhos para novos estudos sobre gravidez e envelhecimento, sugerindo a necessidade de desenvolver novos termos e abordagens para compreender as mudanças epigenéticas associadas a esse período. O estudo reforça a ideia de que a gravidez, embora desafiadora, é um processo natural com impactos temporários sobre a saúde da mulher, destacando a importância de abordagens de cuidado que considerem a complexidade das transformações vividas durante e após esse período.
Referência:
Sidik, S. (2024, March 22). Pregnancy advances your ‘biological’ age — but giving birth turns it back. Nature. https://www.nature.com/articles/d41586-024-00843-w